Pragas nos Periódicos

SECÇÃO AGRÍCOLA

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Título

SECÇÃO AGRÍCOLA

Criador

António Pereira Alves

Fonte

Damião de Goes, Ano 1, nº 7, pp. 1-2.

Data

14-02-1886

Colaborador

Leonardo Aboim Pires

Text Item Type Metadata

Text

A uns quesitos, que nos foram propostos por intermédio do Ex.mo Sr. Augusto José da Graça, só poderá cabalmente responder, quem juntar a ciência do perfeito agrónomo à inteligente prática do bom viticultor; como não possuímos este nem aquela pensámos em reenviar os quistos, declarando-nos incompetentes para lhes dar resposta. Era talvez o mais acertado.
Apenas para mostrar a nossa boa vontade e deferência para quem nos enviou a consulta, buscaremos dizer duas palavras a respeito de cada um dos quesitos, sem de forma alguma a termos por cabal resposta às perguntas neles formuladas.


Qual foi o ano em que se verificou a aparição dos primeiros casos de doença nas cepas diagalves?
A epifiteuta conhecida pelo nome de «doença própria do diagalves», data aqui de 6 ou 7 anos, isto é, foi nesta época que se começaram a notar os estragos por ela produzidas.


Tem notado a mesma doença em várias castas brancas ou roxas, ou só na casta da diagalves?
Esta doença parece ser peculiar no diagalves, pelo menos não ataca as outras castas com igual intensidade, visto não termos observado nelas estragos semelhantes aos que produz na diagalves.


A doença ataca de preferência as cepas velhas ou novas?
Atacando umas e outras mostra, ao que nos parece, uma certa predileção pelas novas.
Temos visto bacelos de diagalves atacados de doença sem podermos afirmar se ela já existia nas cepas doente foram tiradas.
Ultimamente, soubemos ter sido violentamente atacada uma rua de diagalves na quinta do Valongo, do Exmo. Sr. João Vicente da Silveira tendo os bacelos sido tirados de uma vinha existente na mesma quinta, a qual não estava nem foi atacada.
Notemos que a vinha foi tratada contra a antracnose e os bacelos da rua não tiveram tratamento. É este, que nos conste, o único ponto aqui, em que a doença tenha feito estragos sensíveis nos últimos dois anos.
Também nos não consta se tenha feito plantação de diagalves de alguma importância depois do que deixamos apontado.
Quando pretendemos repovoar por mergulhia uma vinha atacada, nunca o conseguimos, por serem as mergulhias imediatamente afetadas.
Temos ainda notado não serem molestadas pela doença as cepas de diagalves que se encontram aqui e ali em todas as vinhas doutras castas.
A mesma observação temos feito a respeito da antracnose.
São também mais resistentes as cepas de diagalves obtidas por enxertia em outras castas.


Qual a época do ano em que começa a notar-se a doença?
Em geral pouco depois da rebentação, ainda que em certos casos temos visto evidenciar-se o ataque muito depois da frutificação.
Acontece também não chegarem a rebentar cepas, que, ainda no ano anterior nada apresentavam que tal fizesse recear.


Qual a natureza do solo em que as cepas têm sido atacadas?
Não nos consta se tenham aqui feito análises do solo, por isso apenas podemos dizer, que, as várzeas onde existem as plantações de diagalves são de solo argiloso, mais ou menos compacto, pouco calcário.
A rua de que falamos a propósito do quesito 3º e uma nódoa que vimos atacada em propriedade do falecido Visconde de Abrigada, são em terreno muito abundante de sílica.


Ataca só os sarmentos ou também os frutos?
Como dissemos, a doença manifesta-se em geral na época da rebentação e fazendo então murchar e secar os rebentos (primeiro os mais superiores) com eles morrem os frutos que por ventura a cepa poderia produzir na parte atacada.
Ainda que o ataque se dê mais tarde, o fruto é sempre perdido como consequentemente, mesmo não sendo diretamente afetado.


Dado o caso de lhe terem morrido algumas cepas, que tempo estiveram doentes?
As cepas morrem muitas vezes no primeiro ano de ataque, outras rebentam ainda às vezes com bastante força; mas em geral morrem no ano seguinte.

8º Quais os carateres ou sinais que denunciam a cepa atacada?
Os rebentos fracos, amarelados, de folhas pequenas e mangericadas não tardam em murchar e secar.
A doença manifesta-se primeiro na parte superior da cepa e nesta se distingue bem da antracnose (charbon), que em geral ataca mais os rebentos inferiores […]


As cepas logo no começo da doença aparecem com as folhas amarelas e manchas?
Ao que acima dissemos apenas podemos acrescentar nunca termos visto manchadas as folhas ou sarmentos das cepas atacadas por esta doença.

10º
Tem empregado com vantagem algum tratamento?
Não se tem aqui aplicado tratamento algum.
As cepas são substituídas por mergulhias de outra casta, quando isso é possível.
Também há quem tenha conservado a vinha enxertando as cepas diagalves com os de outras castas.
O mal tem diminuído nos últimos anos, talvez por efeito do tratamento contra a antracnose.
Apenas sabemos de estragos causados na rua em que já falámos, a qual, repetimos não sofreu tratamento algum contra a antracnose.

(Continua)

Ficheiros

Colecção

Citação

António Pereira Alves, “SECÇÃO AGRÍCOLA”. In Damião de Goes, Ano 1, nº 7, pp. 1-2., 14-02-1886. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 29 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/844.

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