Pragas nos Periódicos

Agricultura – reflexões diversas

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Título

Agricultura – reflexões diversas

Criador

s/autor

Fonte

O Fayalense, nº 33, pp. 262-263

Data

11-11-1857

Colaborador

Leonardo Aboim Pires

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É geralmente acreditado que o movimento marítimo da baía da Horta é a causa do que nestes desgraçados anos, em que tanto a nossa agricultura tem, sofrido, não temos decaído a uma situação bem miserável.

Não obstante assim o pensarmos, e julgarmos que pelo porto ainda mais nos poderemos engrandecer é contudo indubitável que os férteis terrenos do nosso distrito, próprios para muitas e variadas culturas, e em grande parte abandonados a uma desleixada esterilidade, forneciam fontes copiosas de riqueza, e dariam os meios necessários para a alimentação de uma população muito superior à atual.

Pico e Flores cultivam uma bem pequena extensão do seu território: a maior parte dos seus imensos baldios, permanecendo árida e em certas estações criando alguma erva, que serve para as pastagens de gado, poderia transformar-se em deliciosas campinas de pão, ou úteis florestas, que colocando os povos num estado de fortuna muito mais avantajado, proporcionaram ao distrito imensos recursos para gozar os benefícios de uma civilização mais adiantada.

Não nos bastava porém que a nossa incúria deixasse incultos tantos terrenos e que tão proveitosos poderiam ser: a moléstia nas batatas, o bicho nos pomares e oidium tuckery vieram arrastar os nossos lavradores e proprietários, e estancar estas fontes do nosso comércio. O que nos restou, e nos tem valido é o interesse, que imediatamente provem do movimento marítimo na baia da Horta, e abundante importação de numerário, feita pelos mancebos emigrados para as baleeiras e Estados Unidos.

Seria curioso seguir o progresso, que estas diferentes moléstias tiveram, e apontar as consequências fatais, que delas emanaram para os povos; e ao mesmo tempo que os seus tristes efeitos tem exercendo cada vez mais a sua ação, havíamos de notar o facto da entrada do numerário e em seguida o aumento do valor da propriedade.

E no meio de tudo isto o que se fazia para reparar os males da agricultura, e aplicar produtivamente o dinheiro? Quási nada, ou antes nada.

Quando o cocus hisperidum apareceu, e os pomares perderam o seu valimento, houve o pensamento de substituir esse manancial de riqueza pelo bicho-da-seda: as tentativas fizeram-se, mas um mau resultado ou indolência matou completamente essa ideia. A moléstia tocou nas batatas, e a consequência foi que uma grande parte do alimento do povo se perdeu, e mesmo do gado do gado: muitos campos antes incultos e aforados às câmaras para a cultura da batata foram abandonados sem que muito se cuidasse no modo como deviam ser novamente aproveitados; daí vem a principal causa da alta de preços do milho, que só por si não basta para o consumo. Veio finalmente o oidium tuckery e a desgraçada ilha do Pico ficou privada do seu principal elemento de riqueza e viu a miséria aproximar-se todos os dias das desprovidas casas dos seus habitantes. […]

Felizmente as coisas parecem hoje ter mudado de aspeto. Ainda no meio duma crise terrível, e dos desastrosos efeitos das causas, que acima indicámos, vemos contudo luzir a esperança dum futuro melhor. A batata vai já melhorando, e os pomares vão já em visível aumento: as vinhas porem tem levado os ânimos a cuidar em novas culturas, que compensem a perda do seu produto; e fala-se geralmente e com bons resultados no sorgo, e mesmo na purgueira […]

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Colecção

Citação

s/autor, “Agricultura – reflexões diversas”. In O Fayalense, nº 33, pp. 262-263, 11-11-1857. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 26 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/69.

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