Bicho das laranjeiras e Oxalis Crenata
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Título
Bicho das laranjeiras e Oxalis Crenata
Criador
Carlos G. Dabney
Fonte
O Agricultor Micaelense, vol. 1, nº 38, pp. 638-639.
Data
02-1851
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
A um ilustrado Estrangeiro desvelado amigo da prosperidade e civilização deste Arquipélago, devemos a importante comunicação que abaixo se lê.
Com quanto nos alegre em extremo a notícia que sobre a desaparição sucessiva do bicho das Laranjeiras se tem observado na ilha do Faial, vacilámos em dar publicidade a esta nova, por medo que confiados em análoga fortuna não afrouxassem os nossos pomareiros na devastação daquele inimigo.
Recomendámos pois que embora alegres e esperançadas sejam as notícias, não durmamos nos trabalhos de perseguição.
Ilmº. Sr. – Tendo observado os grandes esforços de beneméritos cidadãos para descobrir um aniquilador para o «aphis» destruidor das laranjeiras, e outras árvores de espinho; tenho-me lembrado que a exposição de minhas experiências pode servir de anódino para todos aqueles que se interessam em tal assunto, e por isso ofereço a V.S. uma simples narração dos atos. – Logo que entrei no conhecimento da natureza daquele inimigo, pus em ação todos os meios ao meu alcance para o destruir; - mandei queimar alcatrão em tigelas debaixo das árvores, archotes à noite pela quinta; fizeram-se aplicações de alcatrão, água de cal, aguarás e alkalis na casca; - tratei de impregnar a seiva com enxofre; e ultimamente servi-me das fezes de azeite que tinha sido purificado com alkalis, que achei o mais eficaz de todos os meios que empreguei, combinado com o uso de rapas de ferro. – Havia já uns poucos de anos que por meio de um rancho de homens, constantemente empregados, fazia esforços para salvar algumas árvores numa quinta que tenho junto à minha residência quando há-de fazer quatro anos, tive uma surpresa, que me pareceu maravilhosa. Indo à minha quinta de Santo Amaro, aonde não tinha ido por muitos meses, por lhe ter perdido o gozo em consequência da destruição das árvores, achei-o os limoeiros (N.B. os limoeiros forma as primeiras vitimas do aphis) cheios de fruto, inteiramente livres de bicho!!! Examinei as árvores que achei livres do inseto, estendi as minhas averiguações às laranjeiras que também achei livres do seu perseguidor (é preciso notar que naquela quinta haviam anos que tinha deixado de fazer esforços para destruir os insetos). Em consequência disto mandei logo suspender os trabalhos enfadonhos que, por tantos anos, tinha incessantemente feito na quinta da casa, convencido que era inútil e que a praga tinha chegado ao seu auge, e já dava esperanças em quatro anos, tem-se realizado, e o arvoredo está em perfeito estado, à exceção de cá e lá, nalgum lugar mais abafado, aparecerem alguns insetos que não inspiram receio (apesar disso, sempre os mando destruir) – estou de opinião que v.g. mil árvores não tem exigido o trabalho de um homem seis dias num ano para as alimpar.
Tendo encontrado o artigo seguinte, relativo a «oxalis crenata» nas descobertas de 1850, pode ser que seja novo para V.S., e em qualquer caso estou certo que V.S. apreciará o motivo que me induz ao transmitir.
«Este tubérculo (o oxalis crenata) diz o Barão de Suarzz (que tem cultivado uns dez alqueires de campo na sua propriedade ao Sul da França) possui um maior grau de nutrição do que a maior parte das plantas farináceas que formam a base do sustento da gente no nosso clima; o peso total da colheita produzido em dez alqueires de terreno, foi de dez toneladas, que rendeu três de farinha; das hastes das plantas, que podem ser cortadas duas vezes no ano, e que podem ser comidas como salada ou espinafre, cento e cinquenta canadas de um ácido forte, foram obtidas, o qual, misturado com três vezes o seu volume e água faz uma boa bebida; o ácido sendo fomentado a um grau igual de vinagre, é superior a este último para conserva de carne, que não endurece, nem lhe comunica mau sabor; - a farinha do «oxalis crenata» é superior à que produz a batata, milho ou trigo-sarraceno, porque faz um excelente pão misturado na proporção de um quarto com farinha de trigo – o «oxalis crenata» é oriundo da América do Sul, não é sensível a variações de temperatura, e dá-se em qualquer terreno, é até dificultoso de remover, uma vez introduzido - «Procedimentos da Sociedade das Artes e Ciências».
Estou fiado na vontade de V.S. para não julgar os meus desejos para o adiantamento dos conhecimentos úteis, pela fraqueza das minhas contribuições, e com mui alta consideração e respeito tenho a honra de ser – De V.S. muito atento venerador – Carlos G. Dabney – Ilmº Sr. José de Jacôme Correia, Presidente da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense.
