Romano Torres https://romanotorres.fcsh.unl.pt um arquivo histórico representativo da edição contemporânea Wed, 09 Jul 2014 10:55:47 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=5.9.7 Três gerações de fãs: texto inédito de Cecília Barreira https://romanotorres.fcsh.unl.pt/?p=14014 https://romanotorres.fcsh.unl.pt/?p=14014#respond Wed, 09 Jul 2014 09:58:36 +0000 http://fcsh.unl.pt/chc/romanotorres/?p=14014 O meu pai e a Romano Torres

O meu pai nasceu em 1930. Havia uma biblioteca proveniente do pai dele, que tinha muitas edições da editora Romano Torres.

O meu avô nasceu em 1890 e, na sua juventude, usufruiu das narrativas de ficção da Romano Torres.

A editora era profundamente popular para os jovens nascidos até aos anos 40, 50 do século XX até porque continha história universal, romance de aventuras e até biografias históricas.

O meu pai chegou a dizer-me que tinha adorado as aventuras de Sandokan de E. Salgari. Também tinha lido Alexandre Dumas, Walter Scott, Dickens, Zola.

O famoso livro A cabana do pai Tomás, ainda passou para mim, apesar de eu ter nascido nos finais dos anos 50.

Do lado do meu pai, sei que ele teria lido a colecção inteira de “Manecas” para o público infantil.

Apesar das diferenças de idades eu li, em muito jovem, Odette de Saint-Maurice.

Mais tarde, nos anos 90, tive oportunidade de lhe fazer uma entrevista onde recordámos a sua extensa bibliografia.

Sem dúvida que a colecção Romano Torres foi mais importante para o meu pai e para o meu avô, do que para mim própria: em muito pequena eu lia a colecção dos 5 e a dos 7, mas, no início da puberdade, quer os romances históricos, quer os romances sentimentais, eu li-os praticamente todos.

Depois, com os 13 e os 14 anos, vieram livros provavelmente mais densos, mas nunca desdenhei daquela panóplia de romances simples que a Romano Torres acabou por dar a três gerações da minha família.

Cecília Barreira / FCSH / UNL

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Os arquivos das editoras da Toscânia: materiais do censo regional https://romanotorres.fcsh.unl.pt/?p=14004 https://romanotorres.fcsh.unl.pt/?p=14004#respond Mon, 30 Jun 2014 15:05:26 +0000 http://fcsh.unl.pt/chc/romanotorres/?p=14004 Neste breve texto exponho algumas considerações relativas à obra “Gli archivi degli editori toscani. Materiali dal censimento regionale” dos autores Luca Brogioni e Aldo Cecconi.

Este livro primeiro volume da série “Toscana. Bibliotecas e Arquivos”, é o resultado de uma extensa pesquisa nos arquivos dos editores da região italiana da Toscânia. Olhando não só para profissionais, mas para um amplo público de leitores, o livro oferece um vasto panorama sobre a documentação de bibliotecas e arquivos, preservada pelos editores da Toscânia.

Em 2001, a região da Toscânia confiou à Fondazione Mondadori de Milão, a realização de um recenseamento nos arquivos e bibliotecas das editoras. Este projecto foi realizado em colaboração com o Ministério do Património e da Cultura e da Associação dos editores italianos, e representa um marco significativo na preservação da memória do trabalho editorial. A pesquisa começou a partir de dados contidos no catálogo de editores italianos (edição de 2001). O recenseamento é dirigido a todos aqueles que publicam livros, não só empresas mas também a entidades públicas e privadas, associações e cooperativas. Foram identificados e contactados mais de 320 editores e mais de 140 deles responderam aos questionários e concordaram com entrevistas e visitas ao local. Esta iniciativa foi bem recebida pelos editores, que se mostraram disponíveis para a implementação deste projecto. Para muitos editores, este foi um primeiro contacto com as instituições públicas, que por sua vez manifestara um interesse unânime no sentido de promover a inovação e o crescimento do sector editorial.

Esta publicação apresenta os dados deste levantamento que são muito significativos e testemunham a vitalidade da indústria editorial toscana, que ocupa o terceiro lugar na Itália no respeitante ao número total de editores.

O panorama editorial da Toscânia é caracterizada pela presença de micro e pequenas editoras, com uma produção destinada à recuperação da memória do território e à valorização do património artístico, para darem voz aos pensamentos e estudos de circuitos locais.

Os arquivos das editoras não estão sujeitas às exigências de conservação, a menos que tenham sido declarados de interesse cultural ou pertencentes a entidades públicas. Muitos editores, ao cessarem as suas actividades, são absorvidos por grandes grupos editoriais estabelecidos em outras regiões de Itália.

