Agricultura
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Título
Agricultura
Criador
S/autor
Fonte
O Manuelinho de Évora, Ano III, nº 112, pp. 1-2.
Data
13-03-1883
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
(Continuado do nº 111)
Ao passo que o comércio francês, para conservar o seu giro interno e externo, tem ido buscar a todas as regiões vinícolas da Europa vinhos de todas as qualidades, e que a indústria inventou o fabrico de vinhos de passa e de açúcar em larguíssima escala, a agricultura propriamente vinícola, despertando do torpor causado por inauditas desgraças, tenta hoje recobrar, dentro dos limites do possível, as forças perdidas; planta vinhas por toda a parte, quer em areias, quer em terrenos tornados submersíveis, quer seguindo os conselhos dos americanistas, quer finalmente plantando bacelo nas próprias terras em que o filoxera não consente mais do que duas ou três colheitas.
Este último caso não é novo; é caminho nunca trilhado, que abona a iniciativa de que o inventou. Concluiremos o artigo falando dele.
Pode dizer-se que até hoje, salvo raras exceções, em todos os países em que se cultiva a vinha, tem ela sempre sido tratada com uma rara imprevidência, ou por meio de processos primitivos, que circunstâncias excecionais, até certo ponto, podem desculpar. A vinha é tratada diferentemente dos mais vegetais cultivados; pede-se-lhe muito, sem nada lhe restituir; isto por uma longa série de anos, até que por si se esgote.
Quem sabe se a intensidade do mal que agora está sofrendo não é devida em parte a esse desmazelo imperdoável!
Pois bem, a vinha, à semelhança do doente de quem pouco caso se fazia quando era indivíduo robusto, tornou-se agora alvo de carinho e de medicamentos confortantes no vale do Ródano. Mais ainda: estão na fazendo entrar no alinhamento geral com outros vegetais, em pequenas courelas separadas e cultivadas intensivamente.
O raciocínio que faz o pequeno proprietário é o seguinte: o filoxera leva quatro anos a dar cabo das vinhas completamente; se o vinhateiro plantar um quarto de hectare, ou 25 ares, admitindo que o filoxera apareça logo na primeira rebentação, o lavrador terá ainda três ou quatro anos diante de si, isto é, cultivando intensivamente e podando a vara ao segundo ano, poderá colher uva durante dois anos, que lhe pagará a plantação e os amanhos, e lhe fornecerá vinho para beber e umas sobras para vender.
A verdade é que, em vez dos extensos vinhedos de outrora, nessas regiões das mais açoutadas pelo flagelo, começa a ver-se por toda a parte disseminadas leiras de vinhas plantadas nos melhores terrenos «de modo que, diz Escoffier, se desaparecesse o terrível afídio, as vinhas do meio dia da França estariam reconstituídas». Citam-se proprietários que viram já por duas vezes desaparecerem-lhes as vinhas e, que não obstante, têm insistido na replantação. Nesse caso, prodigalizam adubos dos melhores, multiplicam os amanhos e, fazendo da vinha uma cultura periódica, exigem-lhe o máximo rendimento.
[…]
(Ciência para todos)
Ao passo que o comércio francês, para conservar o seu giro interno e externo, tem ido buscar a todas as regiões vinícolas da Europa vinhos de todas as qualidades, e que a indústria inventou o fabrico de vinhos de passa e de açúcar em larguíssima escala, a agricultura propriamente vinícola, despertando do torpor causado por inauditas desgraças, tenta hoje recobrar, dentro dos limites do possível, as forças perdidas; planta vinhas por toda a parte, quer em areias, quer em terrenos tornados submersíveis, quer seguindo os conselhos dos americanistas, quer finalmente plantando bacelo nas próprias terras em que o filoxera não consente mais do que duas ou três colheitas.
Este último caso não é novo; é caminho nunca trilhado, que abona a iniciativa de que o inventou. Concluiremos o artigo falando dele.
Pode dizer-se que até hoje, salvo raras exceções, em todos os países em que se cultiva a vinha, tem ela sempre sido tratada com uma rara imprevidência, ou por meio de processos primitivos, que circunstâncias excecionais, até certo ponto, podem desculpar. A vinha é tratada diferentemente dos mais vegetais cultivados; pede-se-lhe muito, sem nada lhe restituir; isto por uma longa série de anos, até que por si se esgote.
Quem sabe se a intensidade do mal que agora está sofrendo não é devida em parte a esse desmazelo imperdoável!
Pois bem, a vinha, à semelhança do doente de quem pouco caso se fazia quando era indivíduo robusto, tornou-se agora alvo de carinho e de medicamentos confortantes no vale do Ródano. Mais ainda: estão na fazendo entrar no alinhamento geral com outros vegetais, em pequenas courelas separadas e cultivadas intensivamente.
O raciocínio que faz o pequeno proprietário é o seguinte: o filoxera leva quatro anos a dar cabo das vinhas completamente; se o vinhateiro plantar um quarto de hectare, ou 25 ares, admitindo que o filoxera apareça logo na primeira rebentação, o lavrador terá ainda três ou quatro anos diante de si, isto é, cultivando intensivamente e podando a vara ao segundo ano, poderá colher uva durante dois anos, que lhe pagará a plantação e os amanhos, e lhe fornecerá vinho para beber e umas sobras para vender.
A verdade é que, em vez dos extensos vinhedos de outrora, nessas regiões das mais açoutadas pelo flagelo, começa a ver-se por toda a parte disseminadas leiras de vinhas plantadas nos melhores terrenos «de modo que, diz Escoffier, se desaparecesse o terrível afídio, as vinhas do meio dia da França estariam reconstituídas». Citam-se proprietários que viram já por duas vezes desaparecerem-lhes as vinhas e, que não obstante, têm insistido na replantação. Nesse caso, prodigalizam adubos dos melhores, multiplicam os amanhos e, fazendo da vinha uma cultura periódica, exigem-lhe o máximo rendimento.
[…]
(Ciência para todos)
Ficheiros
Colecção
Citação
S/autor, “Agricultura”. In O Manuelinho de Évora, Ano III, nº 112, pp. 1-2., 13-03-1883. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 27 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/1375.