ASSUNTOS AGRÍCOLAS

ASSUNTOS AGRÍCOLAS

S/autor

Damião de Goes, 10º Ano, nº 488, p. 1.

05-05-1895

Leonardo Aboim Pires

M. M. Lavergne e Marre publicaram recentemente um trabalho muito interessante sobre o black-rot; e dessa obra colhemos hoje uns esclarecimentos, ainda que muito resumidos, sobre o tratamento daquela doença da vinha.
Eis como M. M. Lavergne e Marre prescrevem a prática do tratamento para o black-rot:
1º Feita a vindima, arrancar os cachos secos e os restos que ficaram dos que foram apanhados, ajuntar as parras espalhadas pelo chão e destruir tudo por meio de fogo.
2º Podar tão rigorosamente quanto seja possível, eliminando com cuidado os novos rebentos.
3º Na segunda quinzena de março caiar as cepas anteriormente invadidas com uma solução de sulfato de cobre adicionada, querendo-se, de sulfato de ferro para combater simultaneamente a antracnose.
4º Logo que comece a vegetação os gomos principiarem a abrir (6 a 10 centímetros de comprimento) aplicar o primeiro tratamento com a calda bordalesa. Deve-se executar este primeiro tratamentos sejam quais forem as condições atmosféricas, e repeti-lo uma ou duas vezes se for preciso, em razão das chuvas terem arrastado a calda.
5º Dez ou quinze dias depois, segundo a rebentação for menos ou mais ativa, fazer o segundo tratamento.
6º Realizar terceiro ou quarto tratamento e, se houve lugar, ainda o quinto, deixando entre eles, segundo as condições climatéricas, um intervalo de quinze dias a um mês.
7º Entretanto, e principalmente nas regiões sujeitas ao oídio, aplica no interior das cepas enxofre com a adição do sulfato de cobre anidro 10% ou de sulfosteatite cúprica.
8º Completar, quanto possível, estes tratamentos pela apanha das primeiras folhas invadidas pelo black-rot.
9º Nota essencial – ter tanto mais cuidado no conjunto das precedentes prescrições, conforme o ataque tiver sido, nos anos anteriores, menos ou mais violento.
Os viticultores que não tiveram sofrido anteriormente com o black-rot por uma forma grave, poderão dispensar-se da aplicação do tratamento a que se referem os três primeiros artigos; mas deverão recordar-se que, praticando o em boas condições, colocar-se-ão completamente ao abrigo, não somente do black-rot, mas ainda do míldio.

Calendário vitícola
Trabalhos no mês de Maio – devem, neste mês, completar-se as cavas; começando a raspa ou redra nas vinhas que lançaram alguma erva, ou naquelas em que a cava ficou muito levantada. Efetua-se segunda lavra, nas que estão dispostas para o emprego da charrua.
Faz-se o segundo tratamento contra o oídio e o míldio, mesmo nas vinhas que não mostrem sinal de ataque pois a excelência destes tratamentos é incontestada como preventivos. O ano vai muito propício para grande desenvolvimento de míldio; previnam-se, pois, todos com tempo.
Convém empregar maior percentagem de sulfato de cobre nas vinhas já atacadas de míldio, e principalmente de black-rot, devendo, no caldo bordalês, empregar-se 3 a 4% de sulfato de cobre, ou, preferindo os pós cúpricos, usar dos que tenham garantida a percentagem de 8 do mesmo sal, desconfiando dos produtos baratos, apresentados no comércio em que, para conseguir a barateza, se diminui a quantidade de sulfato de cobre, elemento do preço mais elevado da composição, substituindo-o em peso, por outro de menos valor: cal, enxofre, talco, carvão, cinza, etc.
É evidente a razão porque a percentagem de sulfato de cobre deve ser, nos pós, dupla da conveniente para as preparações líquidas.
Deve este mês encetar-se a poda verde: despontando os lançamentos que tomarem um desenvolvimento anormal, não conveniente, e suprimindo completamente os ladrões, e os rebentos, que, não mostrando espigas, sejam desnecessários a assegurar a boa poda e empa do ano seguinte.
(Da Vinha Portuguesa)