Apenas um pequeno número de editoras ou grupos editoriais têm, ou podem manter um arquivo histórico, ou seja, uma estrutura específica dedicada à preservação permanente da documentação.

Em suma, com este inventário dos arquivos das editoras na Toscânia, espera-se ter contribuído para desenvolver uma maior consciência da herança cultural e da importância da colaboração entre o sector público e privado para a conservação da documentação dos arquivos.

Notas sobre os autores:

Luca Brogioni formou-se em Literatura na Universidade de Florença, com uma tese em Biblioteconomia e Bibliografia e trabalhou na indústria de computadores. Editou e colaborou em catálogos e arquivos para o repertório do século XIX Publishers italianos, Milan, Franco Angeli, 2004.

Aldo Cecconi é Director do Arquivo Histórico de Giunti Editore

Referência Bibliográfica:

Autores: Luca Brogioni e Aldo Cecconi | Título do livro: Gli archive degli editori toscani. Materiali dal consimento regionale | Editor: Pacini Editore | Série: Toscana. Bibliotecas e Arquivos | Idioma: Italiano | Data da Publicação: Novembro 2010 | ISBN-10: 8863151296 | ISBN-13: 978-88-6315-129-9 | N.º pág. 376 | Cota CHC: Biblioteca Prof.º Silva Dias, UNL/CHC, L1ARC1

 

Patrícia Cordeiro 30-06-2014

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Novos dossiês sobre editores e livreiros https://romanotorres.fcsh.unl.pt/?p=13973 https://romanotorres.fcsh.unl.pt/?p=13973#respond Mon, 02 Jun 2014 17:32:07 +0000 http://fcsh.unl.pt/chc/romanotorres/?p=13973 Os volumes 31 e 32 da Cultura – Revista de história e teoria das ideias, do Centro de História da Cultura, serão lançados na próxima quinta-feira, dia 5 de Junho, às 18h, na Praça Laranja da Feira do Livro de Lisboa. A apresentação estará a cargo de José Esteves Pereira, Luís Manuel Bernardo, Adelino Cardoso e Daniel Melo, coordenador do projecto Romano Torres.

De realçar que o volume 31 conta com o 2.º dossiê submetido ao tema “As editoras e o seu património”, com testemunhos de Carlos Veiga Ferreira, Fernando Paulouro Neves e Francisco Pedro Lyon de Castro, os quais participaram nos 2.º e 3.º encontros homónimos. Esse dossiê também inclui um resumo das intervenções de Vasco Silva e Arnaldo Saraiva.

Quanto ao volume 32, conta com os testemunhos escritos de Fátima Ribeiro de Medeiros e dos antigos livreiros da Sá da Costa (Noémia Batalha, Susana Pires, Pedro Oliveira, Salomé Gonçalves e António Esteves), que participaram no 1.º encontro sobre “Os livreiros e o seu património”.

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A descoberta duma nova ilustração de Almada https://romanotorres.fcsh.unl.pt/?p=13956 https://romanotorres.fcsh.unl.pt/?p=13956#respond Wed, 28 May 2014 12:22:05 +0000 http://fcsh.unl.pt/chc/romanotorres/?p=13956 Almada artigoJPEGFazemos aqui uma revelação que agradará aos apreciadores de Almada Negreiros e dos modernistas. A Romano Torres tem uma ilustração sua, pelo menos! E publicou-a como capa do livro O fantasma branco, de Reinaldo Ferreira, de 1926 (segundo a Porbase). A imagem ao lado reproduz a ilustração original, que digitalizámos para a base do Arquivo Histórico da Romano Torres (vd. aqui). O curioso é que na capa desse «romance de aventuras» não consta a assinatura de Almada (cf. aqui).

Seja como for, asseguramos que a assinatura é de Almada, a partir do confronto com outras ilustrações do autor, de 1911 a 1914 (Vieira, 2010: 19 e 35). O que nos leva a concluir que esta ilustração terá sido feita vários anos antes da publicação daquele livro. Provavelmente foi doada pelo próprio ao seu amigo Reinaldo Ferreira (vd. verbete a este autor na subsecção de autores).

Na ante-folha de rosto do exemplar detido pelo Alfarrabista Roma vem uma dedicatória a José Sarmento, com data de 1926.

Outra hipótese que avançamos é a de que Almada poderá ter feito a ilustração que serviu de capa a outra obra de Reinaldo Ferreira publicada pela Romano Torres, Punhaes misteriosos, de 191-.

Na colecção dedicada a este conhecido escritor e repórter de Lisboa, intitulada «Leituras modernas», existe uma 3.ª obra cuja ilustração de capa é assinada, mas sendo da autoria de Alfredo Morais. Trata-se do livro As chaves do paraizo, de 1926, datação também segundo a Porbase.

