
Arte & a Política do Colapso: Experiências Práticas e Críticas do Capitalismo nas Artes Contemporâneas
Objetivos
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- Explorar uma perspetiva descentrada da história da arte normativa que desafia estruturas de poder e promove alternativas sociais;
- Desenvolver uma análise crítica e sistémica sobre a arte como resistência ou agente da economia dominante;
- Capacitar os participantes a aplicar uma visão interseccional no engajamento de temáticas sobre discriminação social nas suas práticas de investigação;
- Estimular a articulação de narrativas não extrativas que proponham futuros possíveis como ferramenta de reflexão sobre crises ambientais e sociais;
- Fomentar o desenvolvimento de reflexão graça à inteligência coletiva via debates interativos e dinâmicos com o uso de tecnologias digitais e colaborativas;
Programa
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Diante dos desafios ambientais e sociopolíticos globais, como podem as artes oferecer um espaço crítico e de reflexão sistémica que questiona a economia dominante, sem contribuir para impulsionar crises planetárias? O curso de ano “Arte & a Política do Colapso” convida participantes a explorar visões anti- e pós-capitalistas nas práticas artísticas e curatoriais contemporâneas. Estruturado em oito sessões, o curso aborda esse tema central numa metodologia interativa: cada aula inclui uma introdução teórica, apresentações de trabalhos dos participantes e uma discussão em mesa redonda. Adotando o formato de seminário digital, o curso incentiva o diálogo e a produção de conhecimento colaborativo, promovendo uma experiência de ensino inclusiva com uma ambição transformadora. As sessões engajam metodologias dinâmicas através de leituras coletivas de extratos de textos académicos, de catálogos e livros de artistas, estudos de caso e análises de conteúdos audiovisuais. As sessões também contarão com a participação de convidados – artistas e teóricos de renome – que enriquecerão a experiência com perspetivas nacionais e internacionais.
Gravar — Pós e Anti-Capitalismo na História da Arte: Conivência e Tensões Como a arte se tem, historicamente, posicionado relativamente ao capitalismo, revelando tensões entre o financiamento público, privado e a autonomia criativa?
Desvelar — Ideologias dos Colapsos e Práticas Artísticas Contemporâneas Como as práticas artísticas contemporâneas expõem a ideologia do colapso, desafiando narrativas capitalistas, explorando utopias possíveis e imaginando alternativas sociais?
Descentrar — Eco-Artes, Humanidade e Mais-Que-Humano De que forma as práticas artísticas atualizam o colapso como estética, refletindo sobre decadência, ruínas, extração, e exploração do humano e do mais-que-humano ao romper com a normatividade capitalista?
Decolonizar — Afrofuturismo e Aberturas de Possíveis via a Ficção Científica De que forma o afrofuturismo, como prática especulativa de arte, oferece prospetivas de realidades que desafiam o colonialismo e o capitalismo?
Deteriorar — Vandalismo, Arte e Ações Alegais Como a arte pode provocar reflexões sobre a-legalidade e zonas de indeterminação, expondo incoerências e lacunas na legislação sem ser diretamente regida por ela?
Des(cons)truir — Produção de Narrativas Plurais Como as narrativas ficcionais, desde a autoficção até o storytelling, constroem a realidade social e política, criando formas de conhecimento e imaginação social pós-capitalista?
Comunizar — Curadoria e Teoria do Comum Como práticas curatoriais e artísticas coletivas, como ocupações e ações de grupos, geram alternativas sociais através da criação colaborativa, construindo uma nova visão de interconexão e resistência?
Refletir — Museus e Colapso Social como Espaço de Refúgio Qual o papel dos museus e espaços artísticos na preservação de conhecimento e na resistência ao colapso social e ambiental?
Bibliografia
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- Eshun, Kodwo (2020). More Brilliant Than the Sun: Adventures in Sonic Fiction. London: Verso.
- Fisher, Mark (2009). Capitalist Realism: Is There No Alternative? Winchester: zer0 Books.
- Janes Robert R. (2023). Museums and Societal Collapse: The Museum as Lifeboat. London/New York: Routledge.
- Nina Power; Pil and Galia Kollectiv; John Roberts; Gregory Sholette. “On Claims of Radicality in Contemporary Arts”, 26 janvier 2015.
- Servigne, Pablo; Stevens, Raphaël (2020). How Everything Can Collapse: A Manual for our Times, trad. Andrew Brown. Polity: Cambridge/Medford.
pré-requisitos
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Para seguir o curso, é desejável ter conhecimento básico sobre a história crítica da arte contemporânea, incluindo práticas de artistas e coletivos nacionais e internacionais. Conhecimentos em sociologia da arte, estudos culturais e perspetivas decoloniais são considerados uma vantagem. As aulas são ministradas principalmente em português; é preciso ter compreensão oral e textual do inglês.
PROPINA
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Ver tabela em Informações úteis.
docente(s)
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Ricardo Campos é doutorado em Antropologia Visual, com mestrado e licenciatura em Sociologia. Investigador integrado no CICS.NOVA – Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais e coordenador do grupo de investigação Cidadania, Trabalho e Tecnologia. Docente convidado no Mestrado em Relações Interculturais (Universidade Aberta). Desenvolve investigação em torno das temáticas das culturas juvenis urbanas, da arte urbana, dos media digitais, da antropologia visual e da cultura visual, tendo diversos capítulos de livros e artigos em revistas nacionais e internacionais sobre estes temas.
Stéphane Blumer é pesquisador associado no Laboratoire d’Anthropologie Politique da EHESS, Paris e investigador colaborador do CICS.NOVA Universidade de Lisboa. A sua investigação envolve a antropologia política e a sociologia de modelos emergentes de gestão e governação no âmbito do empreendedorismo e das comunidades artísticas e o desenvolvimento de inovações sociais e políticas, processos criativos e métodos heurísticos na arte e no design. Campos de investigação: entidades estatais e supra-estatais, think tanks, ensino superior (escolas de arte, design e arquitetura), sociedade civil (associações e fundações), cidadania crítica, e ativismo social. Através de observações participantes extensivas em vários projetos concretos, a investigação analisa os modelos sociopolíticos e económicos que emergem das ideologias e sistemas de valores encontrados nestas configurações, bem como as práticas de governação e gestão desenvolvidas entre elas. Mediante descrições etnográficas dos papéis, rituais e regras construídos nestas organizações, o estudo expõe os modelos imaginários e as relações que as comunidades de inovação alimentam com as tecnologias que desenvolvem (sociais e digitais). O foco é colocado nas suas conceções de colapsos, ecossistemas, bens comuns e comunidade, consciência e inteligência coletivas, autogestão, (re)produção de conhecimento de fonte aberta, e nos paradigmas sociais originais que daí decorrem.