O cronista, gramático e historiador Pêro Magalhães de Gândavo, natural de Braga, foi moço de câmara de D. Sebastião e copista da Torre do Tombo, professor de Latim. Na dedicatória do seu Tratado da Província do Brasil (1568) à rainha D. Catarina, Gândavo afirma que vivera alguns anos no Brasil (talvez, entre 1558 e 1572, na capitania da Baía ou de S. Jorge de Ihéus e de S.Vicente), sendo a obra fruto da sua ‘experiência’ pessoal, e elogia, tal como outras narrativas de exortação à colonização da altura, a diversidade e a abundância do território. Por volta de 1569, o autor termina uma segunda versão dessa obra, na qual inclui um novo capítulo sobre a descoberta de minas de ouro na Baía (cf. Hélio Viana, 1953), o Tratado da Terra do Brasil, que apenas seria publicado em 1826. Em 1574 publica as Regras que Ensinam a Ortografia da Língua Portuguesa, com Um Diálogo que adiante se Segue em Defensa da Mesma Língua, a gramática que tem 3 edições e se torna a mais lida em Portugal no século XVI. Em Agosto de 1576, no ano em que termina a primeira História da Província de Santa Cruz a que Vulgarmente Chamamos Brasil (1576) é nomeado provedor da fazenda em São Salvador da Baía, não se sabendo muito mais sobre a sua vida. Esta História da Província de Santa Cruz é dedicada a D. Leonis Pereira, com quem o autor privara no Oriente, e funde as às já referidas versões anteriores e inclui um capítulo novo sobre o quotidiano dos colonos, tendo sido eliminados alguns excertos mais ‘fantasiosos’. O livro ocupa-se da paisagem natural (fauna, flora abundantes e desconhecidas) e da paisagem humanizada (crenças e costumes dos vários grupos étnicos brasileiros) do vasto território, mas sobretudo a região costeira entre Itamaracá e São Vicente, que seria de toda a utilidade colonizar.
Bibliografia:
Jorge Couto (ed.), O Reconhecimento do Brasil, 1989: 120-130; Vasco Graça Moura, Sobre Camões, Gândavo e outras personagens: Hipóteses de História da Cultura, 2000; Hélio Viana, “A Primeira Versão do” Tratado da Terra do Brasil”de Pêro Magalhães de Gândavo”, Revista de História, 15, 1953.
Rogério Miguel Puga