Murtede, 19 de Agosto.
Dublin Core
Título
Murtede, 19 de Agosto.
Criador
S/ autor
Fonte
O Jornal de Cantanhede, n.º 62, pág. 3, col. 1,2
Data
23-08-1890
Colaborador
Pedro Barros
Text Item Type Metadata
Text
Continua demasiadamente a mania da emigração para o Brasil o que dá azo a que se vá ensombrando cada vez mais o abominável quadro da nossa triste situação.
Estamos sem vinhos, porque a filoxera sorrateiramente os vai absorvendo ao lavrador, e daqui a mais ficaremos sem pão se o actual estado de coisas assim continuar, pois vão faltando consideravelmente os braços para o seu cultivo. Não obstante isto os respectivos agentes, por isso que muitos têm acumulado grandes riquezas à custa da emigração, tratam de a facultar progressivamente, elevando-se já a 101 o número de emigrantes Murtedenses, que, desde Janeiro último até hoje, embarcaram em Lisboa em direcção aos portos da América Sul.
E indubitável que o Brasil já foi bom, mas hoje, porém, raro é aquele que, chegando à sua terra natal, consegue usufruir alguma fortuna.
Vão para lá, é verdade, a título de melhorarem as suas precárias circunstâncias, mas como lhes exista sempre na imaginação a ideia de enviar aos seus algum vintém, sujeitam-se a passar horrorosas privações, e muitos por lá morrem à míngua sem terem pessoa alguma, da família que lhes veja exalar o último Suspiro. No número dos emigrantes desta freguesia acima exposto contamos 3 famílias completas, entre cujos filhos se encontravam algumas criancitas com apenas meses de idade. Em presença de tudo isto achava-mos muito mais lisonjeiro que os ditos agentes, que tão patrióticos se têm proclamado, aconselhassem antes os povos a irem para as nossas colonias da África, melhorando assim de interesses e de clima; pois com quanto se ausentassem do ninho paterno, ao menos restava-lhes a consolação de irem povoar as terras a tanto custo adquiridas pelos antigos heróis da nossa pátria. Do mal, o menos; se aconselhando os povos não alcançamos o eles deixarem-se de afastar da terra que os viu nascer, ao menos devemo-nos esforçar por conseguirmos o irem habitar as nossas colónias. Vai nisto o interesse de todos os portugueses, nisto consiste o verdadeiro patriotismo.
Estamos sem vinhos, porque a filoxera sorrateiramente os vai absorvendo ao lavrador, e daqui a mais ficaremos sem pão se o actual estado de coisas assim continuar, pois vão faltando consideravelmente os braços para o seu cultivo. Não obstante isto os respectivos agentes, por isso que muitos têm acumulado grandes riquezas à custa da emigração, tratam de a facultar progressivamente, elevando-se já a 101 o número de emigrantes Murtedenses, que, desde Janeiro último até hoje, embarcaram em Lisboa em direcção aos portos da América Sul.
E indubitável que o Brasil já foi bom, mas hoje, porém, raro é aquele que, chegando à sua terra natal, consegue usufruir alguma fortuna.
Vão para lá, é verdade, a título de melhorarem as suas precárias circunstâncias, mas como lhes exista sempre na imaginação a ideia de enviar aos seus algum vintém, sujeitam-se a passar horrorosas privações, e muitos por lá morrem à míngua sem terem pessoa alguma, da família que lhes veja exalar o último Suspiro. No número dos emigrantes desta freguesia acima exposto contamos 3 famílias completas, entre cujos filhos se encontravam algumas criancitas com apenas meses de idade. Em presença de tudo isto achava-mos muito mais lisonjeiro que os ditos agentes, que tão patrióticos se têm proclamado, aconselhassem antes os povos a irem para as nossas colonias da África, melhorando assim de interesses e de clima; pois com quanto se ausentassem do ninho paterno, ao menos restava-lhes a consolação de irem povoar as terras a tanto custo adquiridas pelos antigos heróis da nossa pátria. Do mal, o menos; se aconselhando os povos não alcançamos o eles deixarem-se de afastar da terra que os viu nascer, ao menos devemo-nos esforçar por conseguirmos o irem habitar as nossas colónias. Vai nisto o interesse de todos os portugueses, nisto consiste o verdadeiro patriotismo.
Ficheiros
Colecção
Citação
S/ autor, “Murtede, 19 de Agosto.”. In O Jornal de Cantanhede, n.º 62, pág. 3, col. 1,2 , 23-08-1890 . Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 27 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/307.