ACTUALIDADES
Os gafanhotos
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Título
ACTUALIDADES
Os gafanhotos
Os gafanhotos
Criador
S/autor
Fonte
O Elvense, 22º Ano, nº 2129, p. 1.
Data
07-07-1901
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
Chegou-nos esta praga. O ano agrícola que tão prometedor se mostrava está ameaçado de terminar por uma devastação medonha. Felizmente o recolhimento das searas está já bastante adiantado, mas ainda assim, os prejuízos podem ser enormíssimos.
A invasão nesta cidade e em todos os seus férteis arredores começou na quinta-feira.
Desde as 11 oras da manhã até às 4 da tarde bandos enormíssimos de miríades de milhares daqueles daninhos ortópteros perpassa quási sem interrupção por cima desta cidade e seus campos, similhando pelo branquejar das asas densíssima e persistente chuva de neve. A nuvem que perpassava sobre nós de uma espessura que não deveria ser inferior a 100 metros abrangia toda a extensão do horizonte que era possível abarcar com a vista.
Na sexta-feira a invasão foi ainda mais considerável, porque começou mais cedo e foi mais persistente.
Torna-se indispensável que o governo sem perda de um instante dê providências rápidas e eficazes para combater o flagelo e atalhar os seus progressos.
A municipalidade de Elvas apesar da sua incontestável boa vontade, por si, pouco de verdadeiramente útil poderá fazer, já por falta de verba no seu orçamento com que possa combater o mal, já por falta de direção técnica.
Como se vê dos telegramas que vamos transcrever, não descurou o assunto pedindo autorizações para tomar as providências mais indispensáveis, pedindo agrónomos para dirigirem a campanha e pedindo dinheiro ao governo, pois sem isso nada se pode fazer.
Mas até ao momento em que escrevemos ainda anda de prático conseguiu do governo.
É de crer que a ação do governo se não faça esperar, pois no caso contrario os prejuízos serão incalculáveis.
Belezas deste sistema centralista, graças ao qual nem num caso de força maior, como este, em que não há um minuto a perder, a Câmara pode tomar uma resolução enérgica, sem a prévia licença do poder central, que só pode ser obtida ouvidas e seguidas todas as praxes e estações burocráticas que superintendem o assunto.
Que governo e que governos! […]
Seguem os telegramas expedidos e recebidos pela municipalidade. Se até entrar no prelo este jornal vierem outros telegramas, ou nos constar que algumas providências se tomaram, publicá-los-emos ou noticiaremos o que houver
*
Exmo. Ministro da Justiça
Lisboa
Em 3-7-901
«Câmara Municipal de Elvas solicita V. Ex.ª adoção prontas providências contra perniciosa praga de gafanhotos que invadiu as herdades deste concelho na freguesia de Caia e está assolando as searas. Câmara está pronta a coadjuvar poder centra no combate contra invasão, não tendo porém no seu orçamento (aprovado pelo Ministério do Reino) verba alguma com destino à extinção da praga, não pode cumprir preceito do paragrafo único, artigo segundo, decreto 23 Dezembro 1899, visto ter de combinar-se com o do parágrafo primeiro do artigo nono do mesmo decreto e teme que exorbitando, ainda que num caso de força maio, venha depois a estação tutelar exigir-lhes as respetivas responsabilidades.
A concessão à Câmara, e pelo poder central, de um subsídio monetário torna-se urgente.
Presidente da Câmara
Eusébio Nunes»
Confirmo tudo quanto diz a Câmara e reconheço que o seu pedido é de alta justiça; e resolução favorável considero-a também inadiável.
Administrador do concelho
António José Torres de Carvalho.
*
Em 3-7-901
«Presidente Câmara Municipal – Elvas – Vista a urgência do caso pode a Câmara tomar as providências que julgue indispensáveis, comunicando-as imediatamente ao Ministério das Obras Públicas, nos termos no § único do artigo 2º do decreto de 23 de Dezembro de 1899.
Ministro da Justiça.
