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História

Romano Torres: uma casa centenária

Não é consensual a data de fundação da editora Romano Torres. Contudo, ela tem raízes no labor de João Romano Torres (1855-1935), que debuta como tipógrafo junto do pai, Lucas Evangelista Torres (1822-95), e se autonomiza como tipógrafo-editor, em 1877. Só se afirma em pleno enquanto editor em 1885, com a compra do semanário literário O Recreio, e a criação duma editora homónima.

No ano seguinte publica um almanaque literário e de passatempos e, em 1888, lança a colecção «Biblioteca do “recreio”», iniciada pela tradução do «romance realista» A magnetizada, ainda produzido na tipografia da Minerva Commercial. As obras mais antigas que até agora consegui identificar contendo a chancela João Romano Torres são de 1889: Dicionário universal ilustrado linguístico e enciclopedico e Piquillo Alliaga (este de Eugène Scribe). Os anos seguintes servirão para lançar a sua fórmula editorial, combinando obras de referência, divulgação, história e romances.

Em 1898 ensaia a sua aposta na história e na narrativa de ficção com a edição de romances históricos. Em 1904 prossegue essa vertente e complementa-a com o lançamento de dicionários da língua portuguesa e o histórico-enciclopédico Portugal. Diccionario historico, chorographico, heraldico, biographico, bibliographico, numismatico e artístico. Este só se finalizou em 1915, ficando como marco e fonte de prestígio para o editor.

Face à consolidação do seu êxito editorial, em 1907 convida o filho primogénito, Carlos Bregante Torres, a associar-se-lhe, tendo os dois criado a firma João Romano Torres & C.a. A tipografia eleita é pertença do benjamim Henrique Torres, onde se manterá toda a produção da casa. Ao longo do século XX, a editora ficará conhecida pela oferta em vários tipos de literatura popular (romance sentimental, romance de aventuras, histórias infantis), romance histórico português, história nacional e universal (encomenda ou reedição cuidada), e biografias históricas. Já nos anos 1970, herda o testemunho Francisco Noronha de Andrade, que dirigiu a editora ao mesmo tempo que co-liderou a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros. Em finais de 1980 a editora suspendeu a sua actividade, por razões de ordem pessoal e empresarial.

A editora investiu forte na edição de grandes obras ligadas à história pátria, como a história de Portugal de La Clède (de 1735, em reedição anotada por uma «Sociedade de Homens de Letras», 1905-10); o referido dicionário histórico (1904-15); a Enciclopédia histórica de Portugal (1922-38). Também se dedicou à história de França e Brasil. Reforçou-se depois na biografia histórica, sobretudo de portugueses, boa parte escrita por Mário Domingues (ver texto sobre as Colecções). Quanto a obras de referência e vulgarização científica, publicou ainda dicionários de língua portuguesa, de higiene e medicina e o Dicionário universal ilustrado, entre outros.

No âmbito da literatura, deu cartas em várias áreas, desde logo no romance histórico português, onde dominou graças à equipa que juntou – Ladislau Batalha, Campos Jr., Lobo d’Ávila, Rocha Martins, Eduardo de Noronha, César da Silva, entre outros.

Depois, ao ser alegadamente a primeira a editar integralmente o Rocambole em português, quanto à versão que contém um último volume aditado por um admirador/ imitador [1].

Destacou-se ainda por deter o exclusivo das aventuras de Sandokan (de Salgari) para português, que seriam editadas no país nos anos 1920.

E por publicar autores ainda hoje conhecidos para variados segmentos de público: Cervantes e o seu Dom Quixote, Lewis Wallace e o seu Ben-Hur, Henri Fielding, Walter Scott, Dumas pai e filho, Luigi Motta (apadrinhado por Salgari), Eugène Sue, Charles Dickens, Georges Ohnet, Oscar Vaudin, Zola, Xavier de Montépin…

Também contemplou escritoras famosas como Ann Radcliffe, Harriet Beecher Stowe (e o seu famoso A cabana do pai Tomás), George Elliot, Max du Veuzit, Jane Austen, as irmãs Brontë, além das portuguesas Leyguarda Ferreira e Odette Saint-Maurice.

Em suma, um vasto leque de autores e de subgéneros literários: romances histórico, fantástico, de aventuras, policial, amor, sentimental. Para o público infantil ficou na retina a colecção «Manecas», com as suas adaptações de contos tradicionais universais e portugueses.

No valioso espólio que subsiste e mantém a memória desta casa editorial realce-se ainda a qualidade da ilustração, por artistas plásticos reconhecidos, como Pires Marinho, Roque Gameiro, Alfredo Morais e Paulo Ferreira (este ilustrou Iratan e Iracêma, Prémio M.ª Amália Vaz de Carvalho). E a preservação da placa de entrada da livraria…

Bibiografia de apoio

MELO, Daniel (2013), “O intelectual no seu labirinto: alta cultura, romance moderno e nacionalismo no tardo-oitocentismo português”, Romance Studies, vol. 31, n.º 2, p. 123-35.

MELO, Daniel (2013), “Para uma história da edição no Portugal contemporâneo: estudo de caso das Edições Romano Torres”, in Maria Fernanda Rollo (coord.), Atas I Congresso de História Contemporânea, s. l., IHC/CEIS20/Rede História, p. 555-65, ISBN 978-989-98388-0-2.

LISBOA, João Luís (2013), “Au début, le Recreio”, Congresso Internacional «A circulação transatlântica dos impressos – Conexões», São Paulo, Universidade de São Paulo, working paper.

MEDEIROS, Nuno (2013), “João Romano Torres e C.ia: hermenêutica social de uma editora”, Escola de São Paulo de estudos avançados sobre a globalização da cultura no século XIX, Campinas, UNICAMP, working paper.

 Daniel Melo (c) 2013


[1] Trata-se de As maravilhas do homem pardo, por Francisco Leite Bastos.

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