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O Agricultor Micaelense, vol. 1, nº 24, pp. 417-420.

12-1849

Leonardo Aboim Pires

Ainda uma vez mais o bicho das laranjeiras! E prouvera Deus que esta fosse a derradeira ocasião em que nos cumprisse falar em assunto de si tão desagradável e penoso, e já fastiento pela instancia que dele nos temos ocupado, desde que este Jornal existe.
Mas poderíamos esquivar-nos a este difícil encargo, professando advogar os direitos e os interesses agrícolas?
Se alguma estima podem merecer do público os nossos mesquinhos, mas constantes esforços na prossecução do fim a que nos dedicámos, não os baldaríamos todas, desamparando agora, quando mais entranhado vai o mal, uma causa que é digna de todas as simpatias? […]
Noutra parte deste Jornal publicamos hoje uma Portaria do Ministério do Reino, em resposta a uma representação que a Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense lhe endereçara em 20 de Setembro passado, inserta no nosso nº 22, tendente a alcançar providências para a perseguição do inseto perseguidor das Laranjeiras, e a conseguir a proteção do Governo no ensaio da Cultura do tabaco. […]
O mal estende-se e ganha terreno, os meios já mesquinhos, de o debelar, reduzem-se à metade. O resultado não pode ser senão outro que a paralisação dos trabalhos, e o aumento impune do flagelo que nos persegue. […] representou a benemérita Comissão, como convinha, ao Governo a urgência de outra vez se adotarem medidas legislativas contra o mal, que não obstante uma perseguição incessante, se havia espraiado de ano para ano. Indicava também os embaraços que o método adotado e seguindo ia encontrando à proporção que o círculo de contaminação era maior; e pronunciava-se para que fosse transferido da Laranja para a Cal importada o tributo necessário para fazer face às despesas. […]
A Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense julgou insuficiente para o futuro, o modo ensaiado nos três anos anteriores, pela impossibilidade que haveria de operar nas diversas e multiplicadas localidades já então agredidas do mal, com prontidão e desvelo que ele requer […]
A Sociedade d’Agricultura porém reconhecendo a impraticabilidade do método até seguido, procurou achar-se outros meios que sendo profícuos, aumentassem também de alcance, na mesma proporção que o incremento do mal.
Assentando como impraticável que a Autoridade pudesse atender a todos os pomares infecionados, feitas as despesas à custa de um tributo geral, com aquele eficacidade e ligeireza que a experiência mostrava indispensável. […]
O princípio essencial desta proposta é portanto a obrigação imposta ao proprietário de perseguir a expensas suas os insetos que infecionarem os seus pomares […] Outra concessão indispensável para a rápida perseguição do inseto, era a de tratados in continenti pela respetiva autoridade, os pomares do retinentes, cobrada depois administrativamente a importância da despesa efetuada. […] Consta-nos, que a Comissão e as Autoridades respetivas reconhecendo estas verdades, hão dado os devidos passos para se remediarem os deploráveis efeitos da Lei. […]