Pragas nos Periódicos

MÍLDIO
Instrução para combater esta doença da vinha

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Título

MÍLDIO
Instrução para combater esta doença da vinha

Criador

S/autor

Fonte

O Elvense, 14º Ano, nº 1294, p. 2.

Data

29-06-1893

Colaborador

Leonardo Aboim Pires

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O míldio é atualmente um dos maiores flagelos das vinhas. Se as circunstâncias lhe são favoráveis, propaga-se rapidamente e atua com extraordinária energia, destruindo ou inutilizando em pouco dias a produção de extensíssimas regiões.
São incalculáveis os prejuízos que tão funesta doença tem causado nos últimos anos, e por desgraça é quási certo que dentro em pouco vai ela reaparecer nos nossos vinhedos, repetindo os seus ataques talvez com mais violência.
Urge, portanto, que os viticultores tratem de combater este perigoso inimigo, se não querem assistir mais uma vez às enormes devastações que ele promove. É preciso que lutem contra a nova moléstia da vinha, empregando os meios cuja eficácia está demonstrada.

Sinais por que se conhece o míldio
O míldio ataca todos os órgãos verdes das cepas, mas com preferência as folhas. A causa da doença é sempre a mesma – uma criptogâmica, o Plasmopara vitícola, porém os estragos que produz variam de aspeto consoante o órgão afetado e parecem determinados por causas diferentes. Assim, para facilidade de compreensão, consideram-se hoje distintas estas três manifestações do míldio, que são as principais:

O míldio das folhas;
O míldio dos pâmpanos e das varas;
O míldio das uvas.

Míldio das folhas – é já bem conhecido no país não se confundindo facilmente com outras enfermidades, porque produz na face inferior destes órgãos umas manchas brancas, características, com pouca aderência e que à simples vista parecem constituídas por açúcar em pó muito fino. […]

Míldio dos pâmpanos e das varas – conquanto pareça muito nocivo, ainda não está bem estudado nem consta que já fosse observado no país.

Míldio das uvas – é o de mais graves consequências.

Os grandes prejuízos do último ano nos vinhedos do Minho foram devidos na sua maioria a esta forma de moléstia.
Tanto a flor como o cacho em formação, sendo invadidos pelo míldio aparecem em parte ou no todo cobertos de uma espécie de pó, semelhante ao que produz nas folhas nódoas brancas. Quando tal sucede, o resultado é uma profunda alteração naqueles órgãos, os quais enegrecem, atrofiam-se e abortam, isto é, desavinham.
Este fenómeno, o desavinho, é conhecido desde tempos imemoriais, e todos os anos se manifesta em maior ou menor escala, sendo diversas as causas que o determinam, tais como as mudanças rápidas de temperatura, golpes de sol ardente em seguida a chuvas e nevoeiros frios, etc.; o míldio produz o mesmo efeito, porém com muito maior intensidade e abrangendo simultaneamente grandes áreas da vinha. Em vários concelhos do distrito de Braga, sobretudo no de Guimarães, verificou-se o ano passado muito distintamente esta feição especial da doença […]

Tratamento do míldio
De todas as substâncias ensaiadas contra o míldio, a de resultados mais completos é o sulfato de cobre (caparrosa azul). É com ele que em França se consegue todos os anos evitar os desastrosos efeitos da doença em muitos mil hectares de vinhas, mas deve ter-se bem presente que a ação deste remédio só se torna verdadeiramente eficaz quando empregado como preventivo, quer dizer, antes de aparecerem nas cepas quaisquer sinais da moléstia, repetindo-se depois o tratamento sempre que seja preciso.
Em regra, três aplicações são suficientes para defender a vinha dos ataques do míldio, porém, se a primavera e o princípio do verão decorrerem húmidos, a doença é mais para recear, e por isso convém que haja a maior vigilância, para renovar o tratamento logo que na vinha se descubra o mais leve indício de invasão […] o míldio é muito mais nocivo nas regiões em que a humidade abunda; portanto é aí também que deve redobrar-se de esforços na defesa das vinhas. […]

(continua)

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Colecção

Citação

S/autor, “MÍLDIO
Instrução para combater esta doença da vinha
”. In O Elvense, 14º Ano, nº 1294, p. 2., 29-06-1893. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 2 de Dezembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/827.

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