SECÇÃO AGRÍCOLA. Os tratamentos contra o mildew
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Título
SECÇÃO AGRÍCOLA. Os tratamentos contra o mildew
Criador
António M. Borges d’Araújo
Fonte
Jornal de Penafiel, 10º Ano, nº 61, pp. 1-2.
Data
26-05-1896
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
Como julgamos d’uma conveniência e utilidade excecional para os srs. viticultores o conhecerem de perto os mais eficazes tratamentos contra o mildew que devasta a vinha, transcrevemos, com a devida vénia, do nosso colega o «Jornal Hortícolo-Agrícola», o artigo que em seguida publicamos:
Estamos em plena época de dar combate ao Mildew – a este parasita vegetal que tantos sobressaltos está causando ao mundo vitícola e que, com as suas invasões, tem originado em anos sucessivos prejuízos de grande tomo.
Apesar de terem sido dissipadas dúvidas que pareciam predominar por longo tempo no nosso povo rural, dúvidas que consistiam nas intoxicações por meio do sulfato de cobre, e que a moléstia causada pela terrível criptogâmica deveria deixar-nos e paz em curto período, vemos contudo que os tratamentos na presente campanha em que nós todos os queremos salvar as colheitas e as próprias videiras vamos entrar, não se efetuam geralmente como era mister, visto que todos reconhecem a necessidade absoluta de empreende-los. […] Nós reconhecemos que, no meio de tantas dificuldades de que constantemente o viticultor se vê rodeado, sobrecarregado com décimas e impostos de toda a ordem, pagando os géneros de primeira necessidade por alto preço, sendo muitas vezes enganado no peso e na medida, lhe é penoso agravar o seu orçamento doméstico com mais uma verba de bastante importância; mas vendo-se exposto a perder as colheitas e dar morte certas às próprias videiras, caso se furte aos tratamentos, que remédio tem senão empreender a luta por mais sacrifícios que faça para não se arriscar a ver desaparecer a melhor fonte da sua receita?
A conservação da vinha nos tempos atuais requer tantos cuidados, demanda outros estudos e canseiras que nunca tiveram nem foram obrigados os nossos avós, que por assim dizer se apossavam das colheitas sem outro trabalho a não ser o da simples poda e o da vindima. Hoje que um exército de parasitas animais e vegetais ataca com valor os vinhedos, o viticultor, que verdadeiramente compreende a sua situação, tem de se precaver com uma diversidade de ingredientes e aparelhos que lhe absorvem, não há dúvida, uma boa parte da colheita […] Apesar de muitos se conservarem indiferentes na aplicação da calda bordalesa, alguns não acreditarem na sua eficácia e outros estarem à espera que a moléstia passe, contudo de ano para ano vê-mos aumentar o número dos que tratam, com mais firmeza do que aqueles que o fizerem no primeiro ano e que, como soldados de pouco valor que recuam ante as primeiras investidas do inimigo, nos seguintes deixaram de os efetuar. Por observações nossas e mesmo por cartas que dos diversos pontos do país e colónicas temos recebido, sabemos que muitos desejam tratar as videiras, mas uma enorme confusão os assalta […]
Aos viticultores grandes ou pequenos, aconselhamos que não sucumbam na lutam que principiem o combate antes cedo do que tarde, porque embora o mercado do vinho se conserve ao presente frouxo, no entanto dias virão que façam melhorar este estado com que estamos a lutar, de forma a compensar os sacrifícios que se forem fazendo com os tratamentos de que as videiras necessitam.
Para os que não estão ao facto de como se prepara a calda bordalesa, ponto importante que convém insistir por mais prolixos que pareçamos, vamos apresentar algumas formulas, ficando assim esclarecidos os que sobre o assunto constantemente recorrente ao nosso conselho.
Para a primeira pulverização, que provavelmente quando este artigo entrar no prelo já deverá ter sido dada, a percentagem de cobre, segundo a prática nos está demonstrando, deve ser de 20 %, preparando-se da forma seguinte:
Água – 100 litros
Sulfato de cobre – 2 kilos
Cal queimada de fresco – ½ a 1 kilo
Dos 100 litros de água tiram-se 5 ou 10 litros para uma vasilha, em que se dilui a cal, devendo mexer-se bem para que o leite fique sem grumos. Na outra vasilha que contém os 90 ou 95 litros de água, dissolve-se os 2 kilos de sulfato. Esta solução tanto pode ser a quente como a frio.
