Doação Santiago Kastner
O espólio bibliográfico do musicólogo Macário Santiago Kastner, doado à NOVA FCSH, é composto por cerca de 1000 obras da área da Música e Musicologia.
Macário Santiago Kastner nasceu em Londres, de pais alemães, a 15 de Outubro de 1908 e faleceu em Lisboa a 12 de Maio de 1992.
Iniciou os seus estudos musicais na capital britânica, vindo posteriormente a prossegui-los em Amesterdão e em Leipzig, onde estudou piano, cravo, teoria musical, musicologia e construção de pianos. Prosseguiu os seus estudos de cravo e música antiga em Berlim no início da década de 1920. Enquanto representante da firma de pianos mecânicos fundada pelo seu pai, veio posteriormente a tomar contacto com a cena musical espanhola.
Em 1929 estabeleceu-se em Barcelona, onde se especializou em Musicologia sob a direcção de Higini Anglès e prosseguiu os seus estudos de piano, cravo e clavicórdio com Joan Gibert Camins, ao mesmo tempo que frequentava vários cursos de Música Antiga em Paris e Berlim.
O seu interesse pela música antiga portuguesa data, o mais tardar, de 1930. Em 1934, encorajado por Ivo Cruz, veio viver para Lisboa, onde acabou por se radicar. Kastner foi, ao longo dessa década, o primeiro a interpretar Carlos Seixas além-Pirenéus, o primeiro a publicar uma colecção de peças portuguesas para tecla – Cravistas Portuguezes (1935) – e pioneiro na introdução do clavicórdio na interpretação desse repertório de acordo com a sua visão da prática instrumental historicamente informada.
Em 1947 foi nomeado professor do Conservatório Nacional em Lisboa, onde foi conservador do Museu Instrumental e regeu, até 1984, o curso de Clavicórdio e Interpretação de Música Antiga; ensinou igualmente as disciplinas de Cravo, História da Música e Musicologia, deixando assim a sua marca em diversas gerações musicais.
Como concertista de cravo e clavicórdio deu importantes e numerosos recitais na Alemanha, Bélgica, Bulgária, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Inglaterra, Islândia, Itália, Jugoslávia, Portugal e Suécia, actuando também nas principais estações de rádio e televisão destes países, e atraindo discípulos de todo o mundo.
Dedicou-se sobretudo à revalorização do clavicórdio como instrumento de concerto, mas interessou-se igualmente pelo repertório antigo para instrumentos de sopro, o que o levou a fundar e dirigir durante e alguns anos o agrupamento de câmara “Menestréis de Lisboa”, com o qual se apresentou regularmente em Portugal e no estrangeiro.
Membro da Comissão de Musicologia da Fundação Calouste Gulbenkian desde 1958, exerceu aí funções de consultor musicológico, além de ser responsável pela inventariação e catalogação das espécies musicais existentes no Arquivo de Música da Fábrica da Sé Patriarcal de Lisboa. Enquanto colaborador do Instituto Português do Património Cultural desde 1976, foi responsável pela inventariação detalhada da colecção de instrumentos oriunda do Conservatório, e teve uma intervenção decisiva na preparação de várias exposições temporárias de instrumentos nela integrados.
Ao longo da sua carreira, Macário Santiago Kastner apresentou inúmeras comunicações em congressos e colóquios musicológicos portugueses e internacionais. A sua bibliografia inclui dezenas de artigos, estudos e edições modernas de Música Antiga, publicados na Alemanha, Dinamarca, Espanha, França, Holanda, Itália, Portugal e EUA. O seu trabalho de investigador incidiu sobretudo sobre a música ibérica para tecla e harpa dos séc. XVI a XVIII, área em que a sua autoridade foi internacionalmente reconhecida, mas também sobre o repertório instrumental italiano, holandês, inglês e alemão do mesmo período e diversos temas no domínio dos estudos organológicos.
A obra ímpar de Macário Santiago Kastner em prol da Musicologia e da Música Antiga ibéricas, apoiada numa vastíssima cultura e no domínio de oito línguas europeias, foi reconhecida em Portugal e Espanha através das mais variadas distinções académicas e honoríficas.
Texto de Manuel Pedro Ferreira
Macário Santiago Kastner (1908-1992), nascido em Londres, de ascendência alemã, distinguiu-se internacionalmente como musicólogo e crítico musical. O seu vasto saber neste campo era secundado pelas suas virtudes como instrumentista e também como conhecedor profundo dos segredos da construção de pianos.
A partir de 1934, Macário Santiago Kastner estabeleceu-se em Portugal. O nosso país tornou-se assim culturalmente mais rico por poder contar com o seu talento e dedicação. A sua contribuição para o desenvolvimento da musicologia portuguesa foi fecunda, não apenas através do ensino, mas também da investigação musicológica – sobretudo sobre Música Antiga Ibérica – e a conservação e divulgação de instrumentos musicais antigos, missão que desempenhou como colaborador em instituições como a Fundação Calouste Gulbenkian ou o Instituto Português do Património Cultural.
Embora pequena, esta exposição é uma justa homenagem e recordação da sua longa e prestigiada carreira.