*
Exmo. Ministro Obras Públicas.
Lisboa.
Em 5-7-901
«É enorme a invasão de gafanhotos que estão assolando as searas e as culturas hortícolas, ameaçando destruir por completo muitas outras plantas quer arbóreas quer herbáceas.
Este flagelo só pode ser dominado e vencido pela ação do poder central (como ultimamente se praticou no Algarve) visto esta Câmara não estar habilitada com os meios de que trata a última parte do § 1º do artigo 9º do decreto de 23 Dezembro 1899, sendo portanto nulo o recurso determinado pelo § único do artigo 2º do mesmo decreto, § que tem de combinar-se com o do artigo 9º.
Século diz que partiram de Lisboa três agrónomos para Portalegre. Mande V. Ex.ª que um deles venha para Elvas e com fundos para ocorrer às despesas no combate medonho flagelo.
Assim lho pede ferverosamente Câmara Municipal, reunida sessão extraordinária.
Presidente Câmara
Eusébio Nunes»
*
Exmo. Governador Civil
Portalegre.
Em 5-7-901
«É enorme a invasão de gafanhotos que estão assolando as searas e as culturas hortícolas, ameaçando destruir por completo muitas outras plantas quer arbóreas quer herbáceas.
Século diz que partiram de Lisboa três agrónomos para Portalegre. Vem algum para Elvas?
É indispensável a presença de um funcionário desses, e com fundos, para ocorrer às despesas necessárias no combate medonho flagelo.
Câmara espera o favor de resposta, reunida em sessão extraordinária.
Presidente Câmara
Eusébio Nunes»
*
Exmo. Presidente Câmara Municipal Elvas
Em 5-7-901-6.h.-t
«Acabo de requisitar presença agrónomo nessa cidade. Participo diretor geral, pedindo auxilie câmara presidência. V. Ex.ª
O governador civil substituto
Portilheiro
*
Exmo. Presidente Câmara Municipal Elvas
Em 6-7-901-2.h.-t
«Vai hoje agrónomo distrital desta cidade, autorizado fazer despesas urgentes.
O governador civil substituto
Portilheiro
A invasão nesta cidade e em todos os seus férteis arredores começou na quinta-feira.
Desde as 11 oras da manhã até às 4 da tarde bandos enormíssimos de miríades de milhares daqueles daninhos ortópteros perpassa quási sem interrupção por cima desta cidade e seus campos, similhando pelo branquejar das asas densíssima e persistente chuva de neve. A nuvem que perpassava sobre nós de uma espessura que não deveria ser inferior a 100 metros abrangia toda a extensão do horizonte que era possível abarcar com a vista.
Na sexta-feira a invasão foi ainda mais considerável, porque começou mais cedo e foi mais persistente.
Torna-se indispensável que o governo sem perda de um instante dê providências rápidas e eficazes para combater o flagelo e atalhar os seus progressos.
A municipalidade de Elvas apesar da sua incontestável boa vontade, por si, pouco de verdadeiramente útil poderá fazer, já por falta de verba no seu orçamento com que possa combater o mal, já por falta de direção técnica.
Como se vê dos telegramas que vamos transcrever, não descurou o assunto pedindo autorizações para tomar as providências mais indispensáveis, pedindo agrónomos para dirigirem a campanha e pedindo dinheiro ao governo, pois sem isso nada se pode fazer.
Mas até ao momento em que escrevemos ainda anda de prático conseguiu do governo.
É de crer que a ação do governo se não faça esperar, pois no caso contrario os prejuízos serão incalculáveis.
Belezas deste sistema centralista, graças ao qual nem num caso de força maior, como este, em que não há um minuto a perder, a Câmara pode tomar uma resolução enérgica, sem a prévia licença do poder central, que só pode ser obtida ouvidas e seguidas todas as praxes e estações burocráticas que superintendem o assunto.
