Pragas nos Periódicos

Secção agrícola

Dublin Core

Título

Secção agrícola

Criador

António Batalha Reis

Fonte

O Jornal de Cantanhede, n.º 209, pág. 1, col. 1, pág. 2, col. 1, 2

Data

17-06-1893

Colaborador

Pedro Barros

Text Item Type Metadata

Text

Lê-se no Comércio do Porto:
O míldio da vinha, força do ataque, chapinhação do cacho — Phytophtora infestans, míldio dos batatais, descrição do ataque, aplicação nova, sua importância na salvação da colheita.

O míldio tem acentuado cada vez mais os efeitos desastrosos da sua invasão nas vinhas, nos batatais, tomateiros, aboborais e meloais:
Por toda a parte, os sais de cobre disfarçados nas diversas fórmulas que estão em uso e apresentados sob a forma sólida e líquida procuram defender as plantas ameaçadas e garantir as colheitas. Mas nem sempre o proprietário tem ficado vencedor, e bastantes exemplos há a registrar de tratamentos insuficientes e de completas derrotas.
Estudando a razão explicativa dos primeiros e a causa determinante destas últimas, pareceu-me encontrar a explicação de tudo na forma pouco cuidadosa como se efectuam muitas vezes esses tratamentos.
A questão não está só em fazer o remédio; mas em o aplicar bem e com razão de ser.
Vou, pois, chamar a atenção dos agricultores sobre esse importante assunto.
Já falei na crónica anterior do modo de ter mão no míldio da vinha, aconselhando a chapinhação do cacho com a calda bordalesa, na falta de um pó de toda a confiança, como é, por exemplo, a sulfosteatite, para polvilhar os cachos, nos primeiros e últimos tratamentos. Vou agora fanar das outras culturas, resumindo o que convém fazer. Nas batatas é, como sabem, o Phytophtora infestans o nome do míldio que as ataca e destrói.
Apesar deste mal ser já antigo nos anais da nossa agricultura, foi só em 1885, se a memoria me não falseia, que se começou em França, na Gironda, a combater esta moléstia pela aplicação do sulfato de cobre, e data de 1889 a geral divulgação deste processo.
Mas, a julgar pelas perguntas que me têm sido feitas por cartas e verbalmente, não é ainda bastante conhecida a forma por que o mal invade e caminha nos batatais; por isso não será ocioso, para muitos, a descrição desta moléstia. Desde que ela seja bem conhecida de todos, todos poderão trata-la melhor do que hoje o fazem.
Vou, portanto, em poucas palavras, descrever o caminho que segue a invasão, para habilitar os que o ignoram a tolher o passo a este míldio, quando não possam evitar o seu aparecimento e a sua marcha desde o começo.
Os spórolos ou sementes ou Phytophtora invadem as folhas das batatas pela página superior, fixando-se ali e, se não são destruídos pela acção do cobre, estabelecem sobre a folha uma vegetação parasitária, que se multiplica e alarga, formando nódoas que enchem por fim toda a folha. Neste período a vegetação pára, a folha seca, encarquilha e fica como se fosse tocada pela acção do fogo.
Nesta situação é que convém abandonar o tratamento, por se julgar o batatal perdido. Mas é então que há ainda um remédio importante a aplicar e cujo valor só é reconhecido depois de se saber a marcha do mal.
Momentos antes das folhas secarem (tal é a rapidez com que, no geral, a invasão caminha e completa, por último, todos os períodos do seu terrível trabalho) soltam-se das folhas para o terreno que elas cobrem os spórolos do Phytophtora infestans, insinuam-se dali pelas fendas da terra até aos tubérculos, onde se fixam superficialmente e onde continuam a obra de destruição começada nas folhas.
É por isso que a minha experiência acusa como auxiliadora do mal e destruidora dos tubérculos a sacha executada posteriormente à mostra e desenvolvimento do Phytophtora infestans nas folhas.
Deste modo, manda a razão e tem-me provado a prática, que, logo que o mal se acentue nas folhas, deve, além do tratamento geral, ser regado o terreno dos batatais com a calda bordalesa, para que esta destrua os spórolos e evite que eles conservem a vitalidade necessária para prejudicarem os tubérculos.
Procedendo assim, poderemos ainda salvar a colheita sã, tendo apenas o prejuízo relativo ao atraso de maturação em que as batatas encontrarem, se a sementeira foi serôdia e o mal se adiantou cedo. Abandonando o batatal, como é costume, pelo desânimo que o seu aspecto faz nascer, teremos perda total, porque a batata, por mais bem criada que esteja, ficará perdida, se lhe chegarem os spórolos do Phyto-phtora infestans. É assim que se explica o perder muitas vezes uma sacha o batatal, que devia melhorar.
(…)

Ficheiros

Citação

António Batalha Reis, “Secção agrícola”. In O Jornal de Cantanhede, n.º 209, pág. 1, col. 1, pág. 2, col. 1, 2, 17-06-1893. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 30 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/1067.

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