Bicho das laranjeiras
Dublin Core
Título
Bicho das laranjeiras
Criador
S/autor
Fonte
O Agricultor Micaelense, vol. 1, nº 27, pp. 463-464.
Data
03-1850
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
A este vital assunto consagraste, no ano passado, um grande número de sessões; em todas elas os vossos sócios demonstraram, pela sua concorrência, que lhes não eram indiferentes os males desta Ilha. Na vossa ausência também foi esta Direção cuidadosa de solicitar, por tanto quantos meios estavam ao seu alcance, a solução das desejadas providências. Infelizmente tanto esforços generosos numa justa causa, em cujo séquito caminha a miséria, sobranceira a numerosíssimas famílias – desgraçadamente aqueles esforços pouco conseguiram, alargando o nosso inimigo suas conquistas por um largo circulo.
O Governo do Estado, apesar de múltiplas súplicas, pouco deliberou a nosso favor no passado ano.
Há pouco dias promulgou-se uma lei para a cobrança de um imposto aplicado à perseguição deste inseto, no ano próximo futuro. Ignorando as instruções que acompanharam aquela Carta de Lei, não podemos dizer-vos se a julgamos ou não suficiente para a exterminação do mal. As nossas apreensões porém, já pelo teor da Lei, já pelo modo porque já foi apresentada no Congresso, são que ela dificilmente conseguirá o seu fim. Nem as providências propostas por esta Sociedade, nem as que aconselhava a Associação Comercial, foram, segundo nos parece, adotadas integralmente e daí vem que, perdida a unidade do Projeto, os efeitos da Lei devem ser muito deficientes.
Uma sociedade, com o fim de destruir aqueles insetos, que alguns dos vossos sócios quiseram fundar, em falta de melhor preservativo, não achou mais do que quatro aderentes, e por tal motivo senão levou a efeito.
Assim que, ficaram paralisados todos os meios de atenuar os efeitos daninhos daquele flagelo; os públicos, e os privados.
A ansiedade pública que geralmente se manifesta não nos parece íntima. Os que se julgam ainda salvos do dano choram fingidamente o mal alheio, não considerando que todos somos solitários e quinhoeiros da ruína que de dia para dia nos vai agredindo. Só assim se podem explicar os vivos queixumes de muitos proprietários acerca do mal que os oprime, e a concorrência de tão pequeno número, quando se trata de o afastar. O mal que nos aflige é sumo, mas cada um de nós procura evadir quanto possível do inevitável sacrifício de o desarreigar. Parece-nos que a outrem cumpre esta obrigação. Terrível engano! Em que nos andamos iludindo, e dançando na beira no precipício.
Enquanto este egoísmo privado não desaparecer, ou a Governação Suprema do Estado não puser em prática algum remédio heróico, tal como a gravidade da doença pede, ide vós conservando acesso o fogo, acidada a vigilância pública. Pouco é, mas se chagarmos a dormir acordaremos na penúria.
O Governo do Estado, apesar de múltiplas súplicas, pouco deliberou a nosso favor no passado ano.
Há pouco dias promulgou-se uma lei para a cobrança de um imposto aplicado à perseguição deste inseto, no ano próximo futuro. Ignorando as instruções que acompanharam aquela Carta de Lei, não podemos dizer-vos se a julgamos ou não suficiente para a exterminação do mal. As nossas apreensões porém, já pelo teor da Lei, já pelo modo porque já foi apresentada no Congresso, são que ela dificilmente conseguirá o seu fim. Nem as providências propostas por esta Sociedade, nem as que aconselhava a Associação Comercial, foram, segundo nos parece, adotadas integralmente e daí vem que, perdida a unidade do Projeto, os efeitos da Lei devem ser muito deficientes.
Uma sociedade, com o fim de destruir aqueles insetos, que alguns dos vossos sócios quiseram fundar, em falta de melhor preservativo, não achou mais do que quatro aderentes, e por tal motivo senão levou a efeito.
Assim que, ficaram paralisados todos os meios de atenuar os efeitos daninhos daquele flagelo; os públicos, e os privados.
A ansiedade pública que geralmente se manifesta não nos parece íntima. Os que se julgam ainda salvos do dano choram fingidamente o mal alheio, não considerando que todos somos solitários e quinhoeiros da ruína que de dia para dia nos vai agredindo. Só assim se podem explicar os vivos queixumes de muitos proprietários acerca do mal que os oprime, e a concorrência de tão pequeno número, quando se trata de o afastar. O mal que nos aflige é sumo, mas cada um de nós procura evadir quanto possível do inevitável sacrifício de o desarreigar. Parece-nos que a outrem cumpre esta obrigação. Terrível engano! Em que nos andamos iludindo, e dançando na beira no precipício.
Enquanto este egoísmo privado não desaparecer, ou a Governação Suprema do Estado não puser em prática algum remédio heróico, tal como a gravidade da doença pede, ide vós conservando acesso o fogo, acidada a vigilância pública. Pouco é, mas se chagarmos a dormir acordaremos na penúria.
Ficheiros
Colecção
Citação
S/autor, “Bicho das laranjeiras”. In O Agricultor Micaelense, vol. 1, nº 27, pp. 463-464. , 03-1850. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 30 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/108.