SECÇÃO AGRÍCOLA
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Título
SECÇÃO AGRÍCOLA
Criador
Um lavrador da terra quente
Fonte
O Nordeste, 7º Ano, nº 316, pp. 1-2.
Data
22-06-1895
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
Não haja receio algum dos tratamentos com sais de cobre nas doenças da vinha
À imprensa, aos médicos, aos agrónomos, e aos agricultores ilustrados deste distrito, compete espalhar dedicadamente por todas essas aldeias onde há videiras:
a) Que o míldio, em três anos de ataque forte, sem ser combatido, não só faz perder as colheitas, mas aniquila as videiras;
b) Que os sais de cobre não são perigosos para a saúde, mesmo em alta dose, porque sendo eméticos provocam o vómito, o que os torna o seu próprio antídoto;
c) Que em pequenas doses os mesmos sais são absolutamente inofensivos.
Este assunto, de magno interesse para a viticultura e para a saúde pública, tem sido estudado conscienciosamente por sumidades científicas, abundando experiências e análises que fazem desaparecer todos os receios que alguém possa ter ainda.
[…]
Os médicos portugueses, dr. Manuel Gomes da Silva e dr. Justino Freire, das grandes regiões vinhateiras do Cartaxo e Torres Vedras, concordarem absolutamente com a seguinte conclusão do Congresso Vitícola Nacional, realizado no corrente ano em Lisboa:
«Não há perigo algum em beber vinho bem fabricado e límpido com uvas que recebessem aplicações de sais de cobre.»
Justino Freire:
«Nós todos que há anos bebemos vinhos de uva tratada com os sais de cobre, ainda não morremos, nem sequer nos sentimos incomodados dos intestinos.»
[…]
Falemos agora dos preparados cúpricos:
Calda bordalesa
A sua fórmula é a seguinte: Sulfato de cobre, 2 kilogramas; cal (gorda) em pedra, 1 kilograma; água, 100 litros.
Para se fazer esta mistura procede-se do modo seguinte:
Em uma barrica, dorna ou celha de madeira, lançam-se 90 litros de água. Os kilogramas de sulfato de cobre apertam-se em um bocado de lona grosseira, ou estopa, e por meio de um cordel suspende-se de um pau, que se atravessa na boca da dorna ou da barrica, de forma que a boneca da lona com o sulfato de cobre fique completamente mergulhada na água da barrica, onde estão os 90 litros de água. O kilograma de cal em pedra lança-se em uma pequena celha de madeira, deitando-se sobre esta cal os 10 litros de água restantes. A cal, apagando-se, vai formando um leite que se deve ir mexendo para que não fiquem depósitos.
Só depois de estar completamente dissolvido o sulfato de cobre na dorna de 90 litros de água e depois de estar formado um leite de cal, onde esta esteja bem dissolvida, é que se faz a mistura do leite de cal com o sulfato de cobre dissolvido.
Deve lançar-se o leite de cal na solução de sulfato de cobre e nunca o sulfato de cobre no leite de cal.
O leite de cal lança-se pouco a pouco na solução de sulfato de cobre, mexendo-se com força e com uma vara de madeira, esta mistura, durante a operação e ainda algum tempo depois.
Forma-se uma verdadeira calda, de uma bela cor azul.
Quando se deixa em repouso, forma-se um depósito no fundo da dorna, sendo por isso necessário, cada vez que se quer tirar a calda da dorna, mexer a mistura com uma vara para que aquela se torne bem homogénea.
Como em muitas localidades deste distrito há grande dificuldade em se obter cal, quando se necessita para a preparação da calda bordalesa, vamos indicar um meio de obviar a este contratempo.
Os viticultores compram a cal quando a poderem obter em qualquer época do ano e fazem logo um leite de cal que deverão guardar para a ocasião da preparação da calda.
Dissolvidos os dois kilogramas de sulfato de cobre em 90 litros de água, vão deitando o leite de cal a pouco e pouco, na solução de sulfato.
E para se reconhecer quando se deve parar com o leite de cal, emprega-se o papel de tornesol que é barato e que se deve encontrar em quási todas as farmácias.
O papel de tornesol pode ser vermelho ou azul.
Serve com qualquer das cores. Sendo vermelho, mergulhado na dissolução de sulfato de cobre, conserva a cor; vai-se então deitando o leite de cal e mexendo constantemente até que o papel comece a azular. Em o papel tomando esta cor, não se deita mais leite de cal.
Se o papel é azul, toma a cor vermelha em se metendo na dissolução de sulfato de cobre e conserva esta cor enquanto a cal não é em excesso.
Em tornando à cor azul não se deita mais leite de cal.
A calda bordalesa não se deve fazer a mais de 2 kilogramas de sulfato de cobre por 100 litros de água no primeiro tratamento; e no segundo tratamento, e sempre, nunca deverá exceder-se a quantidade de 3 kilogramas de sulfato de cobre, visto doses muito elevadas redundarem em prejuízo do viticultor e nada adiantarem na prevenção do mal.
