Pragas nos Periódicos

O vinho e o sulfato de cobre

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Título

O vinho e o sulfato de cobre

Criador

S/autor

Fonte

O Manuelinho de Évora, Ano XIII, nº 647, p. 1.

Data

21-09-1893

Colaborador

Leonardo Aboim Pires

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Na Vinha Portuguesa tratou o sr. Almeida e Brito este assunto, a que o nosso colega Correio do Alentejo também se refere nos seguintes termos:
«De há muito que com insistência se pretende saber se o cobre contido na calda bordalesa, ou noutras quaisquer misturas e nos enxofres cúpricos pode prejudicar o vinho.»
O sr. Almeida e Brito, responde «não causar o menor prejuízo».
Consta-nos que em diferentes pontos do país, compradores há de vinhos que espalham aquele falso boato, que é de fácil e óbvia explicação se considerarmos que os indispensáveis tratamentos cúpricos contra o míldio podem ser de fácil especulação entre gente pouco instruída ou ignorante, chegando-se até a contra desastres, ocasionados a indivíduos que comeram uvas tratadas e a gados que se alimentaram com parras.
Estes falsos boatos são de uma tremenda propaganda, contra a qual é preciso protestar.
O povo ignaro presta-se sempre a acreditar o que é mau, embora se lhe apresente em formas e aparências incríveis.
E este injusto proceder pode fazer com que alguns viticultores no próximo ano não tratem, como devem, as suas vinhas, acarretando-lhes incalculáveis prejuízos que muito tenham de lamentar.
Afirma o sr. Almeida e Brito, com a experiência de mais de seis anos, e com a autoridade do seu muito saber e reconhecida competência, que não há o menor inconveniente em aplicar o sulfato de cobre ou quaisquer compostos cúpricos no tratamento das peronospóreas.
O sr. Millardet nas numerosas análises que fez em vinhas tratadas não encontrou mais de 95 miligramas por kilograma de olhas, 10 miligramas nos sarmentos, 17 miligramas nas uvas e 2 miligramas no mosto, por litro.
O sr. Ravizza, de Itália, encontrou também quantidades mínimas de cobre nas numerosas análises que fez.
Do que fica dito se reconhece que o cobre que as uvas levam para a vinificação é depositado no bagaço e nas borras, não causando o menor prejuízo a quem bebe o vinho, como tiveram ocasião de analisar os srs. Millardet e Crodas.
De todas as análises, até hoje feitas, por químicos distintos nunca se encontrou no vinho percentagem superior a meio miligrama por litro.
Quando o vinho tem depositado e depois é clarificado, apenas se notam traços de cobre.
Sendo as borras e os bagaços as partes que recebem maior quantidade de cobre, pergunta-se também se os animais seriam prejudicados comendo estes resíduos.
Diz ainda o sr. Almeida e Brito, que não, porque os carneiros alimentados com bagaços que continham 0,390 miligramas por litro, nada sofreram com isso, e igualmente carneiros alimentados em vinhas pulverizadas com a calda bordalesa, em alta dose, também não acusavam o menor sinal de sofrimento.

As quantidades de cobre ingeridas não são fixadas no organismo, são expelidas nos excrementos, como demonstram as experiências feitas em carneiros alimentados com pasto irrigado por dissoluções cúpricas de 1 a 3%.

Conclui o sr. Almeida e Brito por dizer que é completamente inocente, para a qualidade específica dos vinhos e para a saúde de quem os bebe, o cobre empregado nos tratamentos contra o míldio.

Ficheiros

Citação

S/autor, “O vinho e o sulfato de cobre”. In O Manuelinho de Évora, Ano XIII, nº 647, p. 1., 21-09-1893. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 29 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/1438.

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