Pragas nos Periódicos

GAFANHOTOS I

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Título

GAFANHOTOS I

Criador

S/ autor

Fonte

O Jornal de Cantanhede, n.º 634, pág. 2, col. 2,3

Data

10-08-1901

Colaborador

Pedro Barros

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Como se fala na invasão de gafanhotos, que, pelo que se diz, é pior do que qualquer invasão política avariada, pedimos licença ao Conimbricense para transcrever o artigo sobre gafanhotos, e a transcrição elucidará os proprietários sobre as providências que devem tomar no caso de invasão.
«É muito interessante a história destes insectos herbívoros, e dela se têm ocupado apreciáveis revistas científicas. Hoje que se fala muito em gafanhotos, que se pedem providências ao governo para combater a sua acção destruidora, nalguns pontos do país, e até no distrito de Coimbra, não serão fora de propósito algumas notas sobre este voracíssimo ortóptero. Os gafanhotos, que de quando em quando invadem a nossa península, são originários da Arabia, Tartária e Marrocos. Vêm para a Europa auxiliados pelo vento leste, que sopra do oriente. Emigram em legiões inumeráveis e extraordinárias, devastando as localidades onde pousam, com mais prejuízo, do que o faria o fogo. Os gafanhotos em terra movem-se vagarosamente; mas quando em marcha aérea, formando espessas e grossas nuvens, com léguas de comprido têm a velocidade dos comboios, e assim se precipitam, do alto, nas searas, pomares e hortas. A aproximação dessa imensa mole, é precedida de um som rouco, semelhante ao sussurro lúgubre do mar encapelado. Um dia o exército de Carlos XII, em marcha na Bessarábia, depois da sua derrota de Poltava, foi obrigado a parar num desfiladeiro, por ser envolvido por uma nuvem de gafanhotos. Homens e cavalos ficaram cegos e espavoridos pelo açoute desse granizo vivo, compacto e pesado, que escondia o sol e lançava o pânico sobre todos. São os gafanhotos tão comilões, assombrosamente vorazes, que se tornam carnívoros, e comem-se uns aos outros, quando não encontram pasto que os satisfaça. Os povos, costumados a esta praga, recebem as nuvens de gafanhotos a tiros de fuzilaria e de peça. Mas uma vez precipitada a nuvem no solo, executam-se batidas com fogo, com ramos de árvores e panos. Também modernamente se adopta a aparelho Durand, de lona, com que se apanham e matam facilmente milhões e milhões de gafanhotos. As raposas, as cegonhas, os perus, as galinhas e os répteis, são também inimigos dos gafanhotos, que comem com saborosa gulodice
Os galináceos que se alimentam destes insectos adquirem um saibo desagradável. Quando se faz uma grande mortandade de gafanhotos, deve haver todo o cuidado em logo os enterrar. Santo Agostinho descreve que houve na Numídia uma epidemia, ocasionada pela putrefacção de montões de gafanhotos, a qual matou mais de 800.000 pessoas. Em varias províncias de Espanha, as vereações pagam por bom dinheiro porções de gafanhotos mortos e de litros dos seus casulos com os ovos reprodutores. Em Bagdad, secam os gafanhotos, moem e fazem com esta farinha pão e biscoitos que a gente do povo muito aprecia.»

Ficheiros

Citação

S/ autor, “GAFANHOTOS I”. In O Jornal de Cantanhede, n.º 634, pág. 2, col. 2,3 , 10-08-1901. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 26 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/460.

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