A SITUAÇÃO AGRÍCOLA
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Título
A SITUAÇÃO AGRÍCOLA
Criador
José Veríssimo de Almeida
Fonte
O Manuelinho de Évora, Ano XVI, nº 780, p. 1.
Data
10-05-1896
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
[…] Há anos, não posso precisar quantos, recebi do distrito de Évora uns pés de trigo atacados por doença que não conhecia a ainda. Nos canteiros, onde se tinham semeado trigos de procedência francesa, os colmos ficavam curtos, amareleciam, não espigavam e terminavam por secar.
[…]
O mal era novo, e para mim, impossível de determinar pela completa ausência de órgãos de reprodução. O aspeto era de uma Dematiacea. Por esse tempo tinham os srs. Prillieux e Delacroix reconhecido que uma doença em França vitimara certos trigos, era causada por um fungo já conhecido, o Ophiobolus graminis. O sr. Ramalho, agrónomo de Évora, na carta que acompanhava os pés de trigo, perguntava se não seria este fungo o causador do mal, porque as manifestações se assemelhavam às indicadas pelos dois micologistas do Instituto Nacional Agronómico de Paris.
Pela primeira vez escrevi ao dr. G. Delacroix, remetendo-lhe um exemplar do doente e perguntando-lhe o nome do fungo. O sr. Ramalho adivinhará: era o Ophiobolus graminis que o trigo francês importará de França. A doença não reapareceu; a destruição dos pés doentes, antes da organização das perítecas, foi a causa provável da não disseminação do mal pelos trigos nacionais.
Ora além desta há ainda outra espécie de Ophiobolus; há mais um Dilophia, com várias formas produtoras; uma espécie – única espécie – do género Gibellina que na Itália fez alguns estragos. Por enquanto não me consta que tenha feito a sua aparição nas searas qualquer daqueles parasitas. Na sua maioria poupam a espiga, pode porém suceder que na ocasião da ceifa, debulha e limpeza do cereal, algumas peritecas fiquem aderentes aos bagos e com estes sejam importadas.
No ano passado um micologista alemão encontrou no centeio um parasita já conhecido, mas não denunciando ainda em cereais cultivados. Em Maio também do ano passado, outro parasita – este agora novinho em folha – produziu danosos efeitos nos trigos da Sardenha. Por ora não foi ainda encontrado no continente italiano; e seria para desejar, embora não seja de esperar, que o parasita continuasse isolado nas searas da Sardenha.
Em Espanha um inseto daninho está causando graves prejuízos nos trigos da nação vizinha. Infelizmente o inseto não é desconhecido em Portugal; já lhe encontrei vestígios – larvas e ninfas – em trigos que me foram mandados do Centro agrícola industrial, há três ou quatro anos. Não sei que reaparecessem na mesma localidade, cujo nome ignoro, ou em outra qualquer porque não tem havido queixas contra este parasita.
Inútil me parece, em vista deste factos, acentuar mais não só a conveniência, mas a necessidade do banho de desinfeção aos trigos exóticos.
É preceito de boa higiene.
(Agr. Contemporânea)
Veríssimo de Almeida.
[…]
O mal era novo, e para mim, impossível de determinar pela completa ausência de órgãos de reprodução. O aspeto era de uma Dematiacea. Por esse tempo tinham os srs. Prillieux e Delacroix reconhecido que uma doença em França vitimara certos trigos, era causada por um fungo já conhecido, o Ophiobolus graminis. O sr. Ramalho, agrónomo de Évora, na carta que acompanhava os pés de trigo, perguntava se não seria este fungo o causador do mal, porque as manifestações se assemelhavam às indicadas pelos dois micologistas do Instituto Nacional Agronómico de Paris.
Pela primeira vez escrevi ao dr. G. Delacroix, remetendo-lhe um exemplar do doente e perguntando-lhe o nome do fungo. O sr. Ramalho adivinhará: era o Ophiobolus graminis que o trigo francês importará de França. A doença não reapareceu; a destruição dos pés doentes, antes da organização das perítecas, foi a causa provável da não disseminação do mal pelos trigos nacionais.
Ora além desta há ainda outra espécie de Ophiobolus; há mais um Dilophia, com várias formas produtoras; uma espécie – única espécie – do género Gibellina que na Itália fez alguns estragos. Por enquanto não me consta que tenha feito a sua aparição nas searas qualquer daqueles parasitas. Na sua maioria poupam a espiga, pode porém suceder que na ocasião da ceifa, debulha e limpeza do cereal, algumas peritecas fiquem aderentes aos bagos e com estes sejam importadas.
No ano passado um micologista alemão encontrou no centeio um parasita já conhecido, mas não denunciando ainda em cereais cultivados. Em Maio também do ano passado, outro parasita – este agora novinho em folha – produziu danosos efeitos nos trigos da Sardenha. Por ora não foi ainda encontrado no continente italiano; e seria para desejar, embora não seja de esperar, que o parasita continuasse isolado nas searas da Sardenha.
Em Espanha um inseto daninho está causando graves prejuízos nos trigos da nação vizinha. Infelizmente o inseto não é desconhecido em Portugal; já lhe encontrei vestígios – larvas e ninfas – em trigos que me foram mandados do Centro agrícola industrial, há três ou quatro anos. Não sei que reaparecessem na mesma localidade, cujo nome ignoro, ou em outra qualquer porque não tem havido queixas contra este parasita.
Inútil me parece, em vista deste factos, acentuar mais não só a conveniência, mas a necessidade do banho de desinfeção aos trigos exóticos.
É preceito de boa higiene.
(Agr. Contemporânea)
Veríssimo de Almeida.
Ficheiros
Colecção
Citação
José Veríssimo de Almeida , “A SITUAÇÃO AGRÍCOLA”. In O Manuelinho de Évora, Ano XVI, nº 780, p. 1., 10-05-1896. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 26 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/1452.