Com quanto nos alegre em extremo a notícia que sobre a desaparição sucessiva do bicho das Laranjeiras se tem observado na ilha do Faial, vacilámos em dar publicidade a esta nova, por medo que confiados em análoga fortuna não afrouxassem os nossos pomareiros na devastação daquele inimigo.
Recomendámos pois que embora alegres e esperançadas sejam as notícias, não durmamos nos trabalhos de perseguição.
Ilmº. Sr. – Tendo observado os grandes esforços de beneméritos cidadãos para descobrir um aniquilador para o «aphis» destruidor das laranjeiras, e outras árvores de espinho; tenho-me lembrado que a exposição de minhas experiências pode servir de anódino para todos aqueles que se interessam em tal assunto, e por isso ofereço a V.S. uma simples narração dos atos. – Logo que entrei no conhecimento da natureza daquele inimigo, pus em ação todos os meios ao meu alcance para o destruir; - mandei queimar alcatrão em tigelas debaixo das árvores, archotes à noite pela quinta; fizeram-se aplicações de alcatrão, água de cal, aguarás e alkalis na casca; - tratei de impregnar a seiva com enxofre; e ultimamente servi-me das fezes de azeite que tinha sido purificado com alkalis, que achei o mais eficaz de todos os meios que empreguei, combinado com o uso de rapas de ferro. – Havia já uns poucos de anos que por meio de um rancho de homens, constantemente empregados, fazia esforços para salvar algumas árvores numa quinta que tenho junto à minha residência quando há-de fazer quatro anos, tive uma surpresa, que me pareceu maravilhosa. Indo à minha quinta de Santo Amaro, aonde não tinha ido por muitos meses, por lhe ter perdido o gozo em consequência da destruição das árvores, achei-o os limoeiros (N.B. os limoeiros forma as primeiras vitimas do aphis) cheios de fruto, inteiramente livres de bicho!!! Examinei as árvores que achei livres do inseto, estendi as minhas averiguações às laranjeiras que também achei livres do seu perseguidor (é preciso notar que naquela quinta haviam anos que tinha deixado de fazer esforços para destruir os insetos). Em consequência disto mandei logo suspender os trabalhos enfadonhos que, por tantos anos, tinha incessantemente feito na quinta da casa, convencido que era inútil e que a praga tinha chegado ao seu auge, e já dava esperanças em quatro anos, tem-se realizado, e o arvoredo está em perfeito estado, à exceção de cá e lá, nalgum lugar mais abafado, aparecerem alguns insetos que não inspiram receio (apesar disso, sempre os mando destruir) – estou de opinião que v.g. mil árvores não tem exigido o trabalho de um homem seis dias num ano para as alimpar.
Tendo encontrado o artigo seguinte, relativo a «oxalis crenata» nas descobertas de 1850, pode ser que seja novo para V.S., e em qualquer caso estou certo que V.S. apreciará o motivo que me induz ao transmitir.
«Este tubérculo (o oxalis crenata) diz o Barão de Suarzz (que tem cultivado uns dez alqueires de campo na sua propriedade ao Sul da França) possui um maior grau de nutrição do que a maior parte das plantas farináceas que formam a base do sustento da gente no nosso clima; o peso total da colheita produzido em dez alqueires de terreno, foi de dez toneladas, que rendeu três de farinha; das hastes das plantas, que podem ser cortadas duas vezes no ano, e que podem ser comidas como salada ou espinafre, cento e cinquenta canadas de um ácido forte, foram obtidas, o qual, misturado com três vezes o seu volume e água faz uma boa bebida; o ácido sendo fomentado a um grau igual de vinagre, é superior a este último para conserva de carne, que não endurece, nem lhe comunica mau sabor; - a farinha do «oxalis crenata» é superior à que produz a batata, milho ou trigo-sarraceno, porque faz um excelente pão misturado na proporção de um quarto com farinha de trigo – o «oxalis crenata» é oriundo da América do Sul, não é sensível a variações de temperatura, e dá-se em qualquer terreno, é até dificultoso de remover, uma vez introduzido - «Procedimentos da Sociedade das Artes e Ciências».
Estou fiado na vontade de V.S. para não julgar os meus desejos para o adiantamento dos conhecimentos úteis, pela fraqueza das minhas contribuições, e com mui alta consideração e respeito tenho a honra de ser – De V.S. muito atento venerador – Carlos G. Dabney – Ilmº Sr. José de Jacôme Correia, Presidente da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense.
Ficheiros
Colecção
Citação
Carlos G. Dabney, “Bicho das laranjeiras e Oxalis Crenata”. In O Agricultor Micaelense, vol. 1, nº 38, pp. 638-639., 02-1851. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 27 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/144.