SECÇÃO AGRÍCOLA.
O escalracho
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Título
SECÇÃO AGRÍCOLA.
O escalracho
O escalracho
Criador
António Batalha Reis
Fonte
Jornal de Penafiel, 12º Ano, nº 62, p. 2.
Data
03-06-1898
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
O escalracho é quási tão funesto e daninho para a agricultura como é o anglo-americano atualmente para a Espanha.
Efetivamente, o escalracho vulgar (panicum dactylon de Lineu) é seguramente uma das maiores pragas que o agricultor possui nos seus campos.
Dotado de uma rusticidade única, cresce à borda dos valados, nas margens dos caminhos e em todos os terrenos sem exceção dos incultos.
Apenas nos terrenos excessivamente magros, siliciosos e pobres, é raro o seu aparecimento; mas quanto melhor é o terreno, mais ele se desenvolve e prospera.
É tão extraordinária a profusão, simplicidade e rapidez da sua propagação que esta gramínea infesta quási instantaneamente grandes porções de terreno de diversa natureza, utilizando em seu único proveito os trabalhos e adubos destinados a outras culturas, e resistindo, por completo, aos meios ordinários de destruição que vencem de ordinário a maior parte dos parasitas. Um perfeito anglo-americano, enfim.
É falso o dizer-se com acerto que o escalracho seca e apodrece enterrado fundo.
Eu vi um exemplo em contrário num poço de cinco metros de alto, que foi entulhado por falta de água, e que acusava apenas na base ligeiras verteduras.
Começara por encher a sua parte inferior com uma porção de escalracho arrancado de fresco, e completaram o entupimento com terra.
No fim de alguns anos mostrava-se o escalracho com toda a força na boca do poço, e desenvolvia-se ali tanto, e com tal pujança, que dava ao poço um aspeto de um vazio de manjericão.
Contudo, não é o escalracho falto absolutamente de algumas qualidades que poderão ser utilizadas em diversas ocasiões.
Dá ele na primavera uma farta pastagem que todos os animais agradecem, inclusive o porco, que é muito guloso das suas raízes.
Fornece também boa e nutritiva alimentação aos cavalos, muares, coelhos e vacas leiteiras e criadoras, resiste às maiores secas como a longas submersões e é por isso grande recurso nas terras quentes e escaldadiças, assim como muito vantajoso nos prados sujeitos a demoradas inundações. O escalracho é considerado como gazon da península hispânica.
Convirá, porém, lembrar que o seu emprego na alimentação do gado exige várias cautelas, porque é tal o seu vigor vegetativo, que resiste às funções da digestão no estômago dos animais, e pode ainda reproduzir-se depois de expelido com os excrementos. […] É igualmente próprio o escalracho para segurar as terras nas beiras dos rios, por mais rápida e forte que seja a passagem das águas, e fixa ele também perfeitamente a terra dos taludes, evitando desse modo o desguarnecimento dos mesmos taludes […] Guerra pois, ao escalracho, exterminemo-lo com a mesma fúria e persistência como a Europa devia exterminar os anglo-americanos, visto que estes povos são o escalracho da humanidade.
Efetivamente, o escalracho vulgar (panicum dactylon de Lineu) é seguramente uma das maiores pragas que o agricultor possui nos seus campos.
Dotado de uma rusticidade única, cresce à borda dos valados, nas margens dos caminhos e em todos os terrenos sem exceção dos incultos.
Apenas nos terrenos excessivamente magros, siliciosos e pobres, é raro o seu aparecimento; mas quanto melhor é o terreno, mais ele se desenvolve e prospera.
É tão extraordinária a profusão, simplicidade e rapidez da sua propagação que esta gramínea infesta quási instantaneamente grandes porções de terreno de diversa natureza, utilizando em seu único proveito os trabalhos e adubos destinados a outras culturas, e resistindo, por completo, aos meios ordinários de destruição que vencem de ordinário a maior parte dos parasitas. Um perfeito anglo-americano, enfim.
É falso o dizer-se com acerto que o escalracho seca e apodrece enterrado fundo.
Eu vi um exemplo em contrário num poço de cinco metros de alto, que foi entulhado por falta de água, e que acusava apenas na base ligeiras verteduras.
Começara por encher a sua parte inferior com uma porção de escalracho arrancado de fresco, e completaram o entupimento com terra.
No fim de alguns anos mostrava-se o escalracho com toda a força na boca do poço, e desenvolvia-se ali tanto, e com tal pujança, que dava ao poço um aspeto de um vazio de manjericão.
Contudo, não é o escalracho falto absolutamente de algumas qualidades que poderão ser utilizadas em diversas ocasiões.
Dá ele na primavera uma farta pastagem que todos os animais agradecem, inclusive o porco, que é muito guloso das suas raízes.
Fornece também boa e nutritiva alimentação aos cavalos, muares, coelhos e vacas leiteiras e criadoras, resiste às maiores secas como a longas submersões e é por isso grande recurso nas terras quentes e escaldadiças, assim como muito vantajoso nos prados sujeitos a demoradas inundações. O escalracho é considerado como gazon da península hispânica.
Convirá, porém, lembrar que o seu emprego na alimentação do gado exige várias cautelas, porque é tal o seu vigor vegetativo, que resiste às funções da digestão no estômago dos animais, e pode ainda reproduzir-se depois de expelido com os excrementos. […] É igualmente próprio o escalracho para segurar as terras nas beiras dos rios, por mais rápida e forte que seja a passagem das águas, e fixa ele também perfeitamente a terra dos taludes, evitando desse modo o desguarnecimento dos mesmos taludes […] Guerra pois, ao escalracho, exterminemo-lo com a mesma fúria e persistência como a Europa devia exterminar os anglo-americanos, visto que estes povos são o escalracho da humanidade.
Ficheiros
Colecção
Citação
António Batalha Reis, “SECÇÃO AGRÍCOLA.
O escalracho ”. In Jornal de Penafiel, 12º Ano, nº 62, p. 2., 03-06-1898. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 26 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/521.
O escalracho ”. In Jornal de Penafiel, 12º Ano, nº 62, p. 2., 03-06-1898. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 26 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/521.