Embora Almada não tenha sido um colaborador ‘oficial’ da editora, entendemos que seria útil incluir um verbete para Almada na subsecção dedicada aos ilustradores, de modo a podermos fornecer informação complementar.

Daniel Melo © 2014

Bibliografia:

*VIEIRA, Joaquim (2010), Almada Negreiros fotobiografias século XX, Lisboa, Temas e Debates.

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Apreenderam o livro errado! https://romanotorres.fcsh.unl.pt/?p=13909 https://romanotorres.fcsh.unl.pt/?p=13909#respond Fri, 16 May 2014 10:50:40 +0000 http://fcsh.unl.pt/chc/romanotorres/?p=13909 vlcsnap-2014-05-16-14h15m01s28Um caso inusitado que envolve a Romano Torres foi recentemente relembrado pelo escritor e jornalista Artur Portela, em tertúlia sobre a censura [1].

A história conta-se em poucas palavras: o livro de estreia de Artur Portela, Feira das vaidades, de 1959, tinha o mesmo título do romance do romântico inglês William Thackeray, publicado pela Romano Torres. Tendo o livro de Portela sido proibido de circular pela censura de Salazar, foi apreendido pela polícia política, já em 1960 [2]. Sucede que os agentes que foram às livrarias se enganaram e começaram a confiscar exemplares do livro editado pela Romano Torres, tendo criado uma irónica confusão.

Este caso surge gostosamente contado pelo mesmo Artur Portela no documentário Lápis azul, realizado por Rafael Antunes em 2012. Uma parte desse relato é acompanhada por uma breve animação muito interessante. Por cortesia do cineasta, divulgamos aqui esse curto trecho do documentário [3].

A Romano Torres fez a sua 1.ª edição do romance de Thackeray em 1946, sendo a 2.ª edição de 1953. O romance foi traduzido por Leyguarda Ferreira e acompanhado por uma análise à produção desse autor por Gentil Marques. Curiosamente, uma tradução anterior desse romance para outra editora fora feita por um colaborador da Romano Torres, Eduardo de Noronha.

O livro de Artur Portela foi editado pela Atlântida, de Coimbra. A continuação foi já editada pela Ática, de Lisboa. Artur Portela é também conhecido como , para diferenciar de seu pai, Artur Portela, também ele um jornalista colaborador do Diário de Lisboa.

Daniel Melo © 2014

 

 

Bibliografia:

Thackeray, William M., Feira das vaidades: romance; versão livre do original inglês de Leyguarda Ferreira; precedido duma pequena história da literatura inglesa de William Thackeray por Gentil Marques. – Lisboa: João Romano Torres, imp. 1946. – 346, [4] p. 20 cm. – (Obras escolhidas de autores escolhidos; 5).
Localização: B.R. 3267 – 000724/2013, L. 37378 P. – 000725/2013, BC 3620 – 000726/2013 [BNP]

Thackeray, William M., Feira das vaidades: romance; versão livre do original inglês de Leyguarda Ferreira; precedido de uma “pequena história de literatura inglesa até William Thackeray” por Gentil Marques. – 2.ª ed. – Lisboa: Romano Torres, 1953. – 293, [11] p. 20 cm. – (Obras escolhidas de autores escolhidos; 5).
Localização: L. 42094 P. – 000905/2013, L. 95329 P. – 000906/2013, 820 THA VA – 000907/2013 [BNP]

Portela Filho, Artur, Feira das vaidades. – Coimbra: Atlântida, 1959. – 185 p., [1] f. ; 17 cm. – (Centauro; 6).
Localização: L. 50122 P. [BNP]

Portela Filho, Artur, Nova feira das vaidades. – Lisboa: Ática, 1960. – 181 p., [3] f. ; 17 cm.
Localização: L. 51624 P. [BNP]

 

Outras fontes informativas:

Sítio de internet Lápis azul, do cineasta Rafael Antunes, relativo ao projecto homónimo, com menção directa ao caso aqui.

 


[1] A tertúlia, intitulada «As marcas que a censura nos deixou», decorreu na Casa da Covilhã no serão de 24 de Abril de 2014 e contou com as intervenções de Rafael Antunes (realizador do filme de ficção e do documentário Lápis azul), do autor deste post e de Anselmo Crespo (jornalista da SIC e moderador), além do Artur Portela. Esta sessão foi organizada pelo grupo cultural As Gaiatas em Lisboa.

[2] A crer na primeira data extrema do processo específico constante no Fundo do SNI (“Apreensão do livro «Feira das Vaidades»”, PT/TT/SNI-DSC/19/265), à guarda da Direcção-Geral de Arquivos.

[3] O documentário Lápis Azul, de Rafael Antunes, foi feito no âmbito da dissertação de mestrado em Etudos Cinematográficos da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.

