Pragas nos Periódicos

Os Gafanhotos

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Título

Os Gafanhotos

Criador

s/ autor

Fonte

Gazeta das Aldeias, Vol VII, nº173, pág.195-196

Data

23-04-1899

Colaborador

Catarina Rodrigues

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[...] "Descrevendo os estragos destes insetos nefastos, escreve Künckel de Herculais:
As gramíneas constituem a alimentação predileta dos acrídios; nas condições naturais, teriam que sofrer com a voracidade, as que vivem no estado selvagem; mas oferecendo-lhes o homem imensos espaços cobertos de plantas saborosas, como o trigo, o centeio, a cevada, a aveia, eles preferem fazer a colheita por sua própria conta, e não hesitam em comer-lhe o trigo em verde. A fome é, todavia o grande dominador; de tal sorte que quando estes insetos se vêem privados dos alimentos prediletos, atacam todos os vegetais cultivados, sejam eles quais forem: pampanos, parras, cachos, rebentos, folhas, ramos de árvores, tudo desaparece sob as suas mandíbulas. Apertados pela fome nem desprezam as plantas que ordinariamente respeitam, tais como o loureiro, lentisco, e as palmeiras novas. Em caso extremo de fome atacam as cascas das árvores, e até já se têm visto, cativos, devorar velas de navio, abrigadas debaixo de alpendres, destruir cortinados, roupa branca, fato e roer papel. E ai do que morre, que o seu cadáver é imediatamente devorado pelos seus companheiros sobreviventes.

Isto Já dá uma ideia da voracidade deste inseto e dos espantosos destroços que ele causa quando aparece, como agora aconteceu entre nós, em massas de milhões de indivíduos. Mas, a propósito da voracidade dos gafanhotos e da rapidez com que, assim em massa, podem fazer enormes devastações, cita Acloque o caso curioso de um inglês que, em menos de um minuto, viu desaparecer sob as mandíbulas deste terrível ortoptero os 14000 pés de tabaco que constituiam a sua plantação! Parece ter-se reconhecido que, pelo que respeita ao flagelo atual do Algarve, não se trata verdadeiramente de uma invasão, ou por outra, de uma imigraçãode gafanhotos vindos de Espanha, como a principio se disse; mas sim da eclosão de uma enormidade de óvulos ali depositados por uma grande quantidade de gafanhotos que em Julho do ano anterior [1898] ali passaram, procedentes então efetivamente do país vizinho. Esta hipótese torna interessantes os seguintes dados sobre propagação do inseto: os ovos postos um a um, reunidos em cacho, e aglutinados numa espécie de bolsa que encerra de trinta a cem, segundo as espécies. A eclosão realiza-se de 20 a 40 dias depois, segundo as circunstâncias climáticas. Algumas vezes os ovos depostos na terra só se abrem na primavera imediata, e será este o caso atual. Após 5 mudas o inseto tem adquirido todo o seu desenvolvimento, está alado e apto para se reproduzir. Tanto os gafanhotos novos com os adultos vivem em bandos, e daí resultam as conhecidas invasões: as dos novos insetos cujas colunas extensas descem das colinas onde nasceram; as dos insetos alados que, vindos muitas vezes de longínquas paragens caem subitamente sobre as culturas. Umas e outras são igualmente temíveis.
Seria trabalho longo, e afinal de limitada utilidade prática, o descrever todos os meios de que se tem lançado mão para combater este temível inimigo, desde a simples caça à rede até tiros de canhão contra as grandes massas de insetos alados formando espessas nuvens. De resto, as armas defensivas variam segundo os países. Depois,infelizmente, a ação do homem, ainda até hoje não deu mais que resultados incompletos. buscar as posturas e destruir os casulos ou bolsas ovígeras são operações penosas; esmagar ou queimar os gafanhotos novos antes da sua emigração, é coisa pouco fácil, porque demanda rapidez, visto que estes ortopteros fogem do sítio em que nasceram, ao cabo de 5 ou 6 dias. O mais simples é, afinal, estudar os diversos e mais apropriados meios de proteger as culturas, segundo as circunstâncias especiais topográficas; esperar a invasão a pé firme, preparando-se tudo para a combater e repelir. Foi precisamente isto que se fez e com êxito, visto que segundo a nota oficial que vimos publicada no dia 8 [de Abril de 1899] tinham sido apanhados e enterrados 240 toneladas de gafanhotos. Este serviço, em que tem tomado grande parte as população rurais, será tanto mais útil quanto se possa evitar que os insetos entrem no período de propagação.”

Ficheiros

Citação

s/ autor, “Os Gafanhotos”. In Gazeta das Aldeias, Vol VII, nº173, pág.195-196, 23-04-1899. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 26 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/172.

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