Navegador português que se destacou por ser o comandante dos primeiros navios a navegar da Europa à Índia. Nasceu, em Sines, por volta de 1469, filho de Estêvão da Gama e Isabel Sodré, de ascendência inglesa. O primeira fase da sua vida é relativamente desconhecida. É possível que tenha estudado astronomia com o astrónomo Abraão Zacuto.
No início da década de 1490 era cavaleiro da Ordem de Santiago e fidalgo da Casa Real, e, em 1492, D. João II enviou-o a Setúbal e ao Algarve, com o objectivo de capturar navios franceses como retaliação após ataque a caravela vinda da Mina. No âmbito de negociações tácitas entre as várias correntes políticas na corte, algumas das quais opostas ao envio da armada ao Índico, como referem alguns historiadores, D. Manuel I nomeou Vasco da Gama capitão-mor da frota que, a 8 de Julho de 1497, largou de Belém, rumo à Índia, numa expedição exploratória (que levava padrões para deixar nos locais visitados) equipada por Bartolomeu Dias com produtos para trocas comerciais que havia sido úteis em viagens anteriores . Primeira viagem à Índia: O único testemunho presencial da viagem das naus São Gabriel (comandada pelo próprio Vasco da Gama), São Rafael (comandada por Paulo da Gama, irmão de Vasco), Bérrio (comandada por Nicolau Coelho) e São Miguel (navio de mantimentos comandado por Gonçalo Nunes) é o do diário de bordo anónimo, atribuído a Álvaro Velho. Bartolomeu Dias, que seguia numa caravela rumo à Mina, acompanhou a expedição que partiu de Lisboa e seguiu a já conhecida rota ao longo da costa de África, passando por Tenerife, Cabo Verde, a atual Serra Leoa, cruzando o Equador. No dia de Natal, a tripulação baptizou uma nova costa com o nome de Natal (actual KwaZulu-Natal, África do Sul). A 2 de Março de 1498, a armada chegou à costa de Moçambique, onde encontram os primeiros mercadores indianos. Inicialmente, o sultão recebe bem a tripulação (que cria ser muçulmana) e disponibiliza-lhe dois pilotos, mas são , mais tarde, forçados a fugir de Moçambique por uma multidão hostil, disparando os seus canhões contra a cidade. Um dos referidos pilotos tinha a missão secreta de entregar os navios portugueses aos muçulmanos em Mombaça, cilada descoberta pela tripulação a tempo. Em Fevereiro de 1498, a armada chega a Melinde, localidade rival de Mombaça, e foi bem recebido pelo sultão, que lhe forneceu um piloto árabe, conhecedor do Oceano Índico, das monções, que a guiou até Calecute, porto na costa sudoeste da Índia que controlava o comércio de pimenta da costa do Malabar. A 20 de Maio, Gama chegou a Kappakadavu, perto de Calecute, no actual estado indiano de Kerala. Após os contactos iniciados por um degredado, Gama desembarcou em Calicute, visitou a cidade e foi recebido pelo Samorim, governante local, que autoriza os portugueses a comercializar na urbe, embora os produtos trazidos pelos portugueses não interessassem aos comerciantes locais, e, após algumas semanas, durante as quais as relações com mercadores muçulmanos e com o Samorim pioraram, a armada deixou Calicute. O regresso pelo Índico foi tormentoso. A armada passou o Cabo da Boa Esperança a 20 de Março, chegou a Cabo Verde em Abril, tendo Paulo da Gama falecido nos Açores (Terceira), onde Vasco da Gama permanece algum tempo. Apenas duas das embarcações conseguiram voltar a Portugal. A nau Bérrio chegou a Lisboa em Julho de 1499, e Gama chega a Lisboa em Setembro e foi recebido, em audiência, pelo rei, no dia 18 desse mês. Gama integrou o Conselho Real, sendo-lhe concedidos os títulos de Dom e de Almirante da Índia, bem como a prerrogativa de enviar todos os anos, à Índia, 200 cruzados para comércio próprio. Em Dezembro de 1499 foi-lhe concedida a posse hereditária da vila de Sines e dos seus rendimentos. Em 1501, Vasco da Gama casa com D. Catarina de Ataíde. Segunda viagem à Índia: Em 12 de Fevereiro de 1502, Gama viaja uma segunda vez à Índia, com uma frota de vinte navios de guerra, chegando às proximidades de Cananor em Setembro, e afunda a embarcação de Calicut, Mîrî, antes de entrar em Cananor, onde Gama negoceia com os governantes e mercadores de Cananor e de Cochim e estabelece aí feitorias, o grande objectivo da expedição. Durante a viagem, Gama conquista a ilha de Quíloa, na África Oriental, a tripulação avistou as ilhas Seychelles, que Gama nomeou Ilhas (do) Amirante, em sua própria honra. Em 1503, a armada regressa a Portugal, onde chega em Outubro. As relações de Vasco da Gama com a Coroa deterioraram-se rapidamente talvez devido aos relatos da violência de Gama, da riqueza que acumulara e ao naufrágio de Vicente Sodré, perto do Mar Vermelho. A disputa com a Ordem de Santiago pela posse de Sines arrastou-se e Vasco da Gama foi intimado pelo rei a deixar a vila, indo viver em Évora, Niza e Lisboa, onde procurou reconciliar-se com a Coroa. Em 1519, Vasco da Gama adquiriu, do duque de Bragança, as terras da Vidigueira e Vila de Frades, e, em Dezembro desse ano, D. Manuel confirmou-o como conde da Vidigueira. Terceira viagem à Índia: Em 14 de Abril de 1524, Vasco da Gama partiu de novo para a Índia, como Vice-rei da Índia, para substituir Duarte de Meneses, cujo governo se revelava desastroso. Gama chegou a Chaul em Setembro, passou um mês em Goa, prosseguindo para Cochim, via Cananor. Em Cochim, Gama adoeceu (talvez com malária), vindo aí a falecer, na véspera de Natal de 1524. Foi sepultado na Igreja de São Francisco (Cochim), e, em 1539, os seus restos mortais foram transladados para Portugal, ficando na igreja de um convento carmelita (actual Quinta do Carmo), situado perto da Vidigueira até 1880, quando foram trasladados para o Mosteiro dos Jerónimos.
Rogério Miguel Puga
Bibliografia:
BOUCHON, Geneviève, Vasco da Gama, Rio de Janeiro, Record, 1998.
CURTO, Diogo Ramada (dir.), O Tempo de Vasco da Gama, Lisboa, C.N.C.D.P., 1998.
FONSECA, Luís Adão da, Vasco da Gama: O Homem, a Viagem, a Época, Lisboa, Comissariado da Expo 98, 1997.
SUBRAHMANYAM, Sajay, A Carreira e a Lenda de Vasco da Gama, Lisboa, C.N.C.D.P., 1998.