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Quando Pinóquio e Sinbad eram censurados

Quando Pinóquio e Sinbad eram censurados
Ferreira, Leyguarda, Viagens maravilhosas de Sinbad o marinheiro_2.ª ed.BANNER

008_Rosado, José, Pinóquio entre os pinguins_F_ARTIGOHoje pode parecer estranho mas, em tempos de ditadura, até as histórias infantis eram censuradas. Nem o Pinóquio e o Sinbad se safaram. Aproveitamos a efeméride do Dia Mundial do Livro para revelar aqui dois casos guardados no arquivo histórico da Romano Torres e que se passaram com esta editora.

O público infantil recebeu a atenção da Romano Torres desde muito cedo, com a colecção Manecas, lançada nos anos 1920. Como já referimos noutro texto, essa foi uma das colecções de maior êxito da editora.

Sucede que a ditadura de Salazar foi aperfeiçoando a censura oficial, tendo criado uma Comissão de Literatura e Espectáculos para Menores, em 1952, justamente para formatar as publicações infantis. Isso implicava não só o poder de proibir a edição comercial como de enviar directivas para reescrever o conteúdo dos livros. E assim foi.

Através duma circular de 1955, esta comissão dos serviços de censura explicava num detalhado texto que tudo o que fosse estrangeiro devia ser ‘nacionalizado’ ou alterado para o contexto nacional.

Entre aquilo que devia ser alterado constava o nome dos personagens, cuja grafia tinha que ser obrigatoriamente convertida para a “forma portuguesa”. Foi assim que o nome de Pinocchio, que antes surgia nesta forma original italiana, teve que ser alterado para Pinóquio, sob pena de não se poder publicar as novas edições pretendidas (então totalizando 8 requisições).

009_Ferreira, Leyguarda, Viagens maravilhosas de Sinbad o marinheiro_2.ª ed._F_ARTIGOMas o caso mais grave que até agora topámos no arquivo respeita à proibição liminar, em 1953, da publicação duma nova edição da obra Viagens maravilhosas de Sinbad o marinheiro, pela mão de Leyguarda Ferreira. A primeira edição deste livro era de 1949, portanto, antes da criação daquela comissão. Esta história é uma versão de parte da obra Mil e uma noites, tendo em princípio sido adaptada a partir da versão francesa de Antoine Galland, que data de 1706 (Patriarca, 2012: 192 e 286). Sobre as origens desta obra vd. aqui.

A primeira vez que aquela história terá saído em livro em Portugal foi por iniciativa da portuense Livraria Chardron de Lello & Irmão, com o título Simbad, o marinheiro: tirado das “Mil e uma noites”, ilustrações de Raquel Roque Gameiro e tradução de Carlos Frederico (Patriarca, 2012: 229). No documento não consta nenhuma explicação para a proibição deste livro, o que era uma prática costumeira da censura oficial.

 

Fontes primárias
*Requisição de João Romano Torres & C.ª à Direcção dos Serviços de Censura solicitando autorização para nova edição do livro Pinoquio entre os pinguins, de José Rosado. Assinado por Carlos Bregante Torres. Lisboa, 12 de Março de 1956. 1 Fl. Documento dactilografado com o carimbo da Direcção dos Serviços de Censura, datado de 22 de Março de 1956, autorizando publicação condicionada e com assinatura manuscrita ilegível do secretário da DSC, em nome do [«pelo»] Director. Cota do documento no Arquivo Histórico da João Romano Torres: PT/AHJRT/JRT/C/01-02/012.

*Circular n.º 284 «Instruções» da Comissão de Literatura e Espectáculos para Menores, com normas para edição de publicações infantis. Lisboa, 18 de Outubro de 1955. 2 Fls. Documento dactilografado cópia, com espaço para assinatura pelo presidente da CLEM Serras e Silva. Cota do documento no Arquivo Histórico da João Romano Torres: PT/AHJRT/JRT/C/01-02/012.

*Requisição de João Romano Torres & C.ª à Direcção dos Serviços de Censura solicitando autorização para nova edição do livro Viagens maravilhosas de Sinbad o marinheiro, de Leyguarda Ferreira. Assinado por Carlos Bregante Torres. Lisboa, 27 de Julho de 1953. 1 Fl. Documento dactilografado duplicado com o carimbo de «Proibido» da Direcção dos Serviços de Censura, datado de 29 de Julho de 1953, e com assinatura manuscrita ilegível em nome do [«pelo»] Director. Cota do documento no Arquivo Histórico da João Romano Torres: PT/AHJRT/JRT/C/01-02/012.

Bibliografia activa
*FERREIRA, Leyguarda (1949), Viagens maravilhosas de Sindbad o marinheiro, Lisboa, Romano Torres. Localização: L. 39016//4 P. (BNP); P. 14690 P. (BNP).

Bibliografia passiva
*PATRIARCA, Raquel (2012), O livro infanto-juvenil em Portugal entre 1870 e 1940 – uma perspetiva histórica, Porto, FLUP, tese de doutoramento em História.

Daniel Melo © 2014