ASSUNTOS FILOXÉRICOS
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Título
ASSUNTOS FILOXÉRICOS
Criador
S/ autor
Fonte
O Jornal de Cantanhede, n.º 48, Pág. 1, col. 1,2,3
Data
18-05-1890
Colaborador
Pedro Barros
Text Item Type Metadata
Text
É de tão grande interesse para nós tudo o que diz respeito ao terrível flagelo que vai fazendo desaparecer os nossos belos vinhedos, fazendo que não podemos resistir à tentação de transcrever para aqui alguns períodos dum bem elaborado artigo que, sob a epígrafe = Assuntos filoxéricos = publicou a excelente revista — Portugal Agrícola — num dos seus últimos números. O autor desse artigo, depois de algumas considerações sobre viticultura e sobre as causas que, além da filoxera, tem concorrido para a decadência dos nossos vinhedos, diz o seguinte: Nestas condições qual deverá ser o modo de proceder dos viticultores em face da actual invasão filoxérica? Isto que todos perguntam e é esta a parte melindrosa da questão. Eu tenho ouvido e visto por todo o país opiniões e exemplos os mais contraditórios com relação a tratamento de vinhas pelo sulfureto e parece incrível que estes factos se dêem ainda hoje, depois de muito que se tem dito e escrito sobre o assunto. Uns condenam o sulfureto, apontando exemplos de insucessos, ou casos em que o sulfureto tem concorrido para a morte mais rápida das videiras e por isso rejeitam-no em absoluto. Outros têm uma grande confiança no sulfureto, apresentam exemplos incontestáveis da eficácia deste insecticida e vêem nele a salvação da viticultura. Aqueles são por certo os que têm menos razão, porque os insucessos do sulfureto são sempre e positivamente devidos ou a má aplicação ou a aplicação em condições impróprias. Estes são os náufragos da viticultura que vêem no sulfureto a sua tábua de salvação, cuja possibilidade antevêem sem lhe medirem as probabilidades de bom êxito, ou de morte, de encontro ao escolho do seu fim capital, que é a abstenção do rendimento líquido a que sempre miram e de que não podem prescindir. De tudo isto tenho visto exemplos muito frisantes, muito tocantes. O que ainda não encontrei foi um viticultor que, em face de uma conta de cultura, me dissesse:— Trato esta vinha, porque a sua produção não só cobre as despesas ordinárias de granjeio, aumentadas com as despesas de aplicação de sulfureto e adubações mas ainda me dá um rendimento líquido de tantos por cento do capital empregado. Abandono aquela vinha ou aqueloutra, porque a sua produção apenas equilibra as despesas ou dá um deficit. Aqui está o verdadeiro caminho para o modo de proceder dos viticultores em presença das suas vinhas, em face da invasão filoxérica.
Sujeitando a aplicação do sulfureto a estas condições, que são as verdadeiramente práticas e as únicas aceitáveis pelos proprietários viticultores, poderá ele ser considerado como o salvador da nossa viticultura?
Eu creio que não e por diversas razões. Eu já disse e repito: — a nossa viticultura está constituída em condições inteiramente particulares que não admitem no geral a aplicação do sulfureto em condições remuneradoras, em face de uma conta de cultura conveniente e cuidadosamente estabelecida, ainda mesmo que o viticultor possa obter, como obtém, o sulfureto por um terço do seu custo de produção, pois que se tivesse de o pagar pelo custo de produção em condições regulares de mercado, só em casos muito restritos e verdadeiramente excepcionais, poderia o sulfureto ter aplicação económica.»
Sobre a aplicação do sulfureto conclui judiciosamente o autor:
«O sulfureto pois, só pode ter uma aplicação económica muito restrita com relação ao desenvolvimento geral "da nossa viticultura, grande parte da qual nem já mesmo é susceptível de benefício, porque ou já está totalmente destruída ou no ultimo estado de decadência e abatimento.
Passando depois a ponderar o valor dos outros meios de tratamento diz:
«Se investigarmos o que possa dar-se com os outros elementos de luta, não só chegaríamos a conclusões pouco diferentes das estabelecidas para o sulfureto, mas ainda, em caso de possibilidade de aplicação e execução vantajosa, deparar-se-ia com outras que, nas condições actuais, não só restringiriam, mas até impossibilitariam a sua acção.
