O Caminho Imperfeito (José Luís Peixoto)

O Caminho Imperfeito (2017), de José Luís Peixoto* (n. 1974), acompanha, num registo autobiográfico,  uma viagem (iniciática) do narrador-viajante (turista que observa os turistas-consumidores) a Banguecoque e a Las Vegas. A primeira parte da obra representa “um olhar pelo avesso” pela paisagem acústica e human(izad)a da capital tailandesa e pelas paisagens que constituem Las Vegas, bem como pelos aspectos menos comuns dessas urbes, evitando os lugares-comuns turísticos, sobretudo em ‘paragens’ exóticas, como a Tailândia, um destino que tem também dimensões sombrias. O livro constitui uma reflexão sobre a (por vezes cruel) indústria do turismo, e é fruto de uma viagem de Peixoto com o ilustrador Hugo Makarov, que ilustra a obra. A misteriosa descoberta de algumas encomendas (rumo a Las Vegas) que contêm partes de corpo humano numa estação de correios de Banguecoque transforma a deambulação em demanda (também interior): “Numa das caixas de plástico, estava a cabeça de um bebé. Noutra caixa, estava o pé direito de uma criança, cortado em três partes. Havia ainda duas caixas com pedaços de pele tatuada e, na última, estava um coração humano”. A viagem consiste também no caminho da natureza humana, que é sempre imperfeito. Este livro é publicado cinco anos após Dentro do Segredo*.

 

Rogério Miguel Puga