Os gafanhotos

Os gafanhotos

B. F.

Gazeta das Aldeias, Vol XII, nº290, pág. 26

21-07-1901

Catarina Rodrigues

“Quase toda a imprensa periódica se tem referido já à enorme quantidade de gafanhotos que ultimamente tem invadido o país. Essas referências, porém, temo-las visto feitas muito ao de leve, e como se se tratasse de um caso mais ou menos curioso de noticiário e nada mais. E no entanto o assunto é mais sério do que muitos indiferentes e fleumáticos imaginam: trata-se de um inimigo que num futuro próximo nos pode trazer a fome, com graves perturbações de ordem social. Não exageramos, os gafanhotos têm, é certo, alimentos que preferem e portanto que comem primeiro, mas acabados esses tudo lhes serve, devoram tudo é questão de tempo. Ora sendo assim, é preciso pois, tratar por todos os meios de exterminar tão terrível inimigo; este ano deixam eles em diferentes pontos e nomeadamente nos Concelhos de Niza, Castelo de Vide, Elvas, Campo Maior, etc. farta e abundante sementeira de óvulos, urge pois destruí-los enquanto é tempo; é necessário que os esforços de todos – proprietários e governo – se conjuguem para combater o flagelo.[…] O governo que trate de enviar às regiões, agrónomos inteligentes e ativos que não se poupem a canseiras e incómodos de viagens, e que depois das convenientes pesquisas, auxiliadas por informações locais, indiquem e ensinem o meio mais simples de destruição dos óvulos. Imponha o governo, mas a sério e sob pena de multas, aos proprietários desses terrenos, a obrigação de destruir os óvulos segundo as indicações da ciência […]"