Artes visuais

A doença foi representada na pintura em várias ocasiões, algumas delas com um peso histórico significativo. Neste quadro representa-se o levantamento do cerco castelhano a Lisboa, em 1383, devido a um surto de peste.
Cota: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/MCH/000047
O olhar dos artistas recaía, também, sobre aqueles que padeciam da doença. A sua representação, como revela o desenho de Maria Doente, feito por António Carneiro em 1958, vai de encontro à debilidade do corpo humano e à tentativa de superação da doença.
FCG – “[Maria doente]” (1958), autoria de António Carneiro, fotografia de Teófilo Rego.
Cota: CFT056.16; imagem 1 de 3
A par dos pacientes, os artistas preservaram a memória pública dos médicos e dos cientistas que se destacaram no combate às epidemias. Estas iniciativas foram dinamizadas pelos poderes políticos e por particulares. A notoriedade do médico Bernardino António Gomes (1768-1823) valeu-lhe um monumento no Jardim Botânico de Lisboa, em 1926.
CML/AML – ”Monumento ao doutor Bernardino António Gomes, pai” (192-), fotografia de Fernando Matias.
Cota: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/FJM/000182
Por outro lado, encontramos representações coletivas que acentuam não só o trabalho individual, como o de grupos intelectuais. Nesta pintura evoca-se uma das várias reuniões de intelectuais que tinham lugar no consultório do médico Francisco Pulido Valente (1884-1963).
Cota: PT/AMLSB/NEG/02/P00953
Outras representações aludem ao professor cientista, como Louis Pasteur (1822-1895), em contexto de aula, partilhando experiências, conhecimento e descobertas. Aludia a uma nova forma de ensino, valorizando o ideário positivista e o experimentalismo.
Cota: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/BAR/000590
Os artistas procuraram, também, representar as crenças e as devoções ligadas à cura e à proteção contra a doença. São Roque, associado ao combate à peste, é representado neste painel de azulejos a ministrar o sinal da Santa Cruz. Este ato remete para um episódio da sua vida, em Itália, no qual terá curado milagrosamente vários doentes.
Cota: CFT009.1143; imagem 3 de 4
Ligado à proteção contra a peste encontra-se ainda o caso de São Sebastião. No século VII, em Roma, o Papa ordenou a trasladação dos restos mortais do mártir para a cidade. Quando estes chegaram a epidemia cessou, o que fortaleceu a devoção ao santo. Contudo, esta só ganharia ímpeto no século XVI.
Cota do registo: IPA.00003065
Cota de fotografia: SIPA.FOTO.00005945
O culto mariano assumiu um lugar importante nas práticas religiosas e espirituais das populações. Em Lisboa, desde o século XVI, Nossa Senhora da Saúde é alvo de devoção por parte de doentes e dos seus familiares. Procuram a resolução da doença, mas também a compreensão do seu significado.
Cota: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/MAO/000490
Em várias instituições assistenciais encontram-se representações do seu patrono, da sua vida e do seu papel no combate à doença. No Hospital de São José, por exemplo, São João de Deus, protetor dos hospitais, dos doentes e enfermeiros, aparece representando o apoio e a caridade ao doente.
Cota do registo: IPA.00004048
Cota da fotografia: SIPA.FOTO.00687064
As instituições assistenciais financiaram a criação de obras artísticas para evidenciar o seu papel no combate à doença. As Misericórdias ornamentaram os seus edifícios com painéis de azulejos, onde se evidenciava, por exemplo, o seu apoio a enfermos, incluindo presos.
Cota: CFT009.398-408n; imagem: 2 de 6
- BUESCU, Ana Isabel – Os santos na Corte de D. João III e de D. Catarina. Lusitania Sacra [Em linha]. Lisboa. Nº 28 (2013). 49-72. – Disponível online.
- FRADE, Mafalda; BATISTA, Maria – Representações visuais da morte na edição de livros em Portugal. Diacrítica [Em linha]. Braga. Vol. 31, Nº 2 (2017), pp. 175-200. – Disponível online.
- PINA, Ana Maria; GOUVEIA, António Camões; BRIGOLA, João Carlos – Piedade popular. Um repertório bibliográfico, um projecto de investigação. Revista da FCSH. Lisboa. N.º 4 (1989), p. 135-173. – Disponível online.
- SALOIO, Marta Isabel Romão – Os relicários em Portugal e no Mundo Português entre os Séculos XVI e XVIII. Um Estudo Introdutório. Lisboa: NOVA FCSH, 2017. Dissertação de mestrado. – Disponível online.
- ROSA, Maria de Lurdes – A religiosidade medieval como campo de trabalho historiográfico: perspetivas recentes”. Revista de História das Ideias. Coimbra. 2ª Série, Vol. 36, 57-81. – Disponível online.
- ROSA, Maria de Lurdes – Espiritualidade(s) na corte (Portugal, c. 1450-c. 1520). Anuario de Historia de La Iglesia [Em linha]. Pamplona. N.º 26 (2017), p. 217-258. – Disponível online.
