Preparação das sementes, sua desinfecção para serem semeadas
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Título
Preparação das sementes, sua desinfecção para serem semeadas
Criador
M. Rodrigues de Moraes, Agrónomo
Fonte
O Jornal de Cantanhede, n.º 800, pág. 4, col. 1, 2
Data
15-10-1904
Colaborador
Pedro Barros
Text Item Type Metadata
Text
Os cereais, bem como, outras culturas, são atacados de doenças causadas por fungos, cujas seminícolas se agarram às sementes culturais, vão com eIas para a terra e causam a infecção da seara. Estas doenças são especialmente a ferrugem, a cravagem ou esporão, o carvão ou morrão e a cárie. Reconhecido que a infecção procede das seminícolas, que se agarram às sementes, tratou-se de expurgar estas, quando vão para a terra, e para tal fim têm sido adoptados muitos meios. Estes são muito variados, uns físicos ou mecânicos, como a crivagem, a lavagem, a exposição ao ar e a imersão em água; outros são meros mais enérgicos, substâncias químicas capazes de matarem os germes causadores da doença, mas aplicados de forma que não anulam as faculdades germinativas da semente. A desinfecção das sementes pela crivagem e pela lavagem não é bastante, e por isso se tem empregado os banhos ou pulverizações com diversas substâncias tais como a cal, o sal de cozinha, arsénico, o verdete, o sulfato de soda o sulfato de cobre, o cloreto de potássio e o sulfato de ferro. Destas substâncias a cal só não é suficiente desinfectante, mas junta com o sal já produz bastante benefício; o arsénico e verdete afastam-se por serem venenos perigosos; restam o sulfato de cobre, apesar de também não ser inocente, cloreto de potássio e o sulfato de ferro.
O processo de sulfato de soda foi recomendado, na primeira parte do século passado, pelo grande Dombasie e ainda não está posto de parte. Consiste no seguinte: dissolvem-se 640 gramas de sulfato de soda, ou sal de Glauber do comércio, em 8 ou 9 litros de água quente, e por outro lado reduzem-se a pó aspergindo com água 2 quilos de cal em pedra. Estas duas substâncias, nas ditas quantidades, dão para o tratamento de um hectolitro de semente, aplicadas da seguinte forma: Lança-se o trigo em um tabuleiro ou em uma eira e enquanto um homem, munido de pá de madeira, remexe o trigo, outro o rega com a solução de sulfato de soda. Terminada esta, lança-se o pó de cal, pouco a pouco, continuando a remexer. Depois coloca-se em monte a um canto e trata-se outro hectolitro até ter a quantidade necessária para a sementeira de muitos dias, se for necessário, porque se conserva assim perfeitamente. Identicamente se pode proceder em pregando, em vez de sulfato de soda, sulfato de cobre, mas reduzindo a dose deste a 0x500.
Preferível a este processo 'de aspersão é o de imersão, que consiste cm mergulhar o grão no líquido desinfectante. Por este meio os grãos pecos e doentes dos cereais vêm ao cimo do líquido e são daí retirados, enquanto grãos de boa qualidade vão ao fundo e só esses são confiados à terra; mas nas sementes oleaginosas as melhores sobrenadam. Os desinfectantes usados actualmente no processo de imersão são o sulfato de cobre, o cloreto de potássio, O formol o sulfato de ferro.
Neste processo o sulfato do cobre emprega-se, na razão de 2 por 100, o cloreto de potássio a 15 por 100, o formol a 3 por 100 e o sulfato de ferro a 10 por 100.
