SECÇÃO AGRÍCOLA
As vides americanas nos terrenos calcários
Dublin Core
Título
SECÇÃO AGRÍCOLA
As vides americanas nos terrenos calcários
As vides americanas nos terrenos calcários
Criador
Astier de Villate
Fonte
A DEFESA DA BEIRA, n.º 53, pág. 1, col. 4,5 pág. 2, col. 1
Data
21-10-1894
Colaborador
Pedro Barros
Text Item Type Metadata
Text
Considerava-se ainda não há muito que os terrenos com mais de 40 p.c. de cal eram impróprios para a plantação e cultura das videiras americanas verdadeiramente resistentes à filoxera como a «Riparia», e tinha-se como um facto certo que a clorose atacava sempre as plantas americanas vegetando nos terrenos muito calcários, conclusões que os viticultores admitiam como indiscutíveis, procurando plantas resistentes para os terrenos calcários, sem se preocuparem se seria talvez possível modificar facilmente o estado e até a composição destes solos, de modo a torná-los capazes de aceitar todas as plantas americanas sem distinção.
As primeiras pesquisas a tal respeito foram feitas pelo Sr. A. Bernard director do laboratório de Saône e Loire (França), que propôs muito simplesmente «descalcarisar» o solo por meio dos sais de ferro acompanhados de matérias orgânicas.
Os sais de ferro representam aqui o papel de verdadeiros veículos do oxigénio, que roubam à cal, em virtude de uma decomposição, e que restituem às matérias orgânicas com as quais estão em contacto no solo.
É bem sabido a facilidade que têm certos sais de ferro de roubar o oxigénio aos meios onde se encontram, para se peroxidar; no solo, estes sais de ferro, encontrando-se em contacto com a cal, que é unia mistura de cálcio e oxigénio, roubam-lhe o oxigénio «descalcarisando» portanto o solo.
Estes factos são de importância capital para Portugal, onde abundam os terrenos calcários e onde não há muito tivemos a confirmação da preciosa influência dos sais de ferro nos terrenos calcários para a cultura das plantas americanas. O Sr. Junqueiro, importante proprietário em Freixo de Espada à Cinta, enviou-nos há tempos três amostras de uma terra para lhe indicarmos a dosagem de cal, pois desejava no terreno onde elas tinham sido colhidas efectuar uma grande plantação de videiras americanas.
Analisando uma das amostras poucos vestígios de cal lhe encontramos, em virtude do que podemos asseverar, sem receio de ferro, que a plantação das videiras americanas se podia nele fazer com toda a segurança; as outras duas amostras deram-nos aproximadamente 60 p. c. de calcário. Parecia, portanto, claro que a cultura das videiras americanas era impossível em tal terreno, conclusão a que chegou um dos nossos colegas de Lisboa, agrónomo muito distinto e conhecido, a quem o Sr. Junqueiro igualmente consultara.
Como temos o costume de dosar conjuntamente a cal e o ferro nas terras que nos são enviadas com o fim de serem aplicadas à plantação de vinha americana, e, vendo que a quantidade de ferro existente nas referidas amostras era enorme, concluímos que, mesmo com uma dosagem de 60 p. c. de calcário, a cultura das vides americanas era nelas possível.
Esta conclusão diametralmente oposta à do nosso ilustre colega obrigava-nos moralmente a procurarmos provar que tínhamos razão.
Foi o próprio Sr. Junqueiro que, no-la deu dizendo-nos que, a cultura das plantas americanas era possível no referido terreno altamente e calcário, donde tinha tirado as três amostras, por isso que nele cultivava, há alguns anos, a «Riparia» e «Solonis» que apresentam uma vegetação luxuriante.
A primeira das três amostras, que indicava somente vestígios de cal, pertencia ao solo, e as outras duas, muito calcárias, ao subsolo do mesmo terreno.
(…)
(Do Jornal de Agricultura e Horticultura Prática).
As primeiras pesquisas a tal respeito foram feitas pelo Sr. A. Bernard director do laboratório de Saône e Loire (França), que propôs muito simplesmente «descalcarisar» o solo por meio dos sais de ferro acompanhados de matérias orgânicas.
Os sais de ferro representam aqui o papel de verdadeiros veículos do oxigénio, que roubam à cal, em virtude de uma decomposição, e que restituem às matérias orgânicas com as quais estão em contacto no solo.
É bem sabido a facilidade que têm certos sais de ferro de roubar o oxigénio aos meios onde se encontram, para se peroxidar; no solo, estes sais de ferro, encontrando-se em contacto com a cal, que é unia mistura de cálcio e oxigénio, roubam-lhe o oxigénio «descalcarisando» portanto o solo.
Estes factos são de importância capital para Portugal, onde abundam os terrenos calcários e onde não há muito tivemos a confirmação da preciosa influência dos sais de ferro nos terrenos calcários para a cultura das plantas americanas. O Sr. Junqueiro, importante proprietário em Freixo de Espada à Cinta, enviou-nos há tempos três amostras de uma terra para lhe indicarmos a dosagem de cal, pois desejava no terreno onde elas tinham sido colhidas efectuar uma grande plantação de videiras americanas.
Analisando uma das amostras poucos vestígios de cal lhe encontramos, em virtude do que podemos asseverar, sem receio de ferro, que a plantação das videiras americanas se podia nele fazer com toda a segurança; as outras duas amostras deram-nos aproximadamente 60 p. c. de calcário. Parecia, portanto, claro que a cultura das videiras americanas era impossível em tal terreno, conclusão a que chegou um dos nossos colegas de Lisboa, agrónomo muito distinto e conhecido, a quem o Sr. Junqueiro igualmente consultara.
Como temos o costume de dosar conjuntamente a cal e o ferro nas terras que nos são enviadas com o fim de serem aplicadas à plantação de vinha americana, e, vendo que a quantidade de ferro existente nas referidas amostras era enorme, concluímos que, mesmo com uma dosagem de 60 p. c. de calcário, a cultura das vides americanas era nelas possível.
Esta conclusão diametralmente oposta à do nosso ilustre colega obrigava-nos moralmente a procurarmos provar que tínhamos razão.
Foi o próprio Sr. Junqueiro que, no-la deu dizendo-nos que, a cultura das plantas americanas era possível no referido terreno altamente e calcário, donde tinha tirado as três amostras, por isso que nele cultivava, há alguns anos, a «Riparia» e «Solonis» que apresentam uma vegetação luxuriante.
A primeira das três amostras, que indicava somente vestígios de cal, pertencia ao solo, e as outras duas, muito calcárias, ao subsolo do mesmo terreno.
(…)
(Do Jornal de Agricultura e Horticultura Prática).
Ficheiros
Colecção
Citação
Astier de Villate, “SECÇÃO AGRÍCOLA
As vides americanas nos terrenos calcários
”. In A DEFESA DA BEIRA, n.º 53, pág. 1, col. 4,5 pág. 2, col. 1, 21-10-1894. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 30 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/564.
As vides americanas nos terrenos calcários
”. In A DEFESA DA BEIRA, n.º 53, pág. 1, col. 4,5 pág. 2, col. 1, 21-10-1894. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 30 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/564.