Conversa com Paulo Filipe Monteiro sobre "Noites Claras", o seu último filme

A NOVA FCSH conversou com Paulo Filipe Monteiro, Professor Catedrático do Departamento de Ciências de Comunicação e realizador do “Noites Claras”, um filme que conta a história de “dois irmãos num momento em que ambos se redescobrem, enfrentam os seus problemas e passam por uma transformação interior profunda”, descreve o docente. A obra cumpre “a terceira semana em sala. Quem quiser ver deve aproveitar até quarta-feira, porque no dia 20 de fevereiro já deve sair”, alerta o argumentista e realizador. Em Lisboa pode ser visto no Cinema Alvaláxia, com sessões às 13h40, 16h40, 19h00 e 21h35.

“Noites Claras” conta com a participação de 11 estudantes da NOVA FCSH, entre eles Duarte Melo (o protagonista Nuno), Huba Mateus (barman e estagiário de imagem na rodagem) e Pedro Paz (bailarino e responsável pela direção da cena de Contact Improvisation). No elenco, encontram-se também nomes como Beatriz Godinho, Romeu Runa, Lídia Franco, Custódia Gallego, António Durães, Pedro Lacerda, Rita Loureiro, Fran Martínez e Bartolomeu Figueira. Para além de realizar, Paulo Filipe Monteiro é, também, o autor do argumento.

Viu de alguma forma ressurgir alguma conversa ou debate que tenham tido durante o Mestrado em Artes Cénicas? Algum tema que tivessem explorado em aula que vos tenha “assaltado” de alguma forma durante a rodagem? 

Tanto um artista como um académico fazem investigação. A ligação com a NOVA FCSH, onde estou há tantos anos, flui por isso naturalmente: uma pesquisa alimenta a outra e vice-versa. No caso do Noites Claras, não foi tanto pelo lado das temáticas, foi mais pela linguagem adotada. Há vários anos que no ICNOVA venho a investigar as relações entre dança e cinema. Fiz uma primeira experiência com uma curta-metragem, Pas de Quoi, e agora o desafio era fazer uma longa em que os diálogos entre as personagens não se reduzissem a palavras, tivessem mais corpo e movimento do que é habitual ver no cinema.

Igualmente o tema da presença, sobre o qual fizemos um grande colóquio internacional, é essencial quando lidamos com atores. Do Mestrado em Artes Cénicas vieram, aliás, 11 alunos, que tiveram oportunidade de pôr em prática o que estudaram e de perceber como se trabalha num ambiente profissional. Dois deles tiveram uma participação muito forte, um como protagonista, o Duarte Melo, o outro, Huba Mateus, trabalhando todos os dias na equipa da imagem.

Como é que este filme pode ajudar na desconstrução da temática da depressão pós-parto (DPP), visto que é um tema pouco explorado na sociedade?  

Já fizemos dois debates, com as pessoas que tanto me ajudaram a estudar essa realidade que afeta tantas mulheres, algumas com uma gravidade extrema, a ponto de pensarem em matar o filho/filha. Debates com profissionais de saúde, psicólogos, enfermeiros, psiquiatras e educadores de infância. Todos testemunham outros casos e ângulos e todos acham que o filme é uma oportunidade ótima para retirar o estigma, para que as mulheres que passem por isso não pensem que são casos únicos e também para conhecer as várias fases do processo e como é possível sair dele. 

Sim, não é um filme deprimente.

De todo. Aliás, vocês ouviram na estreia no São Jorge, como as 700 pessoas riram bastante! Gosto de misturar o drama e a comédia. Noites Claras, sombra e luz. Mesmo falando das difíceis dinâmicas familiares (a DPP não é o único tema do filme), o projeto sempre foi olhar a depressão de frente mas também mostrar que se pode sair dela. O logline do filme é: “A luz ao fundo do túnel não é uma ilusão. O túnel sim.”