Artistas e doenças

Embora associados às representações de doenças e de doentes, foram vários os artistas apanhados na malha de epidemias. Alguns faleceram jovens, outros no auge da sua carreira. A sua morte gerou comoção pública, originando sentimento de perda sobre a obra a criar ou estéticas a desenvolver. Se por um lado a sua morte romantizou o ideal de “artista sofredor”, por outro contribuiu para a proliferação de estereótipos de decadência física e moral associados aos meios artísticos.

Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918) foi vitimado pela pneumónica. Principal figura da pintura modernista, consolidou a sua carreira em Paris. Ali interagiu com os mestres e viu obras das principais vanguardas artísticas, proporcionando-lhe projeção internacional.

FCG/BA – “Cafés de Paris” (1908), fotografia do Estúdio Mário Novais [pintura a óleo de Amadeo de Souza-Cardoso, Museu de Arte Contemporânea, Lisboa].

Cota: CFT003.90036; imagem: 4 de 4

Tal como Amadeo, Guilherme de Santa-Rita (Santa-Rita Pintor, 1889-1918) morreu de pneumónica. Foi um dos impulsionadores do futurismo português e do movimento “Orpheu”. Após a sua morte, e a seu pedido, a família queimou a maioria da sua obra.

FCG/BA – “SNI : diversos [material gráfico]” [1953], fotografia de Estúdio Mário Novais, [Orpheu dos Infernos, pintura de Santa Rita Pintor, 1904].

Cota: CFT003.123659; imagem: 4 de 6

Luís Vaz de Camões (c. 1524-1579-80) foi um dos expoentes da literatura portuguesa, sendo autor de obras como Os Lusíadas (1572) e Rimas (1595). Faleceu de peste, supostamente no dia 10 de junho, hoje comemorado como dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

CML/AML – “Visita do alcaide de Madrid ao monumento a Camões” (1950), fotografia de Firmino Alves da Costa.

Cota: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/FMC/000139

Júlio Dinis (1839-1871), autor de obras como As Pupilas do Senhor Reitor (1866) e Uma Família Inglesa (1867), morreu com tuberculose aos 31 anos. O escritor, seguindo o exemplo de outros da sua época, procurou a cura nos “ares” bucólicos de Ovar e da Madeira.

CML/AML – “Joaquim Guilherme Gomes Coelho, mais conhecido por Júlio Dinis” (19–), fotografia de Arnaldo Garcez Rodrigues.

Cota: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/AGR/000007

O poeta Cesário Verde (1855-1886) também faleceu aos 31 anos com tuberculose. A sua estética poética impressionista abriu caminho ao modernismo literário português. Em 1933, a Câmara Municipal de Lisboa batizou uma rua com o seu nome, e em 1955 foi inaugurado um busto em sua memória.

CML/AML – “[Busto de Cesário Verde, inauguração com a presença da sua sobrinha-neta, Teresa Pinheiro Chagas Verde]” (1955), fotografia de Armando Maia Serôdio.

Cota: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/SER/000886

António Fragoso (1897-1918), compositor de Petite suite, Pensées extatiques, Prelúdios, Nocturnos, e Canções do Sol poente, pereceu de pneumónica. Ficou na história da música em Portugal pela sua obra com caraterísticas modernistas.

CESEM NOVA FCSH – “António Fragoso e o seu tempo” (2010), livro com coordenação e direção científica de Paulo Ferreira de Castro, ISBN: 978-989-96424-0-9.

Também David de Sousa (1880-1918) foi vítima da pneumónica. Faleceu na Figueira da Foz, com apenas 38 anos. Foi professor de violoncelo e de orquestra no Conservatório Nacional. Foi também maestro na Orquestra Sinfónica de Lisboa, compondo mais de uma centena de obras, como Rapsódia Eslava e o poema sinfónico Inês.

CML/AML – “Concerto dirigido por David de Sousa, no teatro Politeama” (1913), fotografia de Alberto Carlos Lima.

Cota: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/LIM/003268

António Variações (1944-1984), autor de músicas como Estou Além e A Canção do Engate, morreu de complicações provocadas pela SIDA.  Durante o funeral, o caixão permaneceu selado pelo receio e desconhecimento dos meios de propagação da doença.

