Esforços e diligências; esperanças e desenganos
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Título
Esforços e diligências; esperanças e desenganos
Criador
Francisco Simões Margiochi
Fonte
O Manuelinho de Évora, Ano XIV, nº 666, p. 3.
Data
22-02-1894
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
Bem manifestamente se fez sentir a influência nefasta dos falsos sabedores quando se tratou de combater (há quarenta anos) o oidium tuckery por meio de pulverizações de enxofre.
As terríveis desilusões dos que se deixaram induzir pelas informações dos maus conselheiros e o confronto com os resultados obtidos pelos mais ousados, pelos mais crentes – tudo isso foi suficiente para que o uso de enxofre se generalizasse, salvando-se as uvas tratadas, lastimando-se só que se tivessem perdido anteriormente tão avultadas colheitas, que, em grande parte, poderiam ter sido poupadas!
Aquele exemplo, esquecido talvez pelo afastamento de mais de trinta anos, não aproveitou quando em 1883 se tratava de desenvolver o combate contra a filoxera, empregando como curativo o sulfureto de carbone e como preventivo as cepas americanas.
Apesar de ser a recomendação do uso do sulfureto de carbone o resultado da observação nos países filoxerados e em Portugal (dadas as necessárias condições de composição e de estado físico do solo), não se acreditava geralmente na eficácia do poderoso inseticida, mas em compensação aceitava-se gostosamente muita receita, por mais extravagante que fosse a composição do misto, por mais inofensivos que fosse os seus elementos componentes.
Muitas vinhas, formadas por cepas indígenas, se plantaram ainda nos últimos anos nas regiões já atacadas, o que demonstra a falta de confiança naquilo que os competentes recomendavam como elemento de segurança.
O que não é condenável é que nas regiões consideradas indemnes, onde não era permitido o ingresso de bacelos americanos, se continuasse a planta vinhas formadas por cepas indígenas.
Era expressamente contra a lei o uso de bacelos americanos.
Ainda com relação ao tratamento do míldio repete-se o mesmo sentimento de incredulidade. Compreende-se que haja quem, duvidando da eficácia do agente terapêutico aconselhado, receie abalançar-se ao seu uso, temendo fazer a despesa de que ano aufira resultado, sendo, portanto, em pura perda todo o dispêndio realizado.
[…]
Nos últimos anos o míldio (peronospora viticoea) tinha em Portugal pouco desenvolvimento, salteando a infeção uma ou outra vinha em diversas regiões do país.
Por um conjunto de circunstâncias, favoráveis ao seu desenvolvimento, a invasão do míldio, durante a primavera e verão do ano findo, foi considerável.
Bastante incremento tomou o tratamento pelos compostos cúpricos, posto que não fosse tão geral como seria para desejar.
[…]
As terríveis desilusões dos que se deixaram induzir pelas informações dos maus conselheiros e o confronto com os resultados obtidos pelos mais ousados, pelos mais crentes – tudo isso foi suficiente para que o uso de enxofre se generalizasse, salvando-se as uvas tratadas, lastimando-se só que se tivessem perdido anteriormente tão avultadas colheitas, que, em grande parte, poderiam ter sido poupadas!
Aquele exemplo, esquecido talvez pelo afastamento de mais de trinta anos, não aproveitou quando em 1883 se tratava de desenvolver o combate contra a filoxera, empregando como curativo o sulfureto de carbone e como preventivo as cepas americanas.
Apesar de ser a recomendação do uso do sulfureto de carbone o resultado da observação nos países filoxerados e em Portugal (dadas as necessárias condições de composição e de estado físico do solo), não se acreditava geralmente na eficácia do poderoso inseticida, mas em compensação aceitava-se gostosamente muita receita, por mais extravagante que fosse a composição do misto, por mais inofensivos que fosse os seus elementos componentes.
Muitas vinhas, formadas por cepas indígenas, se plantaram ainda nos últimos anos nas regiões já atacadas, o que demonstra a falta de confiança naquilo que os competentes recomendavam como elemento de segurança.
O que não é condenável é que nas regiões consideradas indemnes, onde não era permitido o ingresso de bacelos americanos, se continuasse a planta vinhas formadas por cepas indígenas.
Era expressamente contra a lei o uso de bacelos americanos.
Ainda com relação ao tratamento do míldio repete-se o mesmo sentimento de incredulidade. Compreende-se que haja quem, duvidando da eficácia do agente terapêutico aconselhado, receie abalançar-se ao seu uso, temendo fazer a despesa de que ano aufira resultado, sendo, portanto, em pura perda todo o dispêndio realizado.
[…]
Nos últimos anos o míldio (peronospora viticoea) tinha em Portugal pouco desenvolvimento, salteando a infeção uma ou outra vinha em diversas regiões do país.
Por um conjunto de circunstâncias, favoráveis ao seu desenvolvimento, a invasão do míldio, durante a primavera e verão do ano findo, foi considerável.
Bastante incremento tomou o tratamento pelos compostos cúpricos, posto que não fosse tão geral como seria para desejar.
[…]
Ficheiros
Colecção
Citação
Francisco Simões Margiochi, “Esforços e diligências; esperanças e desenganos”. In O Manuelinho de Évora, Ano XIV, nº 666, p. 3., 22-02-1894. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 30 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/1440.