CRISE ALIMENTÍCIA

CRISE ALIMENTÍCIA

S/autor

O Vimaranense, I Ano, nº 32, p. 1.

13-08-1862

Leonardo Aboim Pires

O preço a que tem subido os cereais, especialmente o milho, que é a principal produção agrícola desta província, e de que se fabrica o pão do povo, está causando graves apreensões no público, e pode ser origem de mais serias consequências, se os que estão à testa da governação pública não tratarem de providenciar imediatamente sobre um assunto tão momentoso.
Por toda a parte do reino são gerais os clamores contra a carestia dos cereais, e as partes agrícolas dos diversos distritos são concordes em que a colheita dos trigos e centeio foi escassa, e a do milho promete ser má pela irregularidade das estações.
O sol ardente dos últimos dias de Julho, danificou completamente a produção nas terras secas, que não tem seiva necessária para a produção, e as noites frias, que se seguiram danificou-a nos terrenos húmidos, de maneira que estas variantes da atmosfera, fazem crer uma colheita muito medíocre, e por conseguinte, a elevação sempre crescente dos preços. Além disto os vermes que atacarem os campos de Coimbra e Aveiro, e que destruíram a maior parte da produção daqueles distritos, virem ainda dar pior aspeto à crise, que se avizinha, muito principalmente se continuar essa exportação que há meses se faz do Minho para a Galiza e províncias do sul de Espanha onde se faz sentir a mesma escassez; e que deu lugar a que os nosso celeiros estejam completamente exauridos.
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