Pragas nos Periódicos

VITICULTURA.
Os vinhos toldados por efeito de míldio

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Título

VITICULTURA.
Os vinhos toldados por efeito de míldio

Criador

S/ autor

Fonte

A DEFESA DA BEIRA, n.º 28, pág. 1, col .4, 5

Data

22-04-1894

Colaborador

Pedro Barros

Text Item Type Metadata

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Não foi só em Portugal que o ano de 1893 correu adverso para a viticultura, destruindo, com o míldio, parte da novidade, que se mostrara tão auspiciosa e deteriorando depois a qualidade dos vinhos, que, em muitas localidades onde o «Peronospera vitícola» não foi combatido a tempo pelos preparados cúpricos, se apresentam com tendência para se «toldarem».
Em França e na Itália são agora frequentes, nos jornais da especialidade, os clamores pela má qualidade e mau estado dos vinhos «mildiosados ou peronosperados», como lhes chamam naqueles países os viticultores e os negociantes. Não é, porém, sem utilidade para nós o que ali se diz, estuda e aconselha a tal respeito, e, posto que em Portugal os viticultores se conservem mais ou menos silenciosos sobre este assunto, parece-nos de toda a conveniência, que os ponhamos ao facto do que se passa e diz lá fora, porque alguma coisa lhes aproveitará e aos seus vinhos.
Esta questão parece-nos sobretudo importante neste momento em que estamos na Primavera, com a qual reaparecerá nas nossas vinhas o terrível «míldio»; é tempo de se saber, que de não tratar preventivamente as vinhas com os preparados cúpricos não só pode resultar a perda da maior parte da novidade e ficar-se com a vinha estragada para muito tempo, mas ainda a má qualidade e má conservação do pouco vinho que se consegue obter: o que é mais um motivo de não somenos importância para que todos os viticultores se previnam, desde já, com os aparelhos e materiais necessários para os tratamentos, em que devem dar a preferência à calda bordalesa, e façam e repitam estes últimos oportunamente. Mas ainda, por outro lado, por isso mesmo que estamos na Primavera e é desta época em diante que mais se toldam os vinhos, não só os provenientes das vinhas mildiosadas, mas todos que, por vício de origem ou de fabrico, se acham em condições de servirem de meio de propagação ao parasita especial da moléstia dos vinhos toldados, tão bem estudada por Pasteur, é conveniente, neste momento, que os viticultores saibam a que podem recorrer para evitar e curar essa moléstia nos seus vinhos.
Mr. U. Gayon, professor distinto da faculdade de ciências de Bordéus, acaba de publicar um estudo, que fez das alterações, que sofrem os vinhos chamados «mildiosados», pelo que chegou à conclusão: que estes são simplesmente «vinhos toldados; que, vigiando-os com o microscópio, se pode prever a sua alteração, a qual pode ser prevenida ou evitada pela «pasteurização», isto é, pelo aquecimento do vinho até atingir a temperatura de 60.º centígrados»
Os vinhos produzidos pelas uvas mildiosadas, sobretudo quando não feito o tratamento pelos preparados cúpricos, são fracos, descorados, não aclaram bem e tornam-se mais ou menos opalescentes e turvos aos primeiros calores, principalmente se não forem trasfegados cedo para vasilhas sulfuradas e colados convenientemente, com adicionamento de tanino, ou de álcool tânico obtido pela infusão da grainha em álcool, se o vinho não tem suficiente tanino para precipitar a cola, como sucede nos vinhos brancos.
Os vinhos «toldados» formam abundantemente depósito nas vasilhas; contêm grande quantidade de ácido carbónico, cuja pressão pode chegar a rebentar os barris, garrafas ou outros recipientes, que os contenham, quando se achem bem fechados; expostos ao ar deixam envolver o ácido carbónico em miúdas bolhas; têm o sabor um tanto ácido e amargo e falta-lhe o «bouquet», excepto no princípio da doença, em que parece, segundo Mr. Gayon, mais exaltado.
Nos vinhos mildiosados, como em todos os vinhos toldados, mostra a análise química, conforme os trabalhos de Pasteur e de Gayon, que o extracto seco e a cor diminuem, a acidez total aumenta, o ácido tartárico e o cremor de tártaro são decompostos, formando ácidos resultados da combinação entre vinhos toldados e os mesmos vinhos conservados sãos por efeito da «pasteurização».
Para caracterizar mais perfeitamente a doença, fez-se análise dos ácidos voláteis pelo método de Mr. Duclaux, encontrando-se sempre, como nos vinhos toldados, que este sábio ilustre estudou, misturas em várias proporções, de ácido propiónico e ácido acético.
Com respeito ao parasita que se desenvolve nos vinhos «mildiosados» e nos demais vinhos toldados diz Mr. Gayon o seguinte:
«… O micróbio que se desenvolve nos vinhos doentes é o mesmo nos dois casos.
«Quando se examina ao microscópio, com um aumento de 500 diâmetros, pouco mais ou menos, um vinho que começa a alterar-se, observam-se filamentos, dos quais cada artículo possui uma extensão de 8 a 15 milésimas de milímetro e cuja espessura é inferior a um milésimo de milímetro.
«Estes filamentos são constituídos ora por um só elemento, ora por séries de dois, três ou quatro elementos colocados topo a topo, ou, mais geralmente articulados, formando linhas angulosas e quebradas»
(Do «Valenciano»).

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Citação

S/ autor, “VITICULTURA.
Os vinhos toldados por efeito de míldio”. In A DEFESA DA BEIRA, n.º 28, pág. 1, col .4, 5 , 22-04-1894. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 26 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/532.

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