- VERÃO, Maria Teresa Canhoto – Os azulejos do Mosteiro de São Bento de Cástris de Évora: o ciclo bernardino e o seu significado. Lisboa: NOVA FCSH, 2017. Dissertação de mestrado. – Disponível online.
- ACCIAIUOLI, Margarida – Arte & dor. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 2015. – Cotas: AD 4724/A-B (BMSC)
- ARIÈS, Philippe – O homem perante a morte. Mem-Martins: Europa-América, 1988. – Cota: ANT 56/C/1 (BMSC)
- BROCHADO, Costa – São João de Deus. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações do IV Centenário de São João de Deus, 1950. – Cota: BM 990 (BMSC – Doação António G. Matoso)
- CASTRO, Rachel Jardim – S. João de Deus: um herói português do século XVI. Lisboa: Portugália Editora, [s.d.]. – Cotas: BM 966 (BMSC – Doação António G. Matoso) ; HST 4826 (BMSC)
- GOODICH, Michael E. – Miracles and wonders : the development of the concept of miracle, 1150-1350. Hampshire: Ashgate, cop., 2007. – Cota: IEM 15 (BVMG – IEM, Instituto de Estudos Medievais)
- HAMMERLING, Roy (ed.) – A history of prayer: the first to the fifteenth century. Leiden; Boston: Brill, 2008. – Cota: IEM 59 (BVMG – IEM, Instituto de Estudos Medievais)
- LIMA, Joaquim da Costa – S. Roque e os seus artistas: os artífices de S. Roque. Lisboa: [s.n.], 1953. – Cota: ALC 366 (BMSC)
- MARIE, Rose; HAGEN, Rainer – Pieter Bruegel: the Elder c. 1525-1569, peasants, fools and demons. Koln: Benedikt Taschen, 2011. – Cota: AD 258 (BMSC)
- MARQUES, João Francisco – Orações e devoções. In Azevedo, Carlos (Dir.), História religiosa de Portugal. Vol. 2. Lisboa: Círculo de Leitores, 2000, p. 603–670. – Cota: GHIS 1/2 (BVMG – CHAM, Centro de Humanidades)
- MARQUES, João Francisco – Os itinerários da santidade: milagres, relíquias e devoções. In Azevedo, Carlos (Dir.), História religiosa de Portugal. Vol. 2: Humanismos e reformas. José Francisco MARQUES; António Camões GOUVEIA (Coords.). Lisboa: Círculo de Leitores, 2000, p. 359–367. – Cota: GHIS 1/2 (BVMG – CHAM, Centro de Humanidades)
- MELO, Alexandre – Quando o mundo nos cai em cima, artes no tempo da SIDA. Lisboa: Abraço, 1994. – Cota: GS 1047 (BMSC)
- [n.a.] – Imagens, devoções e o que podem representar. Cultura. Revista de História e Teoria das Ideias [em linha]. Lisboa. Vol. 27 (2010), p. 9. – Cota: PCUL (BVMG – CHAM, Centro de Humanidades)
- OLIVEIRA, Susana – Tal como ela era…: fragmentos entre a vida e a morte. In Arte & Melancolia. [Lisboa]: Instituto de História da Arte, Estudos de Arte Contemporânea, 2011, p. 283-298. – Cota: AD 3193/A (BMSC)
- PINTO, J. Estêvão – S. João de Deus fundador da ordem dos Hospitaleiros e padroeiro dos hospitais. Lisboa: SNI, 1950. – Cota: BM 3651 (BMSC – Doação António G. Matoso)
- ROSA, Maria de Lurdes – Sagrado, devoções e religiosidade. In MATTOSO, José, História da Vida Privada em Portugal. Vol. 1: A Idade Média. Bernardo Vasconcelos e SOUSA (coord.). Lisboa: Temas e Debates, 2010, p. 376-401. – Cota: GHIS 2/1 (BVMG – CHAM, Centro de Humanidades)
- SCHMID, Holger – La mort de l’art et le destin de l’âme. In DIAS, Isabel Matos (org.), Estéticas e artes: controvérsias para o século XXI. Actas do colóquio internacional (Lisboa, 29-30 de Maio de 2003). Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2005, p. 29-40. – Cota: FCOL 24 (BVMG – CHAM, Centro de Humanidades)
- TORRENT, Rosalia – Pathos y thanatos en el arte contemporâneo. In Visiones de pasión y perversidad. [Madrid]: Fernando Villaverd, 2014, p. 240–257. – Cota: 7.04 (MIN) – VIS (BVMG – CHAM, Centro de Humanidades)
- VOVELLE, Michel – La mort et l’Occident de 1300 à nos jours. Paris: Gallimard, 1983. – Cota: ANT 289 (BMSC)
- XAVIER, Pedro do Amaral – A morte, símbolos e alegorias: estudos iconográficos sobre arte portuguesa e europeia. Lisboa: Livros Horizonte, 2001. – Cota: AD 1530 (BMSC)
Pesquise mais no Catálogo das Bibliotecas da NOVA FCSH:
CATÁLOGO