Bicho das laranjeiras
Dublin Core
Título
Bicho das laranjeiras
Criador
s/autor
Fonte
O Agricultor Micaelense, vol. 1, nº 37, pp. 627-629
Data
01-1851
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
Abaixo transcrevemos uma carta do Reverendo Sr. Brandt, endereçada ao Reverendo Sr. João José do Amaral cujo assunto são alguns dos hábitos daquele pernicioso insetos e meios de o exterminar […]
Novembro 14 de 1850
Caro Amigo e Sr.
Por esta desempenho a palavra, que há poucos dias, lhe hei dado de remeter-lhe por escrito o resultado das minhas observações microscópicas sobre o inseto infecioso das Laranjeiras. – Primeiro que tudo porém lhe recomendo que tenha em vista o incluso desenho do mesmo inseto, tirando estando ele vivo.
[…] Na opinião dos que admitiam as produções espontâneas seria este inseto gerado pelas mesmas leis da natureza, que dão a existência a todo o vivente animal.
Segundo esta opinião, os insetos, e animalejos, seriam produzidos pela ação dos raios do sol, nas matérias vegetais pútridas, e fluidos estagnados. Cada planta doente é procriadora do seu peculiar inseto, produzindo também as águas estagnadas uma infinita variedade de animalejos, segundo a variedade da matéria vegetal nelas incorporadas.
Seja porém como for, haja ou não espontaneidade na produção, o certo é que vimos, há poucos anos, em um considerável distrito de Inglaterra infetadas da ferrugem, ou alforra, ou mangra denominada Egipcíaca, todas as macieiras. Por muitos anos tem as mesmas causas destruído as batatas na Irlanda. Pelas mesmas, e também pelo Coccus, vemos arruinados os laranjais dos Açores. As duas primeiras pestes desapareceram: quando à terceira, nenhuma dúvida se me oferece em afirmar que, em dois ou três anos, hão de as nossas laranjeiras, que ao presente laboram debaixo desta pestilencial doença, tornará sua antiga saúde, e vezeira fertilidade.
Um rigoroso inverno, abundante de chuvas e ventos, de combinação com os esforços da Sociedade Agrícola Micaelense, restituirá, sem ser necessário cortar, nem arrancar tão pouco, os laranjais à costumada beleza.
Sabido é que a falta de limpeza no sistema animal se geram insetos. E se o sistema animal não for nutrido com sustento sadio, a consequência serão doenças cutâneas. No sistema vegetal sucede o mesmo. Neste respeito são o animal, e a planta uma mesma coisa […]
Poder-se-á perguntar, ou objetar: E porque razão em 200 ou 300 anos da existência de laranjais nos Açores não apareceram estas doenças?
Semelhantemente perguntaremos também nós: e porque razão não apareceram no século XVII nas maceiras a mangra, a alforra na batata, a ferrugem no trigo, ou a cholera morbus, ou outras doenças epidémicas?
De várias causas podem originar-se doenças nas laranjeiras, entrando no número daquelas os decotes dos ramos, os rompimentos da casca, etc. Ora, os insetos podem ser produzidos espontaneamente, ou como quer que seja, na seiva, ou no humor viciado que escorre da casca ferida, ou esmagada. […]
Para destruir toda a casta de insetos, que lhes infestam as plantas, usam invariavelmente os pomareiros de Inglaterra do pó de cal, método, de que me tenho servido eu mesmo com não pouco sucesso.
Reduz-se a pó a pedra de cal, aspergindo-a, ou regando-a com uma pouca de água. O que feito, mete-se em vasilha tapada, e capaz de preservá-la da humidade, a qual, doutra sorte, lhe roubaria a qualidade cuustica [sic]. Com ela se atira aos punhados à laranjeira na volta das dozes horas em dia sereno. Melhor será fazer esta operação nas árvores de menor grandeza para experiência. Dois ou três punhados por cada vez no intervalo de sete, ou oito dias serão suficientes.