Que isto é verdade, vê-o quem visitar as nossas regiões vinhateiras filoxeradas, cujo estado é a prova mais frisante de que os meios de luta até hoje propostos, não satisfazem, como elemento salvador da nossa viticultura, que nas condições actuais e em face do estado actual da invasão filoxérica, necessita ser remodelada e constituída sob novas bases, e é então que esses meios de luta, como auxiliares, podem prestar grandes serviços.
Presentemente o que o viticultor deve ter em vista é escolher dos seus vinhedos os melhores, os mais bem constituídos, de maior rendimento e que em condições convenientes se prestem aos tratamentos pelos meios aconselhados, restringindo o campo de luta, tanto quanto seja necessário para proporcionar essa luta às suas forças, fazendo depender tudo de rigorosas contas de cultura, que devem fechar-se sempre com um rendimento remunerador. Vinhas que não estejam 'nestas condições devem abandonar-se, porque estão totalmente condenadas.»
Depois de todas estas considerações termina o autor, expondo a sua opinião sobre o melhor modo de conjurar esta crise agrícola: «Tendo de renunciar-se à regeneração total da nossa viticultura em face da invasão filoxérica, sem falar, por enquanto, na exploração de novas culturas, o que só mais tarde e pouco a pouco pode ter lugar, porque as circunstâncias actuais urgem, ternos de tornar recurso no que actualmente possuímos, que ainda não é pouco e para isso temos no primeiro plano, a cultura dos cereais, elemento que constitui a base da alimentação da nossa população, secundando-a por outras explorações que o país já possui, de que é francamente susceptível e que podem ser ampliadas.
Mas, nas condições actuais, a cultura dos cereais sem as convenientes adubações é impossível por pouco remuneradora e para isto, como para o mais que é necessário fazer-se, são necessários capitais, mas capitais baratos e por preço tal que recompensem o trabalho de quem agricolamente os ponha em acção de produção. Só assim podemos afrontar a crise que está prestes a manifestar-se. Como chegar a este desiderato, o único que pode salvar a nossa indústria agrícola dos desastres que a ameaçam? A solução do problema não me parece tão difícil como a muitos se afigura, pois que ela só depende do estabelecimento do crédito agrícola pela criação de bancos rurais, instituídos sobre bases convenientes e aceitáveis. Eu bem sei que as tentativas feitas neste intuito, tanto no país, como lá fora, na Suíça, na Dinamarca, na Bélgica, na França, na Itália, na Alemanha, na Espanha e outros países, têm sido ou infrutíferas ou de resultados pouco apreciáveis. Creio porém que estes insucessos tem como coisa principal o facto de tratar-se a questão só na sua especialidade, quando ela é complexa, tendo por isso de ser secundada pela cooperação de outras questões que lhe devem servir de auxiliar, amparo e apoio, resultando da acção mútua dos elementos que devem entrar em bem combinado jogo o valor da incógnita que pretende achar-se e que para o nosso país é, nas condições actuais, uma questão de primeira ordem.»
Aqui ficam essas considerações com que concordamos plenamente. Intendemos que é preciso fazer-se alguma coisa, mas com método e cálculo, e não nos deixarmos ficar de braços cruzados a contemplar indolentemente, e com uma indiferença nociva, o aniquilamento rápido e progressivo de uma das nossas melhores fontes do receita agrícola.
DIACLARO
Sujeitando a aplicação do sulfureto a estas condições, que são as verdadeiramente práticas e as únicas aceitáveis pelos proprietários viticultores, poderá ele ser considerado como o salvador da nossa viticultura?
Eu creio que não e por diversas razões. Eu já disse e repito: — a nossa viticultura está constituída em condições inteiramente particulares que não admitem no geral a aplicação do sulfureto em condições remuneradoras, em face de uma conta de cultura conveniente e cuidadosamente estabelecida, ainda mesmo que o viticultor possa obter, como obtém, o sulfureto por um terço do seu custo de produção, pois que se tivesse de o pagar pelo custo de produção em condições regulares de mercado, só em casos muito restritos e verdadeiramente excepcionais, poderia o sulfureto ter aplicação económica.»
