Secção de correspondências
Porto, 12 de Março de 1890
(Do nosso correspondente.)

Secção de correspondências
Porto, 12 de Março de 1890
(Do nosso correspondente.)

S/ autor

O Jornal de Cantanhede, n.º 39, pág. 3, col. 4, pág. 4, col. 1,2

16-03-1890

Pedro Barros

Com a máxima imparcialidade e desprendimento partidário, vou cumprir o meu compromisso, sobre a onerosa contribuição predial que estão pagando para o Estado, os contribuintes deste concelho. É sabido de todos os srs. viticultores, o desgraçado estado em que estão al as nossas vinhas dizimadas pela filoxera.
Este terrível parasita, avança, rapidamente invadindo todos os vinhedos, porque não existe nenhum 'nessa região que não esteja filoxerado. A freguesias de Murtede e Sepins, são as que mais têm sofrido; lá estão os terrenos devolutos, porque as vinhas já desapareceram quase todas, e as poucas que existem pouco viverão. É triste e doloroso ver o lúgubre aspecto desses terrenos que ainda há três anos estavam tapetados de verdura com as suas videiras verdejantes, carregadas de fruto, que eram o nosso encanto e a nossa esperança — e hoje vemos uma grande parte transformada em pinhais. Não sendo já bastantes os grandes prejuízos que nos acarreta esta grande desgraça e privados da única receita que apurávamos com o produto do vinho — vemos que as nossas contribuições prediais têm sido aumentadas consideravelmente, agravando assim a nossa precária situação. Nestas circunstâncias, entendo e para interesse de todos que os srs. proprietários deste concelho devem reunir-se em cada uma freguesia para resolverem colectivamente o pedido de um abatimento de tantos por cento nas contribuições prediais que actualmente estão pagando.
O pedido deve ser feito por meio de representação aos poderes públicos assinados pelos principais proprietários de todas as freguesias, e depois entregue à câmara municipal e ao futuro representante do círculo para entregar ao governo e recomendar o seu deferimento.
(…)
Sabemos perfeitamente que a lei nos concede a faculdade de reclamação pedindo a anulação de contribuição pelos terrenos filoxerados, mas não nos conformámos com este processo porque, tendo de recorrer-se às avaliações desses terrenos — nem sempre são justas, acarretando grandes despesas que afinal o contribuinte é que tem de pagar.
(…)
E já que tocamos neste ponto, é minha opinião que essas revisões não têm hoje razão de ser, visto que a base principal a que atingia o governo para o aumento nas contribuições, já não existe com o desaparecimento das vinhas.
(…)
A escola prática de agricultura, que ultimamente foi engrandecer Anadia, devia ter sido estabelecida em Cantanhede, como ponto mais central, económico e de grande utilidade para os srs viticultores da região da Bairrada. Infelizmente para essa vila nem um simples posto filoxérico concederam! O posto lá está em Orta e a escola prática—quase na extremidade dessa região.
(…)