14
Jan
Data: 14 Jan a 8 Fev 2025
Horário: terças e quintas-feiras, das 18h00 às 20h30 | dia 8 de fevereiro (sábado) das 14h00 às 19h00
Duração: 25h | 2 ECTS
Morada: NOVA FCSH
Área: História, Património e Cultura
Docente: Rosa Maria Fina
Acreditação pelo CCPFC: Não

 

Objetivos

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  • Apresentar a nova área científica dos Estudos sobre a Noite;
  • Comunicar as principais características da história da noite;
  • Apresentar comparativamente vários episódios da história da noite de Lisboa (séc. XIX e XX);
  • Refletir sobre alguns acontecimentos relacionados com a história da noite de Lisboa.

 

Programa

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À medida que a nossa compreensão das cidades se aprofunda, percebemos que a noite não é simplesmente a ausência de luz, mas um período do dia com dinâmicas sociais, culturais e económicas próprias. Lisboa, com a sua história rica e a vida noturna vibrante, oferece um cenário perfeito para explorar este fenómeno. A noite transforma a cidade. Ruas que durante o dia são utilizadas para o trabalho, à noite tornam-se espaços de lazer e encontro. Bares, clubes, restaurantes, mas também praças e parques, adquirem novas funções e significados. É neste contexto que a noite se revela como um espaço social complexo e dinâmico, onde se constroem identidades e relações. Muitas vezes esquecida pela história oficial, a noite é um testemunho riquíssimo dos costumes e vida social. Através dela, podemos compreender melhor a cidade de Lisboa que, ao longo dos séculos, se reinventou e se adaptou. Na Lisboa medieval, por exemplo, a noite era um período de recolhimento. As ruas eram mal iluminadas e os perigos à espreita. As pessoas recolhiam cedo aos seus lares e as atividades noturnas eram limitadas. No entanto, mesmo neste período, a noite era palco para alguns eventos clandestinos e reuniões secretas. Com a chegada da iluminação pública no final do século XVIII, a noite de Lisboa começou a transformar-se. Cafés, teatros e casas de jogo surgiram, oferecendo aos lisboetas novas formas de entretenimento. Principalmente a partir do século XIX, a noite tornou-se um espaço de socialização e divertimento, especialmente para as elites. Com o desenvolvimento da cidade na segunda metade do século XIX, Lisboa expandiu-se e a vida noturna encontrou um palco social consagrado e mais acessível. Bairros boémios como a Alfama e o Bairro Alto surgiram, oferecendo aos lisboetas uma variedade de opções de lazer. A noite tornou-se um palco para a cultura e a política, com debates acalorados em cafés e a realização de eventos literários e artísticos. O século XX foi marcado por grandes mudanças na noite de Lisboa. A Segunda Guerra Mundial e o Estado Novo deixaram marcas profundas na cidade, mas a noite sempre encontrou formas de se reinventar. As décadas de 1920 e 1950 foram marcadas por um grande dinamismo cultural, enquanto as décadas de 1960 e 1970 foram um período de grandes transformações sociais.

Ao longo do curso, não podendo abarcar toda a diversidade da história noturna da cidade, vamos focar a abordagem em alguns temas:

  • A noite boémia;
  • A noite e a literatura;
  • Trabalho noturno;
  • As personagens mitológicas e reais da noite de Lisboa;
  • A noite queer;
  • Formação do Bairro Alto como lugar de diversão noturna;
  • Cinema e literatura: a Noite e o Riso (Nuno Bragança) e os Verdes Anos (Paulo Rocha), cruzamentos noturnos.

 

Bibliografia

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  • Ekirch, Roger A. (2005). At Day’s Close. Night in Times Past. New York/London: W. W. Norton & Company.
  • Fina, Rosa Maria (2016). “Portugal Nocturno e a ameaça do dia. A Ideia de Noite na Cultura Portuguesa (sécs. XVIII a XX)”. Tese de Doutoramento. Lisboa: Universidade de Lisboa.
  • Kalifa, Dominique (2019). Vice, Crime and Poverty. How the western imagination invented the underworld. New York: Columbia University Press.
  • Plamer, Brian D. (2000). Cultures of Darkness, Night Travels in the histories of Transgression. New York: MRP.
  • Schlör, Joachim (1998). Nights in the Big City. London: Reaktion Books.

 

PROPINA

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Ver tabela em Informações úteis.

 

Docente(s)

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Luís Trindade é investigador integrado do IHC – Instituto de História Contemporânea / IN2PAST – Laboratório Associado para a Investigação e Inovação em Património, Artes, Sustentabilidade e Território. Anteriormente, foi professor de estudos portugueses e europeus em Birkbeck, Universidade de Londres (entre 2007 e 2019), e de história contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, entre 2020 e 2023. No ano letivo de 2006-2007, foi investigador de pós-doutoramento na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris. Dirige atualmente o IHC e tem também atividade docente na NOVA FCSH.

Rosa Maria Fina é licenciada em Estudos Portugueses (2003), tem uma pós-graduação em Estudos Brasileiros e Africanos (2005), é mestre em Ciências da Cultura – Cultura Artística (2011) e doutorada em História Contemporânea (2016) com uma tese sobre a história da noite em Lisboa. Foi bolseira de investigação do projeto “On Violence. Representações da violência nas literaturas africanas de língua portuguesa” (2017-2020). Fez parte da equipa nuclear do projeto AFROLAB (2020-2023). É colaboradora do IHC – Instituto de História Contemporânea. Tem produção científica (conferências, artigos e capítulos de livros) sobre a História da Noite publicada em Portugal e no estrangeiro. Faz parte da International Night Studies Network. Numa abordagem muito interdisciplinar, tem publicado trabalhos sobre Cultura e Literatura Portuguesa, Brasileira e dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Atualmente desempenha funções de Gestora de Ciência no IHC da NOVA FCSH.

  • Centro Luís Krus – Formação ao Longo da Vida
  • Cursos de ANO NOVO (CAN)