ACTUALIDADES . Gafanhotos
Dublin Core
Título
ACTUALIDADES . Gafanhotos
Criador
S/autor
Fonte
O Elvense, 19º Ano, nº 1905, p. 1.
Data
14-05-1899
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
Há algum tempo já foi dado nesta cidade sinal de alarme contra o perigo que ameaçava as suas colheitas com a visita do terrível acrídio que desde há muito se havia comodamente instalado em algumas herdades deste concelho.
Tocou-se a rebate, falou-se muito no assunto, e o complicado mecanismo burocrático deu de si, à voz do governo assustado e condoído da nossa desgraça. O agrónomo distrital tem a sua residência em Alter do Chão, deixou os particulares e à ordem urgente das estações superiores apresentou-se pressuroso em Elvas e foi visitar os terrenos infestados dos gafanhotos.
No dia seguinte o veterinário distrital deixava Portalegre e ainda para obedecer a ordens urgentíssimas dos seus chefes acorria a Elvas, indo de sociedade com o agrónomo acima citado visitar os terrenos que estavam desde há muito servindo de feliz logradouro ao inseto a que nos vimos referindo. […] Veio ainda mais tarde, o veterinário que está em comissão no Algarve dirigindo a apanha dos gafanhotos e, de certeza, se realizaram novas visitas ao local atacado, nova troca de telegramas, de ofícios, de memorandos, ordens urgentes do governo… o demónio. […] Retirou pouco depois de ter chegado o agrónomo distrital; retirou logo para Lisboa o veterinário comandante em chefe da coluna que no Algarve (mais feliz do que nós) combate a valer o perigoso acrídio e segundo nos consta retirou ontem para Portalegre o veterinário distrital ali residente.
Até hoje porém de tanta deslocação de técnicos para resolução do assunto tão momentoso, não nos consta que tenha resultado a morte de um gafanhoto sequer.
Muitos quilogramas deles têm sido apanhados, mas para isso não meterem as estações oficiais prego nem estopa, porquanto esta apanha tem sido ordenada e paga por algum lavrador interessado na destruição do inseto, como nos consta esta fazendo o abastado proprietário sr. David Picão, que tem uma porção de trabalhadores seus impedidos neste serviço.
Eis o que o nosso concelho conseguiu depois de tão espalhafatoso movimento das estações oficiais técnicas: ter que proceder pelas suas próprias mãos à destruição do gafanhoto, se quiser salvar algum que outro grãozinho das suas searas.
E depois os tempos correrão, o gafanhoto procederá à sua espantosa multiplicação, e como nem todos os lavradores são como o sr. Picão previdentes, ou têm recursos para evitar a propagação do mal, este internar-se-á no Alentejo, e por último invadirá todo o país, se a Divina Providência não intervier no assunto como costuma intervir no Discurso da Coroa.
Tocou-se a rebate, falou-se muito no assunto, e o complicado mecanismo burocrático deu de si, à voz do governo assustado e condoído da nossa desgraça. O agrónomo distrital tem a sua residência em Alter do Chão, deixou os particulares e à ordem urgente das estações superiores apresentou-se pressuroso em Elvas e foi visitar os terrenos infestados dos gafanhotos.
No dia seguinte o veterinário distrital deixava Portalegre e ainda para obedecer a ordens urgentíssimas dos seus chefes acorria a Elvas, indo de sociedade com o agrónomo acima citado visitar os terrenos que estavam desde há muito servindo de feliz logradouro ao inseto a que nos vimos referindo. […] Veio ainda mais tarde, o veterinário que está em comissão no Algarve dirigindo a apanha dos gafanhotos e, de certeza, se realizaram novas visitas ao local atacado, nova troca de telegramas, de ofícios, de memorandos, ordens urgentes do governo… o demónio. […] Retirou pouco depois de ter chegado o agrónomo distrital; retirou logo para Lisboa o veterinário comandante em chefe da coluna que no Algarve (mais feliz do que nós) combate a valer o perigoso acrídio e segundo nos consta retirou ontem para Portalegre o veterinário distrital ali residente.
Até hoje porém de tanta deslocação de técnicos para resolução do assunto tão momentoso, não nos consta que tenha resultado a morte de um gafanhoto sequer.
Muitos quilogramas deles têm sido apanhados, mas para isso não meterem as estações oficiais prego nem estopa, porquanto esta apanha tem sido ordenada e paga por algum lavrador interessado na destruição do inseto, como nos consta esta fazendo o abastado proprietário sr. David Picão, que tem uma porção de trabalhadores seus impedidos neste serviço.
Eis o que o nosso concelho conseguiu depois de tão espalhafatoso movimento das estações oficiais técnicas: ter que proceder pelas suas próprias mãos à destruição do gafanhoto, se quiser salvar algum que outro grãozinho das suas searas.
E depois os tempos correrão, o gafanhoto procederá à sua espantosa multiplicação, e como nem todos os lavradores são como o sr. Picão previdentes, ou têm recursos para evitar a propagação do mal, este internar-se-á no Alentejo, e por último invadirá todo o país, se a Divina Providência não intervier no assunto como costuma intervir no Discurso da Coroa.
Ficheiros
Colecção
Citação
S/autor, “ACTUALIDADES . Gafanhotos”. In O Elvense, 19º Ano, nº 1905, p. 1., 14-05-1899. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 27 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/763.