Coccus hesperidum
Dublin Core
Título
Coccus hesperidum
Criador
João Anselmo da Cruz Pimentel Choque
Fonte
O Agricultor Micaelense, vol. 1, nº 3, pp. 39-41.
Data
20-12-1843
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
Em ocasião tão cortada de temores e pressentimentos, que julgareis ter a Providência decretado que as Laranjeiras – a Árvores dos pomos de ouro, desaparecessem, da face da terra; - quando a conversa das praças, dos casais, e das salas, por campos e Cidade se volve e arrasta atemorizada sobre o vulto pavoroso da cholera morbus vegetal, como alguns a denominam por falta de superlativa expressão; - no meio desta ansiedade que se nota em a maior parte dos espíritos, fiamos que alguém nos agradecerá uma palavra de conforto, e acoroçoamento.
O inseto devorista (Coccus hesperidum?) não é novo, antes sempre fez as suas delícias nos viçosos e perfumados pomares de Laranjeiras, à semelhança do que em quási cada vegetal pratica um particular inseto.
As suas devastações quando não progridem a ocultas e inobservadas, longe de serem mortíferas, facilmente se remediam.
E, por fim, não tem sua estrutura peculiar e hábitos próprios escapando às minuciosas investigações da Entomologia: abri qualquer tratado desta encantadora ciência, e ficar-vos-eis maravilhados de ler tais particularidades como ainda não tínheis descoberto, apesar de todo o afinco com que o medo vos fizera mirrar e remirar a folhinha verde apinhada dos vossos inimigos.
Vigilância e limpeza: e os vossos pomares afrontaram o mal!
O remédio e cura da aterradora moléstia esta entregue a mãos mais do que hábeis – zelosas. A boa vontade pode mais que tudo. Ainda que pudéramos, não meteríamos a foice em seara tão bem guardada: mas – pois que temos esta singeleza, relevar-nos-à a digna Comissão, que lhe roubemos o prazer de brindar ao público uma notícia colhida duma obra de Mr. Forsyth, Jardineiro que foi do Rei de Inglaterra. Insignificante será ela, mas temos, além de outros, o peco dos noveleiros.
Instrução para o decote das Laranjeiras
«No momento (diz o autor) em que este M. S. ia a imprimir-se, veio-me procurar Mr. Rademaker, Agente de Portugal em Londres. O seu negócio era participar-me, haver recebido um aviso do Cavalheiro – Almeida Ex-Embaixador nesta Corte (Londres) – no qual lhe comunicava aquele Cavalheiro ter, na sua volta a Portugal, encontrado as Laranjeiras do quintal do Príncipe do Brasil adoentadas, e no mais deplorável estado; e ao mesmo tempo lhe pedia que obtivesse de mim uma porção da minha Composição (a) juntamente com um exemplar do Folheto «Observations on the Diseases & in Frutir and Forest Trees» Observações sobre as doenças das árvores frutíferas e florestas – mostrando o maior empenho de ensaiar aquela composição nas árvores da sua pátria.
De bom grado me prestei a satisfazer a sua exigência, e lhe aprontei uma barrica da composição, e as instruções precisas para a preparação das árvores, e aplicação do remédio.
Quando a inficionação estiver muito adiantada, e se entender necessário o decote das Laranjeiras, sou de parecer, que as não serem rente ao tronco, mas que lhe deixem duas ou três polegadas dos ramos; numas mais, noutras menos; atendendo sempre a que o decote se pratique próximo duma bifurcação, o que vem a formar uma copa melhor enramalhetada: aplicando-se imediatamente depois o Unguento. Advirta-se que nesta operação cumpre deixar alguns rebentões novos para atraírem a seiva.
«Se as árvores estiverem infestadas de insetos devem os troncos ser lavados com água de sabão e urina, esfregando-se muito bem com uma escova áspera».
Há doze anos pouco mais ou menos estavam as Laranjeiras dos Jardins de Kensington tão inchadas duma casta de coccus (hesperidum?), que não tive remédio senão serra-las todas para poder exterminar os insetos, aplicando-lhe então o Unguento: mas tive a consolação de ver que as árvores medraram maravilhosamente, e que dentro em três anos, sem calor algum artificial, ficarão tão viçosas e copadas como antes de decapitadas; continuando ainda hoje a florescer, e frutificar com o mesmo viço.
Aconselho que se capem os rebentões laterais da Laranjeiras, como já ordenei acerca doutras árvores frutíferas; e recomendo também, que haja muito cuidado em se trazerem as copas das laranjeiras bem limpas de ramos supérfluos. […]
(a) A composição a que Mr. Forsyth alude, e que é conhecida pela sua denominação, compõem-se da seguinte maneira. –
Um cesto de Bosta de rês fresca.