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Zeco, artista português que singrou no Brasil https://romanotorres.fcsh.unl.pt/?p=13880 https://romanotorres.fcsh.unl.pt/?p=13880#respond Fri, 09 May 2014 11:21:17 +0000 http://fcsh.unl.pt/chc/romanotorres/?p=13880 Zeco

Imagem do blogue Zeco, o desenhador sem alarde

A nossa equipa de investigação está neste momento a trabalhar as centenas de ilustrações originais do espólio de Francisco Noronha Andrade. Neste contexto, a cada dia fazemos pequenas descobertas sobre a Romano Torres. Desta feita, deparámo-nos com desenhos de um ilustrador que até agora não sabíamos ter colaborado com a editora: José Borges Correia, mais conhecido por Zeco. Embora tenhamos acesso aos seus desenhos (que disponibilizámos online no arquivo histórico), ainda não nos foi possível identificar a obra em que se inserem. No entanto, e como o Mundial do Brasil está à porta, destacamos aqui a biografia de Zeco, que passou grande parte da sua vida nesse país. Aí destacou-se como artista e empresário, tendo criado uma das primeiras agências publicitárias do país.

José Borges Correia
(Lisboa, 1915 – Belém do Pará, 1993)

     Filho de Aníbal Borges da Silva Correia e Maria das Dores Coutinho Correia, José Borges Correia, mais conhecido por Zeco, foi desenhador e caricaturista.

     Em 1933, com 18 anos, Zeco e dois amigos penduraram as suas obras nas paredes da sucursal de O Século, no Rossio, o que foi visto como um gesto ousado mas bem-sucedido, visto que as caricaturas de Zeco, entre as quais havia uma de Salazar, acolheram elogios junto do público. Certo é que no ano seguinte O Século patrocinava nova exposição de Zeco, desta feita oficial.

     Em 1937, entrou para o Grupo de Humoristas Portugueses pela mão do escritor Albino Forjaz de Sampaio.

Curiosamente, em 1942 fez um retrato de Guerra Junqueiro para ilustrar uma palestra de Luís de Oliveira Guimarães, destacado autor da Romano Torres com várias obras, entre as quais O espírito e a graça de Guerra Junqueiro (apenas dispomos do registo da edição de 1968, embora pensemos que a primeira edição seja de 1957). Resta saber se o retrato foi utilizado para a capa da primeira edição, já que a segunda conta apenas com uma fotografia. De qualquer forma, terá sido pela mão de Luís de Oliveira Guimarães que colaborou com a Romano Torres. Disponibilizamos no arquivo histórico um conjunto de imagens com a sua assinatura, mas ao qual não conseguimos atribuir a obra, ou obras, onde foi inserido.

Em Portugal, desenhou para vários periódicos, nomeadamente A Voz, O Século, Diário de Notícias e Vida Mundial Ilustrada, entre outros.

Em 1951 mudou-se para o Brasil a convite da Editora Globo, sediada em Porto Alegre. Aí trabalhou 7 anos, ilustrando obras relevantes como a primeira edição de Gente e bichos, de Erico Veríssimo (1956 [1]).

Depois de sair da Editora Globo, mudou-se para Belém, onde iniciou uma importante carreira no ramo da publicidade, tendo fundado a agência Borges Publicidade. Vários profissionais importantes do ramo trabalharam nessa agência, e Borges Correia é ainda hoje reconhecido no Brasil como um precursor.

Mais para o fim da vida, afastou-se da caricatura, enveredando pela pintura a gouache e acrílico.

O blogue Zeco, o desenhador sem alarde disponibiliza muita informação sobre este ilustrador. Vale a pena consultar.

 

Afonso Reis Cabral
6-5-2014

 

 

Bibliografia passiva

Zeco, o desenhador sem alarde, blogue dedicado à memória e obra de José Borges Correia (última consulta 7-5-2014).

Catálogo n.º 58 da leiloeira «Babel livros», Novembro e Dezembro de 2012, Rio de Janeiro, p. 53 (última consulta 7-5-2014).


[1] Cf. Catálogo da leiloeira «Babel livros», p. 53 (vd. bibliografia).

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Quando Pinóquio e Sinbad eram censurados https://romanotorres.fcsh.unl.pt/?p=13856 Wed, 23 Apr 2014 10:56:53 +0000 http://fcsh.unl.pt/chc/romanotorres/?p=13856 008_Rosado, José, Pinóquio entre os pinguins_F_ARTIGOHoje pode parecer estranho mas, em tempos de ditadura, até as histórias infantis eram censuradas. Nem o Pinóquio e o Sinbad se safaram. Aproveitamos a efeméride do Dia Mundial do Livro para revelar aqui dois casos guardados no arquivo histórico da Romano Torres e que se passaram com esta editora.

