Notícia da invasão da moléstia das vinhas chamada – oydium tuckery – nos terrenos do Douro
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Título
Notícia da invasão da moléstia das vinhas chamada – oydium tuckery – nos terrenos do Douro
Criador
A. Buller
Fonte
O Bejense, Ano III, nº 120, p. 3.
Data
11-04-1863
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
Com referência ao ano de 1853, e por o julgarmos interessante, extraímos dos anais da câmara municipal de Vila Real o seguinte:
«A epidriada que começou na Inglaterra, e aí lhe deu Tucher o nome de oídio, depois de invadir progressivamente a França e Itália, veio à ilha da Madeira, daí à Estremadura, e por último ao país vinícola do Douro.
Já nas proximidades do Peso da Régua apareceu em 1852, mas só claramente se notou em 1853, nos princípios de Julho, em todos os concelhos vinícolas.
Vista a olhos desarmados acomete primeiro alguns bagos, depois os cachos, em que emprega 14 a 21 dias; sob a mucedínea descobrem-se nódoas escuras, ferrugentas, cinzentas nos bagos, pedúnculos dos espigos, nos pés das uvas, nos pecíolos dos mesmos, nas varas e nas folhas.
As partes cobertas de oídio exalam um cheiro nauseabundo. O estado mórbido de dia para dia é mais característico, as folhas abatem-se e amarelecem, os cachos contraem-se, a seiva deixa de se espalhar pelos órgãos vegetativos, e o fruto se torna vítima da putrefação.
Uns dizem que a moléstia é produzida pelos ácaros ou bichos que se depositam na superfície da planta, outros pelos esporos – corpos pequeníssimos – que se introduzem pelos poros do vegetal, e envenenam a seiva da planta; outros que a moléstia provém dos maus sucos que a vide colhe da terra – mostra isto que se ignora a causa da moléstia, mas parece que é um quid atmosférico para as plantas, como a cólera para os animais.
São invadidos, além das vinhas outros vegetais, como feijões, batatas, árvores frutíferas, etc.
Os concelhos mais atacados são os das margens do Douro, e a moléstia começou naquele ano de 1853 pelo tempo da frutificação e maturação.
Insuflações de enxofre, de água de cal, de ácido sulfúrico, de alcatrão foram remédios muito apregoados, que na aproveitaram (exceto o enxofre).
A humidade desenvolve muito a epidriada – está progredido nos três meses de Julho, Agosto e Setembro. As uvas mais atacadas são das de castas, e as tintas, na seguinte ordem: Alicante, Ferrais, Moscatel, Malvasia, Gouveio, Tinto-Cão, Tinta-Amarela.
Avaliam-se em cem mil pipas as perdas sofridas. Criaram-se em todos os concelhos comissões para examinar a moléstia, que davam notícias regulares para o governo civil, e este para a governação do Estado. À vista do exposto vê-se que se não tem descoberto nem a causa, nem o remédio para a epidriada, apesar do trabalho dos sábios, e prémios prometidos por muitos governos.
Acerca de tal assunto há um circunstanciado relatório no governo civil de Vila Real.
Vila Real 8 de Março de 1863
«A epidriada que começou na Inglaterra, e aí lhe deu Tucher o nome de oídio, depois de invadir progressivamente a França e Itália, veio à ilha da Madeira, daí à Estremadura, e por último ao país vinícola do Douro.
Já nas proximidades do Peso da Régua apareceu em 1852, mas só claramente se notou em 1853, nos princípios de Julho, em todos os concelhos vinícolas.
Vista a olhos desarmados acomete primeiro alguns bagos, depois os cachos, em que emprega 14 a 21 dias; sob a mucedínea descobrem-se nódoas escuras, ferrugentas, cinzentas nos bagos, pedúnculos dos espigos, nos pés das uvas, nos pecíolos dos mesmos, nas varas e nas folhas.
As partes cobertas de oídio exalam um cheiro nauseabundo. O estado mórbido de dia para dia é mais característico, as folhas abatem-se e amarelecem, os cachos contraem-se, a seiva deixa de se espalhar pelos órgãos vegetativos, e o fruto se torna vítima da putrefação.
Uns dizem que a moléstia é produzida pelos ácaros ou bichos que se depositam na superfície da planta, outros pelos esporos – corpos pequeníssimos – que se introduzem pelos poros do vegetal, e envenenam a seiva da planta; outros que a moléstia provém dos maus sucos que a vide colhe da terra – mostra isto que se ignora a causa da moléstia, mas parece que é um quid atmosférico para as plantas, como a cólera para os animais.
São invadidos, além das vinhas outros vegetais, como feijões, batatas, árvores frutíferas, etc.
Os concelhos mais atacados são os das margens do Douro, e a moléstia começou naquele ano de 1853 pelo tempo da frutificação e maturação.
Insuflações de enxofre, de água de cal, de ácido sulfúrico, de alcatrão foram remédios muito apregoados, que na aproveitaram (exceto o enxofre).
A humidade desenvolve muito a epidriada – está progredido nos três meses de Julho, Agosto e Setembro. As uvas mais atacadas são das de castas, e as tintas, na seguinte ordem: Alicante, Ferrais, Moscatel, Malvasia, Gouveio, Tinto-Cão, Tinta-Amarela.
Avaliam-se em cem mil pipas as perdas sofridas. Criaram-se em todos os concelhos comissões para examinar a moléstia, que davam notícias regulares para o governo civil, e este para a governação do Estado. À vista do exposto vê-se que se não tem descoberto nem a causa, nem o remédio para a epidriada, apesar do trabalho dos sábios, e prémios prometidos por muitos governos.
Acerca de tal assunto há um circunstanciado relatório no governo civil de Vila Real.
Vila Real 8 de Março de 1863
Ficheiros
Colecção
Citação
A. Buller, “Notícia da invasão da moléstia das vinhas chamada – oydium tuckery – nos terrenos do Douro”. In O Bejense, Ano III, nº 120, p. 3., 11-04-1863. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 26 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/1571.