Sobre a aplicação do sulfureto conclui judiciosamente o autor:
«O sulfureto pois, só pode ter uma aplicação económica muito restrita com relação ao desenvolvimento geral "da nossa viticultura, grande parte da qual nem já mesmo é susceptível de benefício, porque ou já está totalmente destruída ou no ultimo estado de decadência e abatimento.
Passando depois a ponderar o valor dos outros meios de tratamento diz:
«Se investigarmos o que possa dar-se com os outros elementos de luta, não só chegaríamos a conclusões pouco diferentes das estabelecidas para o sulfureto, mas ainda, em caso de possibilidade de aplicação e execução vantajosa, deparar-se-ia com outras que, nas condições actuais, não só restringiriam, mas até impossibilitariam a sua acção.
Que isto é verdade, vê-o quem visitar as nossas regiões vinhateiras filoxeradas, cujo estado é a prova mais frisante de que os meios de luta até hoje propostos, não satisfazem, como elemento salvador da nossa viticultura, que nas condições actuais e em face do estado actual da invasão filoxérica, necessita ser remodelada e constituída sob novas bases, e é então que esses meios de luta, como auxiliares, podem prestar grandes serviços.
Presentemente o que o viticultor deve ter em vista é escolher dos seus vinhedos os melhores, os mais bem constituídos, de maior rendimento e que em condições convenientes se prestem aos tratamentos pelos meios aconselhados, restringindo o campo de luta, tanto quanto seja necessário para proporcionar essa luta às suas forças, fazendo depender tudo de rigorosas contas de cultura, que devem fechar-se sempre com um rendimento remunerador. Vinhas que não estejam 'nestas condições devem abandonar-se, porque estão totalmente condenadas.»
Depois de todas estas considerações termina o autor, expondo a sua opinião sobre o melhor modo de conjurar esta crise agrícola: «Tendo de renunciar-se à regeneração total da nossa viticultura em face da invasão filoxérica, sem falar, por enquanto, na exploração de novas culturas, o que só mais tarde e pouco a pouco pode ter lugar, porque as circunstâncias actuais urgem, ternos de tornar recurso no que actualmente possuímos, que ainda não é pouco e para isso temos no primeiro plano, a cultura dos cereais, elemento que constitui a base da alimentação da nossa população, secundando-a por outras explorações que o país já possui, de que é francamente susceptível e que podem ser ampliadas.
Mas, nas condições actuais, a cultura dos cereais sem as convenientes adubações é impossível por pouco remuneradora e para isto, como para o mais que é necessário fazer-se, são necessários capitais, mas capitais baratos e por preço tal que recompensem o trabalho de quem agricolamente os ponha em acção de produção. Só assim podemos afrontar a crise que está prestes a manifestar-se. Como chegar a este desiderato, o único que pode salvar a nossa indústria agrícola dos desastres que a ameaçam? A solução do problema não me parece tão difícil como a muitos se afigura, pois que ela só depende do estabelecimento do crédito agrícola pela criação de bancos rurais, instituídos sobre bases convenientes e aceitáveis. Eu bem sei que as tentativas feitas neste intuito, tanto no país, como lá fora, na Suíça, na Dinamarca, na Bélgica, na França, na Itália, na Alemanha, na Espanha e outros países, têm sido ou infrutíferas ou de resultados pouco apreciáveis. Creio porém que estes insucessos tem como coisa principal o facto de tratar-se a questão só na sua especialidade, quando ela é complexa, tendo por isso de ser secundada pela cooperação de outras questões que lhe devem servir de auxiliar, amparo e apoio, resultando da acção mútua dos elementos que devem entrar em bem combinado jogo o valor da incógnita que pretende achar-se e que para o nosso país é, nas condições actuais, uma questão de primeira ordem.»
Aqui ficam essas considerações com que concordamos plenamente. Intendemos que é preciso fazer-se alguma coisa, mas com método e cálculo, e não nos deixarmos ficar de braços cruzados a contemplar indolentemente, e com uma indiferença nociva, o aniquilamento rápido e progressivo de uma das nossas melhores fontes do receita agrícola.
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S/ autor, “ASSUNTOS FILOXÉRICOS”. In O Jornal de Cantanhede, n.º 48, Pág. 1, col. 1,2,3 , 18-05-1890 . Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 29 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/257.