Que governo e que governos! […]
Seguem os telegramas expedidos e recebidos pela municipalidade. Se até entrar no prelo este jornal vierem outros telegramas, ou nos constar que algumas providências se tomaram, publicá-los-emos ou noticiaremos o que houver
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Exmo. Ministro da Justiça
Lisboa
Em 3-7-901
«Câmara Municipal de Elvas solicita V. Ex.ª adoção prontas providências contra perniciosa praga de gafanhotos que invadiu as herdades deste concelho na freguesia de Caia e está assolando as searas. Câmara está pronta a coadjuvar poder centra no combate contra invasão, não tendo porém no seu orçamento (aprovado pelo Ministério do Reino) verba alguma com destino à extinção da praga, não pode cumprir preceito do paragrafo único, artigo segundo, decreto 23 Dezembro 1899, visto ter de combinar-se com o do parágrafo primeiro do artigo nono do mesmo decreto e teme que exorbitando, ainda que num caso de força maio, venha depois a estação tutelar exigir-lhes as respetivas responsabilidades.
A concessão à Câmara, e pelo poder central, de um subsídio monetário torna-se urgente.
Presidente da Câmara
Eusébio Nunes»
Confirmo tudo quanto diz a Câmara e reconheço que o seu pedido é de alta justiça; e resolução favorável considero-a também inadiável.
Administrador do concelho
António José Torres de Carvalho.
*
Em 3-7-901
«Presidente Câmara Municipal – Elvas – Vista a urgência do caso pode a Câmara tomar as providências que julgue indispensáveis, comunicando-as imediatamente ao Ministério das Obras Públicas, nos termos no § único do artigo 2º do decreto de 23 de Dezembro de 1899.
Ministro da Justiça.
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Exmo. Ministro Obras Públicas.
Lisboa.
Em 5-7-901
«É enorme a invasão de gafanhotos que estão assolando as searas e as culturas hortícolas, ameaçando destruir por completo muitas outras plantas quer arbóreas quer herbáceas.
Este flagelo só pode ser dominado e vencido pela ação do poder central (como ultimamente se praticou no Algarve) visto esta Câmara não estar habilitada com os meios de que trata a última parte do § 1º do artigo 9º do decreto de 23 Dezembro 1899, sendo portanto nulo o recurso determinado pelo § único do artigo 2º do mesmo decreto, § que tem de combinar-se com o do artigo 9º.
Século diz que partiram de Lisboa três agrónomos para Portalegre. Mande V. Ex.ª que um deles venha para Elvas e com fundos para ocorrer às despesas no combate medonho flagelo.
Assim lho pede ferverosamente Câmara Municipal, reunida sessão extraordinária.
Presidente Câmara
Eusébio Nunes»
*
Exmo. Governador Civil
Portalegre.
Em 5-7-901
«É enorme a invasão de gafanhotos que estão assolando as searas e as culturas hortícolas, ameaçando destruir por completo muitas outras plantas quer arbóreas quer herbáceas.
Século diz que partiram de Lisboa três agrónomos para Portalegre. Vem algum para Elvas?
É indispensável a presença de um funcionário desses, e com fundos, para ocorrer às despesas necessárias no combate medonho flagelo.
Câmara espera o favor de resposta, reunida em sessão extraordinária.
Presidente Câmara
Eusébio Nunes»
*
Exmo. Presidente Câmara Municipal Elvas
Em 5-7-901-6.h.-t
«Acabo de requisitar presença agrónomo nessa cidade. Participo diretor geral, pedindo auxilie câmara presidência. V. Ex.ª
O governador civil substituto
Portilheiro
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Exmo. Presidente Câmara Municipal Elvas
Em 6-7-901-2.h.-t
«Vai hoje agrónomo distrital desta cidade, autorizado fazer despesas urgentes.
O governador civil substituto
Portilheiro
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Citação
S/autor, “ACTUALIDADES
Os gafanhotos”. In O Elvense, 22º Ano, nº 2129, p. 1., 07-07-1901. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 27 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/793.
Os gafanhotos”. In O Elvense, 22º Ano, nº 2129, p. 1., 07-07-1901. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 27 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/793.