ARQUIVO.PT – “AMARES: Alunos homenageiam António Variações com graffiti na escola” (2018), adicionado por Fernando Gualtieri, Minho Press.

  • DIAS, Laura Susana Lustre – Caricatura e retrato na obra de arte de Amadeo de Souza-Cardoso: o problema da representação no modernismo . Lisboa: NOVA FCSH, 2014. Dissertação de mestrado.  – Disponível online. 
  • MARTINS, Fernando Cabral – O interseccionismo como vector de Orpheu. In III Congresso Internacional Fernando Pessoa [Em linha]. Lisboa: [s.e.], 2013. – Disponível online. 
  • RODRIGUES, Helena – António Fragoso num golpe de asa de 1918 a 2008: talento ou especialização? – das palavras aos factos da excepcionalidade. In CASTRO, Paulo Ferreira de (dir.), António Fragoso e o seu tempo. Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical – Associação António Fragoso ed. Lisboa : [s.n.], 2011, p. 163–173. – Disponível online.
  • SALGUEIRO, Ana Rita Ferreira Dos Santos – A Arte em Portugal no Século XX (1911-1961) José-Augusto França e a perspetiva sociológica. Lisboa: NOVA FCSH, 2012. Dissertação de mestrado.  – Disponível online. 
  • SOARES, Marta De Almeida Loução – Amadeo e Orpheu: para o desenvolvimento das relações entre Amadeo de Souza-Cardoso e a revista Orpheu. Lisboa: NOVA FCSH, 2014. Dissertação de mestrado. – Disponível online. 
  • [s.a.] – António Fragoso: um génio feito saudade. Cantanhede: s.n., 2008. – Cota: HMC FRAG 002 (BVMG – CESEM, Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical)
  • BELÉM, Margarida Cunha; RAMALHO, Margarida de Magalhães – Amadeo de Souza-Cardoso. Lisboa: Temas e Debates, 2009. – Cota: IELT 9.BEL*Ama (BVMG – IELT, Instituto de Estudos de Literatura e Tradição)
  • CASTRO, Paulo Ferreira de (dir.) – António Fragoso e o seu tempo. Lisboa: Associação António Fragoso, Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical, 2010. – Cota: HST 1806 (BMSC)
  • CHAVES, Henrique de Almeida – Camões : mito lusíada na construção de uma ideia de Europa. Em Génese e consolidação da ideia de Europa: idade média e renascimento. Vol. IV. Coimbra: s.n., 2009, p. 275–298. – Cota: 930.85(4) (UNI) – GEN/4 (BVMG – CHAM, Centro de Humanidades)
  • FRANÇA, José-Augusto – Amadeo de Souza-Cardoso. Venda Nova: Inquérito, 1972. – Cota: BSC 28565 (BMSC – Doação Sottomayor Cardia)
  • FRANÇA, José-Augusto – O modernismo na arte portuguesa. Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1983. – Cota: 7.036(469) FRA/MOD (BVMG – CHAM, Centro de Humanidades)
  • MARQUES, Paulo – Amadeo de Souza-Cardoso: pintor do modernismo: 1887-1918. Lisboa: Parceria A. M. Pereira, 2008. – Cota: HST 6463 (BMSC)
  • MARQUES, Paulo – António Variações: um homem além do tempo: 1844-1984. Lisboa: Parceria A. M. Pereira, 2008. – Cota: HST 6466 (BMSC)
  • MONIZ, Egas – Júlio Dinis e a sua obra. Porto: Livraria Civilização, 1946. – Cota: HST 6216 (BMSC)
  • MONTEIRO, M. J. Oliveira – Júlio Dinis e o enigma da sua vida. S.l.: S.n, S.d. – Cota: LL 10325 (BMSC)
  • SAMPAIO, José António – Santa Rita Pintor. Nova Renascença. Porto. Vol. 2, n.o 7 , p. 287–295. – Cota: PNRE (BVMG – CHAM, Centro de Humanidades)
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