CARTA DE LISBOA

CARTA DE LISBOA

S/ autor

Jornal da Louzan, n.º 148, pág. 1, col. 4, pág. 2, col. 1,2

03-03-1888

Pedro Barros

Com fundadas razões, em presença de bons dados estatísticos, se diz: Portugal, é um país essencialmente agrícola. Aqui temos agora, em Lisboa, reunido um congresso agrícola, e apesar de nele se conterem setecentos congressistas, sabe-se que, em tão subido número, não entram os lavradores humildes, os que, por seus parcos haveres, ou menos que isso, não podem abandonar suas terras, gados e lavouras, para virem à capital falar da miséria em que andam os campos gastando algum dinheiro, adquirido à custa de muitas fadigas, numa viagem longa, e numa hospedagem demorada. Mas setecentos lavradores, cem por cada uma das províncias em que se divide o reino, embora umas sejam menos agrícolas do que outras — é um número razoável, para chamar a atenção do governo sobre as questões respectivas, de seu interesse, e para tornar atendíveis, as suas pretensões. Duas grandes crises — a vinhateira e a cerealífera — arruínam os agricultores no momento actual. A primeira é originada pela temível propagação da Filoxera, estragando as melhores cepas, e, naturalmente em consequência desse mal, por haver diminuído, há anos a exportação dos nossos vinhos. A segunda, pelo que dizem os queixosos, é devida á concorrência esmagadora dos cereais americanos, que invadem o mercado português numa abundância extraordinária e com um preço tão resumido, a despeito dos pesados direitos de importação, que não é possível aos produtos nacionais, do mesmo género, vencê-los na competência. (…)