CRÓNICA AGRÍCOLA
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Título
CRÓNICA AGRÍCOLA
Criador
S. R. Lima
Fonte
O Vimaranense, I Ano, nº 41, p. 4.
Data
19-09-1862
Colaborador
Leonardo Aboim Pires
Text Item Type Metadata
Text
Da crónica agrícola do «Arquivo Rural», de 5 do corrente, escrita pelo distinto veterinário o sr. S. R. Lima, fazemos os seguintes extratos:
[…]
O «Journal d’agriculture progressive» dá conta e louva muito a medida tomada no Arredondamento de Montenedy pela administração florestal, constando em declarar defesas as matas no tempo da nidificação, com o fim de favorecer a criação dos pássaros e outras aves, cuja utilidade é hoje altamente apregoada como predadores e destruidores da praga de insetos, que invade e devasta não só as árvores florestais, senão também as dos vergéis e piormente as mais importantes culturas arvenses.
Entre nós há anos a esta parte não cessam os clamores sobre semelhantes devastações. – A lagarta [qual lagarta?] devora as mais esperançosas searas de milho e trigo. – O pulgão e sua respetiva lagarta compromete a boa produção das vinhas. – A rosca branca ou pão de galinha (larva do besouro ou escaravelho) obriga, como temos visto, a relançar todos os anos as melhores baceladas dos arneiros e praias do sul do Tejo. – Já não falamos dos castanheiros, olmeiros, pinheiros, etc., vítimas muitos de semelhantes praga porque à força de ser habitual trouxe-nos a indiferença e essa pecaminosa resignação que entesta com a estúpida habituação a que somos são atreitos.
Ora o remédio que hoje se propõe e todos os inteligentes na matéria acordam ser o mais fácil e eficaz para atalhar as progressivas devastações de todas estas pragas, é bem simples: não dar caça às aves e outros animais insectívoros, antes proteger a sua multiplicação.
O contrário disto é o que está ordenando por lei, postura, costume ou quer que seja, que impõe a obrigação sob pena de multa a cada fogo rural de apresentar umas tantas ou quantas cabeças de pardais e outros pássaros reputados daninhos às searas de trigo.
Deve-se acabar com tal costumeira ou lei, se lei for, porque a título de acudir a um mal menor arriscamo-nos a sofrer um mal maior; pois, se os pardais esbagoam mais do que comem algumas espigas de trigo, devoram em compensação imensidade de borboletas de onde saem as miríades de lagartas que devastam messes inteiras. –
Desenganemo-nos, que se não há trigo e milho nas eiras não é por culpa dos pardais, pode ser antes por falta de pardais.
Por isso é que nós desejamos que o que se praticou no Arredondamento de Montenedy e se vai praticando noutros pontos de França, venha praticar-se também no nosso país.
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O «Journal d’agriculture progressive» dá conta e louva muito a medida tomada no Arredondamento de Montenedy pela administração florestal, constando em declarar defesas as matas no tempo da nidificação, com o fim de favorecer a criação dos pássaros e outras aves, cuja utilidade é hoje altamente apregoada como predadores e destruidores da praga de insetos, que invade e devasta não só as árvores florestais, senão também as dos vergéis e piormente as mais importantes culturas arvenses.
Entre nós há anos a esta parte não cessam os clamores sobre semelhantes devastações. – A lagarta [qual lagarta?] devora as mais esperançosas searas de milho e trigo. – O pulgão e sua respetiva lagarta compromete a boa produção das vinhas. – A rosca branca ou pão de galinha (larva do besouro ou escaravelho) obriga, como temos visto, a relançar todos os anos as melhores baceladas dos arneiros e praias do sul do Tejo. – Já não falamos dos castanheiros, olmeiros, pinheiros, etc., vítimas muitos de semelhantes praga porque à força de ser habitual trouxe-nos a indiferença e essa pecaminosa resignação que entesta com a estúpida habituação a que somos são atreitos.
Ora o remédio que hoje se propõe e todos os inteligentes na matéria acordam ser o mais fácil e eficaz para atalhar as progressivas devastações de todas estas pragas, é bem simples: não dar caça às aves e outros animais insectívoros, antes proteger a sua multiplicação.
O contrário disto é o que está ordenando por lei, postura, costume ou quer que seja, que impõe a obrigação sob pena de multa a cada fogo rural de apresentar umas tantas ou quantas cabeças de pardais e outros pássaros reputados daninhos às searas de trigo.
Deve-se acabar com tal costumeira ou lei, se lei for, porque a título de acudir a um mal menor arriscamo-nos a sofrer um mal maior; pois, se os pardais esbagoam mais do que comem algumas espigas de trigo, devoram em compensação imensidade de borboletas de onde saem as miríades de lagartas que devastam messes inteiras. –
Desenganemo-nos, que se não há trigo e milho nas eiras não é por culpa dos pardais, pode ser antes por falta de pardais.
Por isso é que nós desejamos que o que se praticou no Arredondamento de Montenedy e se vai praticando noutros pontos de França, venha praticar-se também no nosso país.
[…]
Ficheiros
Colecção
Citação
S. R. Lima, “CRÓNICA AGRÍCOLA”. In O Vimaranense, I Ano, nº 41, p. 4., 19-09-1862. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 26 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/1545.