A calda bordalesa tem ainda pouca aderência; uma forte chuvada pode varrê-la completamente das folhas. É necessário neste caso fazer logo nova aplicação.
Calda delfinesa
Duma parte dissolver:
Sulfato de cobre, 2 kilogramas; água, a necessária para a dissolução.
Doutra parte dissolver:
Carbonato de soda, 1 kilograma; água a necessária para a dissolução.
Lança-se a solução de carbonato de soda na do sulfato de cobre, e junta-se a tudo água em quantidade tal que vá completar 100 litros, contando-se já com a empregada nas duas soluções.
Prepara-se todas as manhãs a quantidade de calda delfinesa para se gastar no dia, e não mais quantidade, porque o depósito que ela forma torna-se pesado e obsta à boa pulverização.
Calda açucarada
Sulfato de cobre, 2 kilogramas; cal em pedra, 1 kilograma; água, 100 litros; melaço, 200 a 500 gramas.
Ao leite de cal é que se junta o melaço, seguindo-se o mesmo processo de calda bordalesa.
A calda açucarada é muito aderente.
Calda do comércio
É a calda já em pó a que se presta a preparação instantânea. Lançam-se 2 kilogramas de calda em pó em 100 litros de água. Fica imediatamente feita, depois da dissolução dos pós que é rápida a calda bordalesa.
Sulfosteatite
Preparado feito com silicato de magnésia e sulfato de cobre.
Vende-se misturada com enxofre.
Enxofres cúpricos
São os enxofres misturados ou com sulfato de cobre, ou com bióxido de cobre hidratado.
Regras gerais de tratamento:
1º - Os tratamentos para serem eficazes devem ser preventivos, isto é, feitos antes que o míldio apareça:
2º - Os melhores tratamentos são os líquidos;
3º - Pulverizar unicamente a página superior das folhas;
4º - Pulverizar toda a superfície da página superior;
5º - As doses de sulfato de cobre, superiores a 2 por cento, são dispendiosas e inúteis;
6º - O 1º tratamento deve ser feito quando os rebentos têm 20 a 25 centímetros de comprimento; o 2º tratamento 20 a 25 dias depois; o 3º quando a vinha tem adquirido todo o seu desenvolvimento herbáceo; se aparecer uma invasão forte aplicar imediatamente outro tratamento;
7º - Os tratamentos líquidos devem ser completados, sobretudo, quando as invasões são graves, por enxofres cúpricos;
8º - Qualquer que seja o enxofre empregado contra o oídio, deve fazer-se a sua aplicação 5 ou 6 dias antes da aplicação das caldas cúpricas, para se deixar ao enxofre tempo de exerce completamente a sua ação.
À imprensa, aos médicos, aos agrónomos, e aos agricultores ilustrados deste distrito, compete espalhar dedicadamente por todas essas aldeias onde há videiras:
a) Que o míldio, em três anos de ataque forte, sem ser combatido, não só faz perder as colheitas, mas aniquila as videiras;
b) Que os sais de cobre não são perigosos para a saúde, mesmo em alta dose, porque sendo eméticos provocam o vómito, o que os torna o seu próprio antídoto;
c) Que em pequenas doses os mesmos sais são absolutamente inofensivos.
Este assunto, de magno interesse para a viticultura e para a saúde pública, tem sido estudado conscienciosamente por sumidades científicas, abundando experiências e análises que fazem desaparecer todos os receios que alguém possa ter ainda.
[…]
Os médicos portugueses, dr. Manuel Gomes da Silva e dr. Justino Freire, das grandes regiões vinhateiras do Cartaxo e Torres Vedras, concordarem absolutamente com a seguinte conclusão do Congresso Vitícola Nacional, realizado no corrente ano em Lisboa:
«Não há perigo algum em beber vinho bem fabricado e límpido com uvas que recebessem aplicações de sais de cobre.»
Justino Freire:
«Nós todos que há anos bebemos vinhos de uva tratada com os sais de cobre, ainda não morremos, nem sequer nos sentimos incomodados dos intestinos.»
[…]
Falemos agora dos preparados cúpricos:
Calda bordalesa
A sua fórmula é a seguinte: Sulfato de cobre, 2 kilogramas; cal (gorda) em pedra, 1 kilograma; água, 100 litros.
Para se fazer esta mistura procede-se do modo seguinte:
Em uma barrica, dorna ou celha de madeira, lançam-se 90 litros de água. Os kilogramas de sulfato de cobre apertam-se em um bocado de lona grosseira, ou estopa, e por meio de um cordel suspende-se de um pau, que se atravessa na boca da dorna ou da barrica, de forma que a boneca da lona com o sulfato de cobre fique completamente mergulhada na água da barrica, onde estão os 90 litros de água. O kilograma de cal em pedra lança-se em uma pequena celha de madeira, deitando-se sobre esta cal os 10 litros de água restantes. A cal, apagando-se, vai formando um leite que se deve ir mexendo para que não fiquem depósitos.
Só depois de estar completamente dissolvido o sulfato de cobre na dorna de 90 litros de água e depois de estar formado um leite de cal, onde esta esteja bem dissolvida, é que se faz a mistura do leite de cal com o sulfato de cobre dissolvido.