O público infantil recebeu a atenção da Romano Torres desde muito cedo, com a colecção Manecas, lançada nos anos 1920. Como já referimos noutro texto, essa foi uma das colecções de maior êxito da editora.

Sucede que a ditadura de Salazar foi aperfeiçoando a censura oficial, tendo criado uma Comissão de Literatura e Espectáculos para Menores, em 1952, justamente para formatar as publicações infantis. Isso implicava não só o poder de proibir a edição comercial como de enviar directivas para reescrever o conteúdo dos livros. E assim foi.

Através duma circular de 1955, esta comissão dos serviços de censura explicava num detalhado texto que tudo o que fosse estrangeiro devia ser ‘nacionalizado’ ou alterado para o contexto nacional.

Entre aquilo que devia ser alterado constava o nome dos personagens, cuja grafia tinha que ser obrigatoriamente convertida para a “forma portuguesa”. Foi assim que o nome de Pinocchio, que antes surgia nesta forma original italiana, teve que ser alterado para Pinóquio, sob pena de não se poder publicar as novas edições pretendidas (então totalizando 8 requisições).

009_Ferreira, Leyguarda, Viagens maravilhosas de Sinbad o marinheiro_2.ª ed._F_ARTIGOMas o caso mais grave que até agora topámos no arquivo respeita à proibição liminar, em 1953, da publicação duma nova edição da obra Viagens maravilhosas de Sinbad o marinheiro, pela mão de Leyguarda Ferreira. A primeira edição deste livro era de 1949, portanto, antes da criação daquela comissão. Esta história é uma versão de parte da obra Mil e uma noites, tendo em princípio sido adaptada a partir da versão francesa de Antoine Galland, que data de 1706 (Patriarca, 2012: 192 e 286). Sobre as origens desta obra vd. aqui.

A primeira vez que aquela história terá saído em livro em Portugal foi por iniciativa da portuense Livraria Chardron de Lello & Irmão, com o título Simbad, o marinheiro: tirado das “Mil e uma noites”, ilustrações de Raquel Roque Gameiro e tradução de Carlos Frederico (Patriarca, 2012: 229). No documento não consta nenhuma explicação para a proibição deste livro, o que era uma prática costumeira da censura oficial.

 

Fontes primárias
*Requisição de João Romano Torres & C.ª à Direcção dos Serviços de Censura solicitando autorização para nova edição do livro Pinoquio entre os pinguins, de José Rosado. Assinado por Carlos Bregante Torres. Lisboa, 12 de Março de 1956. 1 Fl. Documento dactilografado com o carimbo da Direcção dos Serviços de Censura, datado de 22 de Março de 1956, autorizando publicação condicionada e com assinatura manuscrita ilegível do secretário da DSC, em nome do [«pelo»] Director. Cota do documento no Arquivo Histórico da João Romano Torres: PT/AHJRT/JRT/C/01-02/012.

*Circular n.º 284 «Instruções» da Comissão de Literatura e Espectáculos para Menores, com normas para edição de publicações infantis. Lisboa, 18 de Outubro de 1955. 2 Fls. Documento dactilografado cópia, com espaço para assinatura pelo presidente da CLEM Serras e Silva. Cota do documento no Arquivo Histórico da João Romano Torres: PT/AHJRT/JRT/C/01-02/012.

*Requisição de João Romano Torres & C.ª à Direcção dos Serviços de Censura solicitando autorização para nova edição do livro Viagens maravilhosas de Sinbad o marinheiro, de Leyguarda Ferreira. Assinado por Carlos Bregante Torres. Lisboa, 27 de Julho de 1953. 1 Fl. Documento dactilografado duplicado com o carimbo de «Proibido» da Direcção dos Serviços de Censura, datado de 29 de Julho de 1953, e com assinatura manuscrita ilegível em nome do [«pelo»] Director. Cota do documento no Arquivo Histórico da João Romano Torres: PT/AHJRT/JRT/C/01-02/012.

Bibliografia activa
*FERREIRA, Leyguarda (1949), Viagens maravilhosas de Sindbad o marinheiro, Lisboa, Romano Torres. Localização: L. 39016//4 P. (BNP); P. 14690 P. (BNP).

Bibliografia passiva
*PATRIARCA, Raquel (2012), O livro infanto-juvenil em Portugal entre 1870 e 1940 – uma perspetiva histórica, Porto, FLUP, tese de doutoramento em História.