Por esta operação ficarão destruídos, não só os insetos existentes antes de tocarem o completo crescimento, mas ainda as larvas que houveram aparecendo desde a precedente pulverização. […]
Novembro 14 de 1850
Caro Amigo e Sr.
Por esta desempenho a palavra, que há poucos dias, lhe hei dado de remeter-lhe por escrito o resultado das minhas observações microscópicas sobre o inseto infecioso das Laranjeiras. – Primeiro que tudo porém lhe recomendo que tenha em vista o incluso desenho do mesmo inseto, tirando estando ele vivo.
[…] Na opinião dos que admitiam as produções espontâneas seria este inseto gerado pelas mesmas leis da natureza, que dão a existência a todo o vivente animal.
Segundo esta opinião, os insetos, e animalejos, seriam produzidos pela ação dos raios do sol, nas matérias vegetais pútridas, e fluidos estagnados. Cada planta doente é procriadora do seu peculiar inseto, produzindo também as águas estagnadas uma infinita variedade de animalejos, segundo a variedade da matéria vegetal nelas incorporadas.
Seja porém como for, haja ou não espontaneidade na produção, o certo é que vimos, há poucos anos, em um considerável distrito de Inglaterra infetadas da ferrugem, ou alforra, ou mangra denominada Egipcíaca, todas as macieiras. Por muitos anos tem as mesmas causas destruído as batatas na Irlanda. Pelas mesmas, e também pelo Coccus, vemos arruinados os laranjais dos Açores. As duas primeiras pestes desapareceram: quando à terceira, nenhuma dúvida se me oferece em afirmar que, em dois ou três anos, hão de as nossas laranjeiras, que ao presente laboram debaixo desta pestilencial doença, tornará sua antiga saúde, e vezeira fertilidade.
Um rigoroso inverno, abundante de chuvas e ventos, de combinação com os esforços da Sociedade Agrícola Micaelense, restituirá, sem ser necessário cortar, nem arrancar tão pouco, os laranjais à costumada beleza.
Sabido é que a falta de limpeza no sistema animal se geram insetos. E se o sistema animal não for nutrido com sustento sadio, a consequência serão doenças cutâneas. No sistema vegetal sucede o mesmo. Neste respeito são o animal, e a planta uma mesma coisa […]
Poder-se-á perguntar, ou objetar: E porque razão em 200 ou 300 anos da existência de laranjais nos Açores não apareceram estas doenças?
Semelhantemente perguntaremos também nós: e porque razão não apareceram no século XVII nas maceiras a mangra, a alforra na batata, a ferrugem no trigo, ou a cholera morbus, ou outras doenças epidémicas?
De várias causas podem originar-se doenças nas laranjeiras, entrando no número daquelas os decotes dos ramos, os rompimentos da casca, etc. Ora, os insetos podem ser produzidos espontaneamente, ou como quer que seja, na seiva, ou no humor viciado que escorre da casca ferida, ou esmagada. […]
Para destruir toda a casta de insetos, que lhes infestam as plantas, usam invariavelmente os pomareiros de Inglaterra do pó de cal, método, de que me tenho servido eu mesmo com não pouco sucesso.
Reduz-se a pó a pedra de cal, aspergindo-a, ou regando-a com uma pouca de água. O que feito, mete-se em vasilha tapada, e capaz de preservá-la da humidade, a qual, doutra sorte, lhe roubaria a qualidade cuustica [sic]. Com ela se atira aos punhados à laranjeira na volta das dozes horas em dia sereno. Melhor será fazer esta operação nas árvores de menor grandeza para experiência. Dois ou três punhados por cada vez no intervalo de sete, ou oito dias serão suficientes.
Por esta operação ficarão destruídos, não só os insetos existentes antes de tocarem o completo crescimento, mas ainda as larvas que houveram aparecendo desde a precedente pulverização. […]
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Colecção
Citação
s/autor, “Bicho das laranjeiras”. In O Agricultor Micaelense, vol. 1, nº 37, pp. 627-629, 01-1851. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 26 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/150.