Meio D.º de caliça.
Meio D.º de Cinza.
Quanto baste de água de sabão e urina, e de areia para tornar a massa na requerida consistência.
O inseto devorista (Coccus hesperidum?) não é novo, antes sempre fez as suas delícias nos viçosos e perfumados pomares de Laranjeiras, à semelhança do que em quási cada vegetal pratica um particular inseto.
As suas devastações quando não progridem a ocultas e inobservadas, longe de serem mortíferas, facilmente se remediam.
E, por fim, não tem sua estrutura peculiar e hábitos próprios escapando às minuciosas investigações da Entomologia: abri qualquer tratado desta encantadora ciência, e ficar-vos-eis maravilhados de ler tais particularidades como ainda não tínheis descoberto, apesar de todo o afinco com que o medo vos fizera mirrar e remirar a folhinha verde apinhada dos vossos inimigos.
Vigilância e limpeza: e os vossos pomares afrontaram o mal!
O remédio e cura da aterradora moléstia esta entregue a mãos mais do que hábeis – zelosas. A boa vontade pode mais que tudo. Ainda que pudéramos, não meteríamos a foice em seara tão bem guardada: mas – pois que temos esta singeleza, relevar-nos-à a digna Comissão, que lhe roubemos o prazer de brindar ao público uma notícia colhida duma obra de Mr. Forsyth, Jardineiro que foi do Rei de Inglaterra. Insignificante será ela, mas temos, além de outros, o peco dos noveleiros.
Instrução para o decote das Laranjeiras
«No momento (diz o autor) em que este M. S. ia a imprimir-se, veio-me procurar Mr. Rademaker, Agente de Portugal em Londres. O seu negócio era participar-me, haver recebido um aviso do Cavalheiro – Almeida Ex-Embaixador nesta Corte (Londres) – no qual lhe comunicava aquele Cavalheiro ter, na sua volta a Portugal, encontrado as Laranjeiras do quintal do Príncipe do Brasil adoentadas, e no mais deplorável estado; e ao mesmo tempo lhe pedia que obtivesse de mim uma porção da minha Composição (a) juntamente com um exemplar do Folheto «Observations on the Diseases & in Frutir and Forest Trees» Observações sobre as doenças das árvores frutíferas e florestas – mostrando o maior empenho de ensaiar aquela composição nas árvores da sua pátria.
De bom grado me prestei a satisfazer a sua exigência, e lhe aprontei uma barrica da composição, e as instruções precisas para a preparação das árvores, e aplicação do remédio.
Quando a inficionação estiver muito adiantada, e se entender necessário o decote das Laranjeiras, sou de parecer, que as não serem rente ao tronco, mas que lhe deixem duas ou três polegadas dos ramos; numas mais, noutras menos; atendendo sempre a que o decote se pratique próximo duma bifurcação, o que vem a formar uma copa melhor enramalhetada: aplicando-se imediatamente depois o Unguento. Advirta-se que nesta operação cumpre deixar alguns rebentões novos para atraírem a seiva.
«Se as árvores estiverem infestadas de insetos devem os troncos ser lavados com água de sabão e urina, esfregando-se muito bem com uma escova áspera».
Há doze anos pouco mais ou menos estavam as Laranjeiras dos Jardins de Kensington tão inchadas duma casta de coccus (hesperidum?), que não tive remédio senão serra-las todas para poder exterminar os insetos, aplicando-lhe então o Unguento: mas tive a consolação de ver que as árvores medraram maravilhosamente, e que dentro em três anos, sem calor algum artificial, ficarão tão viçosas e copadas como antes de decapitadas; continuando ainda hoje a florescer, e frutificar com o mesmo viço.
Aconselho que se capem os rebentões laterais da Laranjeiras, como já ordenei acerca doutras árvores frutíferas; e recomendo também, que haja muito cuidado em se trazerem as copas das laranjeiras bem limpas de ramos supérfluos. […]
(a) A composição a que Mr. Forsyth alude, e que é conhecida pela sua denominação, compõem-se da seguinte maneira. –
Um cesto de Bosta de rês fresca.
Meio D.º de caliça.
Meio D.º de Cinza.
Quanto baste de água de sabão e urina, e de areia para tornar a massa na requerida consistência.
Ficheiros
Colecção
Citação
João Anselmo da Cruz Pimentel Choque, “Coccus hesperidum”. In O Agricultor Micaelense, vol. 1, nº 3, pp. 39-41., 20-12-1843. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 26 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/107.