Depois disto preparado, verte-se pouco a pouco o leite de cal na solução de cobre, agitando sempre o líquido, depois do que está a calda preparada. […]
Estamos em plena época de dar combate ao Mildew – a este parasita vegetal que tantos sobressaltos está causando ao mundo vitícola e que, com as suas invasões, tem originado em anos sucessivos prejuízos de grande tomo.
Apesar de terem sido dissipadas dúvidas que pareciam predominar por longo tempo no nosso povo rural, dúvidas que consistiam nas intoxicações por meio do sulfato de cobre, e que a moléstia causada pela terrível criptogâmica deveria deixar-nos e paz em curto período, vemos contudo que os tratamentos na presente campanha em que nós todos os queremos salvar as colheitas e as próprias videiras vamos entrar, não se efetuam geralmente como era mister, visto que todos reconhecem a necessidade absoluta de empreende-los. […] Nós reconhecemos que, no meio de tantas dificuldades de que constantemente o viticultor se vê rodeado, sobrecarregado com décimas e impostos de toda a ordem, pagando os géneros de primeira necessidade por alto preço, sendo muitas vezes enganado no peso e na medida, lhe é penoso agravar o seu orçamento doméstico com mais uma verba de bastante importância; mas vendo-se exposto a perder as colheitas e dar morte certas às próprias videiras, caso se furte aos tratamentos, que remédio tem senão empreender a luta por mais sacrifícios que faça para não se arriscar a ver desaparecer a melhor fonte da sua receita?
A conservação da vinha nos tempos atuais requer tantos cuidados, demanda outros estudos e canseiras que nunca tiveram nem foram obrigados os nossos avós, que por assim dizer se apossavam das colheitas sem outro trabalho a não ser o da simples poda e o da vindima. Hoje que um exército de parasitas animais e vegetais ataca com valor os vinhedos, o viticultor, que verdadeiramente compreende a sua situação, tem de se precaver com uma diversidade de ingredientes e aparelhos que lhe absorvem, não há dúvida, uma boa parte da colheita […] Apesar de muitos se conservarem indiferentes na aplicação da calda bordalesa, alguns não acreditarem na sua eficácia e outros estarem à espera que a moléstia passe, contudo de ano para ano vê-mos aumentar o número dos que tratam, com mais firmeza do que aqueles que o fizerem no primeiro ano e que, como soldados de pouco valor que recuam ante as primeiras investidas do inimigo, nos seguintes deixaram de os efetuar. Por observações nossas e mesmo por cartas que dos diversos pontos do país e colónicas temos recebido, sabemos que muitos desejam tratar as videiras, mas uma enorme confusão os assalta […]
Aos viticultores grandes ou pequenos, aconselhamos que não sucumbam na lutam que principiem o combate antes cedo do que tarde, porque embora o mercado do vinho se conserve ao presente frouxo, no entanto dias virão que façam melhorar este estado com que estamos a lutar, de forma a compensar os sacrifícios que se forem fazendo com os tratamentos de que as videiras necessitam.
Para os que não estão ao facto de como se prepara a calda bordalesa, ponto importante que convém insistir por mais prolixos que pareçamos, vamos apresentar algumas formulas, ficando assim esclarecidos os que sobre o assunto constantemente recorrente ao nosso conselho.
Para a primeira pulverização, que provavelmente quando este artigo entrar no prelo já deverá ter sido dada, a percentagem de cobre, segundo a prática nos está demonstrando, deve ser de 20 %, preparando-se da forma seguinte:
Água – 100 litros
Sulfato de cobre – 2 kilos
Cal queimada de fresco – ½ a 1 kilo
Dos 100 litros de água tiram-se 5 ou 10 litros para uma vasilha, em que se dilui a cal, devendo mexer-se bem para que o leite fique sem grumos. Na outra vasilha que contém os 90 ou 95 litros de água, dissolve-se os 2 kilos de sulfato. Esta solução tanto pode ser a quente como a frio.
Depois disto preparado, verte-se pouco a pouco o leite de cal na solução de cobre, agitando sempre o líquido, depois do que está a calda preparada. […]
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Citação
António M. Borges d’Araújo, “SECÇÃO AGRÍCOLA. Os tratamentos contra o mildew
”. In Jornal de Penafiel, 10º Ano, nº 61, pp. 1-2., 26-05-1896. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 26 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/495.
”. In Jornal de Penafiel, 10º Ano, nº 61, pp. 1-2., 26-05-1896. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 26 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/495.