Qualquer destes sais diluem-se em100 litros de água dentro de uma barrica ou cuba, e lançando 15 a 20 litros de grão dentro do um cesto, ou caixa de fundo crivado ou de rede, mergulha-se no líquido insecticida, agita-se bem por algum tempo e retiram-se todos os grãos pecos ou doentes; feito isto, retira-se a semente boa e mete-se em outro banho, composto de cal, 3 a 4x, e água 100 litros, ou polvilha-se com cal em pó apagada de pouco. Todos estes processos desinfectantes são bons para preparar as sementes e dar bom resultado na terra; mas muito melhor será antes de tudo seleccionar as sementes, separar ainda no campo as espigas melhor conformadas, mais limpas, isentas de doença, ou os grãos mais cheios, mais pesados, embora não sejam os maiores. Além disto, para evitar a propagação das doenças, é bom não deitar no estrume, nem deixar no campo, perto das cearas, os resíduos das plantas doentes ou as varreduras das eiras; o que deve fazer-se é reunir todos esses resíduos e queimá-los.
M. Rodrigues de Moraes, Agrónomo.
(Da Gazeta das Aldeias.)
O processo de sulfato de soda foi recomendado, na primeira parte do século passado, pelo grande Dombasie e ainda não está posto de parte. Consiste no seguinte: dissolvem-se 640 gramas de sulfato de soda, ou sal de Glauber do comércio, em 8 ou 9 litros de água quente, e por outro lado reduzem-se a pó aspergindo com água 2 quilos de cal em pedra. Estas duas substâncias, nas ditas quantidades, dão para o tratamento de um hectolitro de semente, aplicadas da seguinte forma: Lança-se o trigo em um tabuleiro ou em uma eira e enquanto um homem, munido de pá de madeira, remexe o trigo, outro o rega com a solução de sulfato de soda. Terminada esta, lança-se o pó de cal, pouco a pouco, continuando a remexer. Depois coloca-se em monte a um canto e trata-se outro hectolitro até ter a quantidade necessária para a sementeira de muitos dias, se for necessário, porque se conserva assim perfeitamente. Identicamente se pode proceder em pregando, em vez de sulfato de soda, sulfato de cobre, mas reduzindo a dose deste a 0x500.
Preferível a este processo 'de aspersão é o de imersão, que consiste cm mergulhar o grão no líquido desinfectante. Por este meio os grãos pecos e doentes dos cereais vêm ao cimo do líquido e são daí retirados, enquanto grãos de boa qualidade vão ao fundo e só esses são confiados à terra; mas nas sementes oleaginosas as melhores sobrenadam. Os desinfectantes usados actualmente no processo de imersão são o sulfato de cobre, o cloreto de potássio, O formol o sulfato de ferro.
Neste processo o sulfato do cobre emprega-se, na razão de 2 por 100, o cloreto de potássio a 15 por 100, o formol a 3 por 100 e o sulfato de ferro a 10 por 100.
Qualquer destes sais diluem-se em100 litros de água dentro de uma barrica ou cuba, e lançando 15 a 20 litros de grão dentro do um cesto, ou caixa de fundo crivado ou de rede, mergulha-se no líquido insecticida, agita-se bem por algum tempo e retiram-se todos os grãos pecos ou doentes; feito isto, retira-se a semente boa e mete-se em outro banho, composto de cal, 3 a 4x, e água 100 litros, ou polvilha-se com cal em pó apagada de pouco. Todos estes processos desinfectantes são bons para preparar as sementes e dar bom resultado na terra; mas muito melhor será antes de tudo seleccionar as sementes, separar ainda no campo as espigas melhor conformadas, mais limpas, isentas de doença, ou os grãos mais cheios, mais pesados, embora não sejam os maiores. Além disto, para evitar a propagação das doenças, é bom não deitar no estrume, nem deixar no campo, perto das cearas, os resíduos das plantas doentes ou as varreduras das eiras; o que deve fazer-se é reunir todos esses resíduos e queimá-los.
M. Rodrigues de Moraes, Agrónomo.
(Da Gazeta das Aldeias.)
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Citação
M. Rodrigues de Moraes, Agrónomo, “Preparação das sementes, sua desinfecção para serem semeadas”. In O Jornal de Cantanhede, n.º 800, pág. 4, col. 1, 2 , 15-10-1904. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 30 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/977.