Daniel Melo © 2014

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Gentil Marques, escritor polifacetado https://romanotorres.fcsh.unl.pt/?p=13846 Tue, 22 Apr 2014 08:00:30 +0000 http://fcsh.unl.pt/chc/romanotorres/?p=13846 in Saber... não faz mal

in Saber… não faz mal, 1945

Gentil Esteveira Marques (Lisboa, 1918 – Lisboa, 1991)

Nascido em Lisboa, mudou-se para o Algarve muito novo. De cariz precoce, Gentil Marques começou a sua carreira jornalística com apenas treze anos ao fazer parte da direcção do jornal literário O Mocho. Por essa altura colaborou também com diversos periódicos de Lisboa.

Regressou à capital em 1935, onde terminou o ensino secundário. Licenciou-se em Biologia, nunca tendo porém exercido qualquer actividade na área das ciências. Na universidade, foi redactor de O Diabo, Século Ilustrado, Vida Mundial Ilustrada, etc. Ao longo da sua vida, colaborou com inúmeros periódicos, sendo uma presença constante na imprensa nacional, principalmente de Lisboa.

No campo do audiovisual, estreou-se em 1940 com um documentário sobre a Exposição do Mundo Português. A partir de 1951, começou a ser conhecido no mundo da rádio, onde promoveu diversos programas de cariz cultural como «Festa brava» e «Lendas do nosso tempo». Daí passou a notabilizar-se como realizador, entre outros, do filme Nau Catrineta (1955).

No entanto, o seu maior interesse foi desde sempre a literatura, estreando-se com o folhetim Ali, onde tudo era silêncio (1930), numa edição de autor, tendo em conta a sua idade e o facto de a BNP não ter conseguido identificar a editora.

Publicou na Romano Torres o seu primeiro romance Pão nosso (1940), que escreveu a quatro mãos com Leão Penedo, amigo que conheceu provavelmente no Algarve e com o qual colaboraria em muitas obras. Mais tare, este romance foi alvo de uma adaptação cinematográfica.

Enquanto escritor e editor literário, especializou-se em adaptações de enredos de filmes e em romances biográficos. A sua colaboração na Romano Torres reflecte principalmente a faceta biográfica da sua obra com Eça de Queiroz: o romance da sua vida e da sua obra (1946), porventura motivado pelo centenário do nascimento do escritor, um ano antes, e Camilo: o romance da sua vida e da sua obra (1951).

Escreveu com Leão Penedo os romances policiais dedicados à personagem Andy Hardy, Andy Hardy: detective [194-], Andy Hardy: conquistador (1940), O novo amor de Andy Hardy (1940) e Prosápias de Andy Hardy (1951).

Colaborou também com a Romano Torres como tradutor e editor literário. Quo vadis? (1947), de Henryck Sienkiewicz, foi a sua tradução mais reeditada, mas traduziu igualmente com sucesso O homem e o espectro (1955), de Charles Dickens, onde incluiu também um ensaio sobre o autor.

Dirigiu as colecções «Grandes mistérios, grandes aventuras» e «Obras escolhidas de autores escolhidos» que constituíram uma das vertentes mais destacadas da editora.

Curiosamente, Gentil Marques casou-se com a escritora Mariália, que também publicou algumas obras, como Refugiados (1944) e O livro das raparigas (1947), na Romano Torres.

Dedicou-se intensamente à promoção do turismo em Portugal, tendo sido fundador e proprietário do Jornal de Turismo e comissário geral da Propaganda Turística em Portugal.

Afonso Reis Cabral
23-11-2013

 

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Roque Gameiro: 150 anos https://romanotorres.fcsh.unl.pt/?p=13823 Tue, 08 Apr 2014 09:28:10 +0000 http://fcsh.unl.pt/chc/romanotorres/?p=13823 No mês em que se celebra 150 anos do nascimento de Alfredo Roque Gameiro (4 de Abril de 1864 – 5 de Agosto de 1935), celebrado aguarelista e importante capista da Romano Torres, destacamos a sua biografia e disponibilizamos ao público uma galeria digital de ilustrações originais (espólio Francisco Noronha Andrade).

Aproveitamos também para destacar a exposição «Roque Gameiro, o Mar, a Serra e a Cidade», que está patente nos Paços do Concelho, em Lisboa, até 25 de Abril.

 

 

Roque Gameiro

Roque Gameiro (Ilustração Portugueza de 7/VI/1909)

Alfredo Roque Gameiro
(Porto de Mós, 1864 – Lisboa, 1935)

 

Roque Gameiro, conhecido pintor, foi também um importante aguarelista e ilustrador.

Pretendeu seguir a carreira naval, mas, não o tendo conseguido fazer, empregou-se como aprendiz numa empresa litográfica, onde cedo demonstrou os seus dotes. Publicou com outros autores de renome da sua época – Rafael Bordalo Pinheiro, Columbano e Manuel de Macedo – uma série de litografias intituladas Tipos populares portugueses.

