PELA AGRICULTURA

PELA AGRICULTURA

S/autor

Damião de Goes, Ano 9º, nº 458, p. 1.

07-10-1894

Leonardo Aboim Pires

A primeira solução do problema da reconstituição das vinhas, em que se pensou logo que foi reconhecida a resistência a castas americanas opunham a ação do filoxera, foi tirar partido diretamente dos frutos destas castas.
A princípio importaram-se variedades consideradas nos Estados Unidos como produtoras. […] Aquela solução era evidentemente a mais sedutora, em razão da sua simplicidade e assim compreende-se que fosse abraçada e ainda hoje se tente aplica-la nas regiões onde se começa a reconstituir as vinhas. Infelizmente, a experiência veio bem depressa modificar a primeira maneira de ver sobre o assunto; e por tal forma que nas regiões antigamente replantadas, os produtores diretos têm desaparecido pouco a pouco para dar lugar às castas europeias enxertadas sobre pé americano.
Quais as causas deste facto, tão evidente para todos aqueles que seguiram, desde o começo, tudo que tenha relação com o emprego de castas americanas? São de duas ordens: 1ª – constante inferioridade das castas americanas quanto à produção de vinho; 2º - insuficiência da resistência ao filoxera daquelas castas que dão melhores resultados sobre o ponto de vista da qualidade e quantidade dos frutos.

Não é impossível conceber teoricamente um cruzamento que acumule a resistência ao filoxera das vinhas americanas com as qualidades próprias das castas europeias, mas a verdade é que há maiores probabilidades para que esse cruzamento se não possa realizar. Para adquirir a resistência ao filoxera, é necessário procurar manter, tão intactos quanto possível, os caracteres das raízes do elemento americano, o que acarreta por outro lado uma produção de uvas muito mais aproximadas deste tipo.

Estes e outros factos, os sucessos obtidos pela enxertia e pela facilidade com que os viticultores realizam esta operação, explicam a razão porque, em todas as regiões onde a experiência é pouco antiga, as vinhas enxertadas têm substituído os produtores diretos.

Parece, pois, que não há interesse, em geral, em prosseguir na escolha de novos produtores diretos, a não ser num caso, em que eles poderiam ter certa utilidade.

Se, com efeito, apesar dos esforços que se fazem para obter porta-enxertos convenientes para os terrenos calcários, se não tem obtido um resultado completo, poder-se-ia tentar, nos piores d’entre os terrenos, o emprego de produtores diretos, a fim de evitar o agravamento do estado clorótico que resulta muitas vezes da enxertia.
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