Quando vires as barbas do teu vizinho a arder, bota as tuas de molho

Quando vires as barbas do teu vizinho a arder, bota as tuas de molho

s/autor

O Angrense, nº 534, p. 1.

31-12-1846

Leonardo Aboim Pires

Por um barco chegado da Ilha de S. Jorge, em um dos dias da semana, p.p., consta-nos que viera oficialmente a triste notícia de já ali se ter desenvolvido o terrível inseto - o devorista das laranjeiras.
Sabemos, que tanto pelo Governo Civil, como pela Câmara Municipal desta cidade, de há muito se tem já destinado várias medidas preventivas, a fim de pôr todos os meios imagináveis se obstar a introdução daquele terrível flagelo nesta ilha Terceira – porém, como por uma desgraçada experiência também sabemos (e sabem todos) que as leis por mais benéficas e fáceis de cumprir que elas sejam, pelo correr dos tempos costuma afrouxar e não pouco da sua salutar execução: e até quando Deus quer (ou o diabo!) desaparecem por uma vez, sem se saber como, nem porquê! […] visto que ele cada vez mais se vai aproximando mais do nosso solo, e que ao menor descuido que possamos haver, cá o teremos infalivelmente introduzido, e com resultados mais funestos do que os que tem já produzido na Ilha de S. Miguel; porque, naquela Ilha, ainda os terrenos em que acham as laranjeiras, podem vir a servir para cereais – porém na Terceira, tiradas que fossem estas árvores, para mais coisa alguma servirão os terrenos em que elas existem. […]