Em 1893, frequentou como bolseiro do Estado a Escola de Artes e Ofícios de Leipzig, no intuito de aperfeiçoar a sua técnica litográfica.

É tido como o discípulo mais importante do aguarelista Enrique Casanova, embora à época a técnica de aguarela não fosse especialmente apreciada em Portugal. Aperfeiçoou esta arte a tal ponto que chegou a ser considerado como o primeiro aguarelista português. Os seus temas alargavam-se das paisagens às cenas da vida lisboeta, passando pelas suas célebres marinhas. Reuniu reproduções das suas aguarelas mais importantes no álbum Lisboa Velha, acompanhadas por textos de Afonso Lopes Vieira.

Notabilizou-se também como retratista e ilustrador. Foi nesta última categoria que colaborou com a então chama Empreza Editora e Typographica «O Recreio», empresa de João Romano Torres que depois se transformou na editora Romano Torres.

Em colaboração com Alfredo de Morais [1], Roque Gameiro foi responsável pelas ilustrações de pelo menos duas obras de Rocha Martins editadas sob a chancela da Recreio: Bocage (s.d.) e Gomes Freire (s.d.). Sozinho, ilustrou pelo menos a obra, também de Rocha Martins, Maria da Fonte (s.d). Estes livros foram publicados com certeza nos finais do século XIX em fascículos, e eram publicitados como «edição de luxo, acompanhada de photo-gravuras dos principaes personagens, e com primorosas ilustrações» [2].

Para além de se ter notabilizado como pintor, Roque Gameiro deixou também cinco filhos que se dedicaram sem excepção às artes.

 

Afonso Reis Cabral
28-01-2014

 

 

Bibliografia activa (selecção de algumas obras)

 

Maria da Fonte: romance historico, 1903, 2 vols., Lisboa: J. Romano Torres.
Localização:        L. 3588 A. e L. 3588 A. (BNP)

Bocage: romance original, [19–], 2 vols., Lisboa: João Romano Torres.
Localização:        L. 41020-21 V. e H.G. 8623-24 V. (BNP)

Gomes Freire: romance historico original, [19–], 2 vols., Lisboa: João Romano Torres.
Localização:        L. 3681 A., L. 3682 A., L. 3683 A. (BNP) e L. 3684 A. (BNP)

 

Bibliografia passiva

 

Abreu, Maria Lucília, 2005, Roque Gameiro 1864-1935: o homem e a obra, Lisboa, ACD Editores.

Pamplona, Fernando de, 2000, Dicionário de pintores e escultores portugueses ou que trabalharam em Portugal, vol. IV, Lisboa: Civilização Editora.

Ilustração Portugueza, 7/VI/1909, «Em casa de Roque Gameiro» (última consulta a 28-01-2014)

 

 


[1] Vd. resenha dedicada a este autor.

[2] Bocage, Rocha Martins, paratexto do tomo VI, cf. bibliografia.

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A Primeira Guerra Mundial na Romano Torres https://romanotorres.fcsh.unl.pt/?p=13809 Mon, 07 Apr 2014 11:44:45 +0000 http://fcsh.unl.pt/chc/romanotorres/?p=13809 Ilustração orginal de Ramos Ribeiro para História ilustrada da guerra de 194

Ilustração orginal de Ramos Ribeiro para a História ilustrada da guerra de 1914

Há cem anos, a Primeira Guerra Mundial alterava o curso da história. Em apenas quatro anos, a guerra causou nove milhões de vítimas. Uma intrincada cadeia de alianças políticas desencadeou um dos maiores conflitos que o mundo testemunhara até então, embora a causa tenha sido aparentemente tão pontual como o assassinato de um arquiduque.

No ano em que se comemora o centenário, e na véspera de 9 de Abril, data do início da batalha de La Lys, na Flandres, decidimos elencar, com uma breve descrição, as obras da Romano Torres relativas à Primeira Guerra Mundial.

A Romano Torres começou a editar, antes de 1918, a primeira de três obras sobre o conflito que ainda decorria. A História Ilustrada da Guerra de 1914 é um relato minucioso em cinco densos volumes pela mão de Bernardo de Alcobaça [1]. Importante tradutor de Salgari, Bernardo de Alcobaça foi autor daquela obra, além de ter compilado as frases, pensamentos e episódios da Enciclopédia do Amor (última década do século XIX).

Destaca-se desde logo, no primeiro volume, o relato vivo das acções do grupo Mão Negra, que culminaram com a morte do arquiduque Francisco Fernando em Sarajevo, e a descrição crítica da famosa troca de telegramas entre os primos kaiser Guilherme II e czar Nicolau II. O último capítulo deste volume narra as batalhas a sul do Danúbio.