Deve lançar-se o leite de cal na solução de sulfato de cobre e nunca o sulfato de cobre no leite de cal.
O leite de cal lança-se pouco a pouco na solução de sulfato de cobre, mexendo-se com força e com uma vara de madeira, esta mistura, durante a operação e ainda algum tempo depois.
Forma-se uma verdadeira calda, de uma bela cor azul.
Quando se deixa em repouso, forma-se um depósito no fundo da dorna, sendo por isso necessário, cada vez que se quer tirar a calda da dorna, mexer a mistura com uma vara para que aquela se torne bem homogénea.
Como em muitas localidades deste distrito há grande dificuldade em se obter cal, quando se necessita para a preparação da calda bordalesa, vamos indicar um meio de obviar a este contratempo.
Os viticultores compram a cal quando a poderem obter em qualquer época do ano e fazem logo um leite de cal que deverão guardar para a ocasião da preparação da calda.
Dissolvidos os dois kilogramas de sulfato de cobre em 90 litros de água, vão deitando o leite de cal a pouco e pouco, na solução de sulfato.
E para se reconhecer quando se deve parar com o leite de cal, emprega-se o papel de tornesol que é barato e que se deve encontrar em quási todas as farmácias.
O papel de tornesol pode ser vermelho ou azul.
Serve com qualquer das cores. Sendo vermelho, mergulhado na dissolução de sulfato de cobre, conserva a cor; vai-se então deitando o leite de cal e mexendo constantemente até que o papel comece a azular. Em o papel tomando esta cor, não se deita mais leite de cal.
Se o papel é azul, toma a cor vermelha em se metendo na dissolução de sulfato de cobre e conserva esta cor enquanto a cal não é em excesso.
Em tornando à cor azul não se deita mais leite de cal.
A calda bordalesa não se deve fazer a mais de 2 kilogramas de sulfato de cobre por 100 litros de água no primeiro tratamento; e no segundo tratamento, e sempre, nunca deverá exceder-se a quantidade de 3 kilogramas de sulfato de cobre, visto doses muito elevadas redundarem em prejuízo do viticultor e nada adiantarem na prevenção do mal.
A calda bordalesa tem ainda pouca aderência; uma forte chuvada pode varrê-la completamente das folhas. É necessário neste caso fazer logo nova aplicação.
Calda delfinesa
Duma parte dissolver:
Sulfato de cobre, 2 kilogramas; água, a necessária para a dissolução.
Doutra parte dissolver:
Carbonato de soda, 1 kilograma; água a necessária para a dissolução.
Lança-se a solução de carbonato de soda na do sulfato de cobre, e junta-se a tudo água em quantidade tal que vá completar 100 litros, contando-se já com a empregada nas duas soluções.
Prepara-se todas as manhãs a quantidade de calda delfinesa para se gastar no dia, e não mais quantidade, porque o depósito que ela forma torna-se pesado e obsta à boa pulverização.
Calda açucarada
Sulfato de cobre, 2 kilogramas; cal em pedra, 1 kilograma; água, 100 litros; melaço, 200 a 500 gramas.
Ao leite de cal é que se junta o melaço, seguindo-se o mesmo processo de calda bordalesa.
A calda açucarada é muito aderente.
Calda do comércio
É a calda já em pó a que se presta a preparação instantânea. Lançam-se 2 kilogramas de calda em pó em 100 litros de água. Fica imediatamente feita, depois da dissolução dos pós que é rápida a calda bordalesa.
Sulfosteatite
Preparado feito com silicato de magnésia e sulfato de cobre.
Vende-se misturada com enxofre.
Enxofres cúpricos
São os enxofres misturados ou com sulfato de cobre, ou com bióxido de cobre hidratado.
Regras gerais de tratamento:
1º - Os tratamentos para serem eficazes devem ser preventivos, isto é, feitos antes que o míldio apareça:
2º - Os melhores tratamentos são os líquidos;
3º - Pulverizar unicamente a página superior das folhas;
4º - Pulverizar toda a superfície da página superior;
5º - As doses de sulfato de cobre, superiores a 2 por cento, são dispendiosas e inúteis;
6º - O 1º tratamento deve ser feito quando os rebentos têm 20 a 25 centímetros de comprimento; o 2º tratamento 20 a 25 dias depois; o 3º quando a vinha tem adquirido todo o seu desenvolvimento herbáceo; se aparecer uma invasão forte aplicar imediatamente outro tratamento;
7º - Os tratamentos líquidos devem ser completados, sobretudo, quando as invasões são graves, por enxofres cúpricos;
8º - Qualquer que seja o enxofre empregado contra o oídio, deve fazer-se a sua aplicação 5 ou 6 dias antes da aplicação das caldas cúpricas, para se deixar ao enxofre tempo de exerce completamente a sua ação.
Ficheiros
Colecção
Citação
Um lavrador da terra quente, “SECÇÃO AGRÍCOLA”. In O Nordeste, 7º Ano, nº 316, pp. 1-2., 22-06-1895. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 29 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/1501.