Pragas nos Periódicos

Parasitas nos celeiros

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Título

Parasitas nos celeiros

Criador

S /autor

Fonte

O Jornal de Cantanhede, n.º 839, pág. 2, col 4, pág. 3, col 1, 2

Data

15-07-1905

Colaborador

Pedro Barros

Text Item Type Metadata

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Os inimigos dos grãos (cereais e legumes) que mais vezes os acometem nos celeiros são, além dos ratos e pardais, o gorgulho, traça ou teia e alúcita para os cereais, e as bruchas, brucas ou brucos para os legumes.
O gorgulho é um coleóptero do grupo dos curculionídeos, de 3 a 4 milímetros de comprido e 1 a 1,5 de largo, de cor de café escuro, quase negra, de élitros (asas externas) rijos e cabeça terminada em bico.
Passa o inverno, no estado de insecto perfeito, metido nas fendas dos barrotes, dos solhos e das paredes, e quando a temperatura do ar, ao fim do inverno, se eleva a mais de 10º deixa o abrigo de inverno e procura os grãos onde se acolhe.
Logo a seguir dá-se a cópula e a fêmea deposita um ovo no sulco de cada grão. Este insecto dá diversas gerações por ano, pondo sempre os ovos sobre os grãos.
A traça e a alúcita são borboletas. A primeira em repouso apoia as pontas das asas uma contra a outra e levanta-as, e passa também o inverno nas fendas do celeiro, e a segunda põe as asas horizontais, e pode vir já do campo agarrada aos grãos ainda nas espigas. Ambas põem ovos sobre os cereais na primavera e envolvem ou ligam os grãos numa rede de fios que os prende uns aos outros.
Os meios de luta contra estes parasitas são difíceis e de resultado incompleto; é preciso repetir muitas vezes as operações para os combater, e a eficácia incompleta da luta explica a multiplicidade desses meios.
Assim, usam-se máquinas e aparelhos para bater os grãos contra as paredes das máquinas ou contra os celeiros; empregam-se substâncias de cheiro activo como piretro, arnica, etc, para os afugentar, ou gases asfixiantes como os de sulfureto de carbono e fumo de enxofre, fumo e infusão de tabaco, etc.
Mas os meios que, com insistência, podem dar mais resultado são os preventivos: paredes, tectos e chãos dos celeiros absolutamente lisos, sem fendas nem orifícios, podendo tudo ser tapado com argamassa a que se mistura asfalto, e tudo repetidas vezes lavado com água simples ou tendo em solução substâncias insecticidas como o petróleo, suco de tabaco, benzina, etc.; ou tulhas, caixas e vasilhas, bem fechadas e onde com os grãos possam encerrar-se substâncias que desprendem vapores tóxicos, como é principalmente o sulfureto de carbono, cujo efeito é dos mais seguros.
O meio que mais vezes ocorre pôr em prática é o padejamento; e coincidindo esta operação com alguma das gerações, ou épocas em que o gorgulho sai de dentro do bago, para se copular e dar outra geração, o padejamento dá resultado.
Para isto abre-se o celeiro e põem-se aos cantos e aos lados pequenos montes de cereal, colocando ao meio o monte maior, cujo grão se atira com força contra as paredes do celeiro ou contra uma superfície rija. Com o choque alguns insectos, seus ovos ou larvas morrem, outras fogem e sendo gorgulhos vão abrigar-se nos pequenos montes, onde podem ser apanhados e mortos, lançando-os, por exemplo, em água fervente.
Havendo borboletas, estas fogem a ocultar-se nas fendas, mas as larvas e ninfas podem ser mortas pelo choque e para este há, além da pá, como já disse, máquinas apropriadas, mas que só servem, pelo custo, nas grandes explorações.
Para este caso das borboletas se refugiarem nas fendas dos celeiros, ou quando no inverno as suas ninfas ou crisálidas ali se encontram, como também os gorgulhos, é que especialmente servem os vapores de enxofre, fumo de enxofre ou ácido sulfuroso em grande quantidade, não podendo empregar-se a varredura e lavagem.
Quando qualquer destes parasitas está no estado de larva ou crisálida, dentro do grão, pode escapar ao choque, então o único remédio é encerrar este em caixas ou vasilhas, que se fecham hermeticamente, pondo no meio do grão esponjas ou panos embebidos em sulfureto de carbono e encerrados em caixas de rede de arame de malha fina por onde não entre o grão.
A primeira prevenção contra estes parasitas consiste em não lançar o grão à terra, nas sementeiras, sem o passar num banho de sulfato de ferro ou de cobre, pois que o grão furado vem ao de cima e retira-se, e o que não vier, tendo algum germe, poderá este ser aniquilado.
Outra boa prevenção é só enceleirar o grão quando estiver bem seco, porque levando humidade entra em fermentação, torna-se mole e mais fácil de ser furado pelas larvas. Esta prevenção é ainda mais necessária quando o grão vai ficar encerrado em tulhas, caixas ou vasilhas.
(Da Gazeta das Aldeias)

Ficheiros

Citação

S /autor, “Parasitas nos celeiros”. In O Jornal de Cantanhede, n.º 839, pág. 2, col 4, pág. 3, col 1, 2 , 15-07-1905 . Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 26 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/996.

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