No segundo volume, acompanhamos primeiro os avanços alemães na frente ocidental e testemunhamos, no fim, a entrada do Império Otomano em guerra.

O terceiro volume aprofunda a descrição do Império Otomano, mas dedica-se mais em específico aos aspectos quotidianos da guerra «de toupeira», designação que o autor atribui às trincheiras.

O quarto volume regressa à frente ocidental, terminando com a terrível batalha de Verdun.

O quinto e último volume alarga a visão do conflito às colónias dos impérios envolvidos, mas conclui algo abruptamente pois o capítulo final, breve, sintetiza os episódios bélicos na frente ocidental durante todo o último ano da guerra.

Esta obra conta com ilustrações de António José Ramos Ribeiro (1888-?) e Alfredo de Morais (1872-1971). Tivemos acesso a um dos originais de Ramos Ribeiro (espólio de Francisco Noronha Andrade) que aqui reproduzimos, curiosamente a ilustração do assassinato do arquiduque Francisco Fernando pela mão de Gavrilo Princip, a 28 de Junho de 1914.

O último volume da História Ilustrada da Guerra de 1914 saiu sem dúvida depois de 11 de Novembro de 1918, já que termina com a descrição do armistício. Assim, estamos perante um relato que foi acompanhando os acontecimentos à medida que se desenrolavam. A segunda edição saiu em 1946.

Capa de um fascídulo de A grande guerra

Capa de um fascídulo de A grande guerra

Em 1919 (?), a Romano Torres voltou ao tema com A grande guerra: crónica episódica e anedótica da conflagração europeia, única obra de Vasco de Lucena na editora. Trata-se de cinco fascículos que relembravam alguns momentos chave do conflito através da perspectiva do soldado, isto é, dando importância à história particular dentro dos grandes movimentos de povos que caracterizam qualquer guerra. As capas dos fascículos contam com um único.

Por último, a Romano Torres deu à estampa em 1925 (?) o livro 9 de Abril: romance dos portugueses na grande guerra, de José Rosado e do capitão Silva Neves. Embora Silva Neves tenha apenas escrito esta obra, o que nos leva a crer que não era escritor de carreira e que provavelmente participara no conflito, José Rosado foi um dos autores mais destacados da Romano Torres, não só como autor da série «Pinóquio», na colecção «Manecas», mas também como tradutor do inglês, com destaque para Walter Scott.

9 de Abril trata-se, como o título dá a entender, de um romance sobre a batalha de La Lys (9 a 29 de Abril de 1918), que gerou cerca de 7000 baixas no exército português, entre mortos, feridos e desaparecidos. Tal como fizera Vasco de Lucena, Silva Neves e José Rosado preferiram narrar o quotidiano e episódios particulares dos soldados, acompanhando o Corpo Expedicionário Português às trincheiras daquela que seria uma das batalhas portuguesas mais desastrosas desde Alcácer Quibir.

9 de Abril

9 de Abril

A ilustração da capa, de Júlio Amorim, marca desde logo o cariz heróico mas ao mesmo tempo individual da obra. De baioneta em punho, um soldado olha para a frente de expressão vazia.

Uma vez que Silva Neves foi militar de carreira e esta a única obra que escreveu, talvez a sua colaboração tenha sido no sentido de ajudar José Rosado a perceber o ambiente, gíria e normas militares que com certeza não dominaria. Não nos arriscamos a dizer, no entanto, que Silva Neves tenha participado na própria batalha de La Lys.

Deste modo, a Romano Torres acompanhou um dos acontecimentos mais marcantes da história mundial, quer através de uma importante publicação de referência como a História Ilustrada da Guerra de 1914, quer através da ficção e apreço por episódios particulares em 9 de Abril e A grande guerra.

Afonso Reis Cabral
7-4-2014

Bibliografia activa

Alcobaça, Bernardo, [191-], História illustrada da guerra de 1914, il. Ramos Ribeiro e Alfredo de Morais, Lisboa: João Romano Torres, 5 vols.
Localização:                       H.G. 5371-75 A.

Lucena, Vasco de, [1919?], A grande guerra: chronica episódica e anedotica da conflagração europea, Lisboa: João Romano Torres, 5 vols.
Localização:                       H.G. 15881 V. (BNP)

Rosado, José, e Silva Neves, [1925?], 9 de Abril: romance dos portugueses na grande guerra, il. Júlio Amorim, Lisboa: João Romano Torres & Ca.
Localização:                       L. 26365 P. (BNP) e EG1239 (Bib. Púb. Mun. de Elvas)

 


[1] Pseudónimo de autor ainda não identificado. Provável homenagem ao monge cisterciense Bernardo de Alcobaça (séc. XV).

 

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