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Artigo de OPINIÃO no Jornal o Público | REGINA SALVADOR | O regresso de "Braveheart"?

 
"The people who live in Scotland are the best people to make decisions about Scotland's future”. Alex Salmond, Primeiro-ministro escocês
 
O referendo pela independência da Escócia, que hoje se realiza, é já o terceiro do género desde a adesão do Reino Unido à União Europeia. A ganhar o “sim”, os escoceses porão um ponto final numa ligação com mais de 300 anos, iniciada com Jaime I, sucessor da “Virgin Queen”.
 
O primeiro referendo teve lugar em 1979: saldou-se por uma percentagem de 51% de votos favoráveis ao “sim”, mas, como apenas 32,9% dos eleitores registados se deslocaram às urnas, foi considerado nulo. Quase vinte anos depois (1997), os escoceses foram de novo chamados a pronunciar-se, desta feita sobre a criação de um Parlamento nacional. Após uma acérrima campanha entre os defensores do "Scotland FORward" e do "Think Twice", a criação de um Parlamento escocês foi aprovada com uma percentagem acima dos 70%.
 
Mas a ideia da independência viria a atingir o auge em 2011, com a eleição, por maioria, do Partido Nacional Escocês.
 
A base de apoio ao movimento “Yes, Scotland” concentra-se nos jovens e na ex-classe operária, sensíveis às promessas de saúde e de ensino superior gratuitos, financiados pelas receitas do petróleo do mar do Norte (30 mil milhões de libras nos próximos 20 anos) e pela exportação de electricidade. Segundo estimativas da OCDE, a Escócia poderia tornar-se no quinto país mais rico do planeta. Uma Escócia independente seria também, segundo os defensores do “sim”, mais eficiente na defesa da sua agricultura e pescas junto das instâncias comunitárias.
 
Contrariamente ao proposto há três anos pelo primeiro-ministro Alex Salmond, a Escócia independente não irá entrar no euro, mantendo a libra esterlina como moeda. Tal facto levanta, no entanto, preocupações adicionais. A experiência europeia desde 2008 demonstrou que a partilha de uma moeda sem ter um Governo comum é muito perigosa.
 
A vitória do “sim” não deixaria também de trazer consequências imponderáveis para o Reino Unido. A perda de dimensão territorial, populacional e económica resultaria numa redução da influência britânica às escalas mundial e europeia, levando a um novo equilíbrio de forças (com a França e a Alemanha, nomeadamente) de contornos difíceis de avaliar. Há ainda a questão de grande parte do armamento nuclear britânico se encontrar estacionado na Escócia.
 
Também na Europa seria dado o sinal para que territórios como a Catalunha, o País Basco ou a própria Flandres seguissem o exemplo escocês. Os resultados do referendo de hoje podem, pois, originar um “efeito dominó” de consequências imprevisíveis.
 
Será que os escoceses seguirão o grito de ordem de William Wallace – o herói da independência escocesa – imediatamente antes de ser decapitado pelos ingleses – “Freedom!”?
 
Regina Salvador | Professora catedrática da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
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