Pragas nos Periódicos

Os gafanhotos (Conclusão)

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Título

Os gafanhotos (Conclusão)

Criador

António Gomes Ramalho e Guilherme João de Sá

Fonte

O Elvense, 19º Ano, nº 1901, p. 2.

Data

30-04-1899

Colaborador

Leonardo Aboim Pires

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MEDIDAS ATINENTES À DESTRUIÇÃO DO INSETO
Não haverá algum meio de impedir estas terríveis invasões e consequentemente evitar os fatais prejuízos?
Não nos consta que processo algum exista, cuja aplicação dê em resultado o seu extermínio completo, mormente quando o flagelo se estende a superfícies consideráveis.
Entretanto, bem que ao homem não foi dado o poder de debelar completamente e assim impedir as futuras invasões de um grande número de insetos nocivos, e entre eles se incluem os gafanhotos, cumpre-lhe ao menos concorrer para prevenir a sua exagerada multiplicação, e consequentemente minorar o mal que de futuro lhe pode sobrevir.
Os negros do Sudão esforçam-se para afugentar os gafanhotos no seu voo, dando gritos selvagens.
Na Hungria tem-se empregado no mesmo intuito o ribombar do canhão. Na Idade Média à falta de canhão, esconjuravam-se os gafanhotos por meio de exorcismos.
Os árabes têm também, como meio infalível para os afastarem – o escreveram num papel algumas palavras de uma oração que Maomé dirigiu a Deus para aquele fim – e introduzem o em uma cama que se coloca no meio das searas – o que segundo eles tem o poder de as preservar do terrível inimigo.
Um outro meio não menos eficaz no dizer dos devotos muçulmanos consiste no seguinte:
Apanham-se quatro gafanhotos, escreve-se-lhes um verso do Corão, e em seguida soltam-se; os insetos assim ferreteados no meio do enxame poem em alvoroço o exército voante, fazendo mudar de direção…! Tais são os meios empregados pelos povos do Oriente contra a praga de gafanhotos, segundo Figuier.
Em Espanha ensaiaram-se ultimamente muitas medidas no mesmo propósito.
Em Zamora e Salamanca aproveitam a qualidade insetívora das aves domésticas, e reunindo-as em bandos de 400 e mais bicos, as conduziam aos pontos onde o inseto aparecia ainda em forma de mosquito.
Alguns proprietários afiançam terem magníficos resultados, regando os terrenos infestados com uma mistura de cloreto de ferro e água comum. […] As experiências feitas em Granadilla, em terrenos da Ribeira do Guadiana, demonstram que se conseguia o melhor êxito pelo sistema de panos e valas, em segundo lugar pelas aves, e em terceiro, para casos determinados, pelo emprego de ácidos; neste intuito aplicaram-se os ácidos sulfúrico e clorídrico, e reconheceu se ser o primeiro o que produz melhor efeito, porque mata instantaneamente os gafanhotos e pode usar-se dilatado em quatro ou cinco volumes de água.
O petróleo, tão recomendado pelo seu bom resultado nas campinas de Carmona, viu-se que serve pouco para aquele fim, porque a sua parte inflamável se volatiliza muito rapidamente.
Em geral notou-se que os líquidos só servem para matar as manchas de gafanhotos do tamanho de mosquitos, quando os insetos se apresentam reunidos em bandos. […] Um outro meio não menos vantajoso de os aniquilar, quando ainda pequenos invadem as searas, parece-nos ser o emprego das valas ou então o das fogueiras, feitas num dos extremos do campo para onde se façam convergir os insetos. […]
Portanto, do que deixamos dito se conclui que é no estado do óvulo e no de recém-nascido, que mais convém perseguir com toda a pertinácia, o daninho inseto, sendo então que mais facilmente se obtém a sua grande redução.

Elvas, 7 de Julho de 1876.

O agrónomo
António Gomes Ramalho

O intendente de pecuária
Guilherme João de Sá.

Ficheiros

Colecção

Citação

António Gomes Ramalho e Guilherme João de Sá , “Os gafanhotos (Conclusão)
”. In O Elvense, 19º Ano, nº 1901, p. 2., 30-04-1899. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 27 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/761.

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