Pragas nos Periódicos

A crise vinícola . O QUE NOS ESPERA

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Título

A crise vinícola . O QUE NOS ESPERA

Criador

A. de V

Fonte

O Jornal de Cantanhede, n.º 714, pág. 1, col. 4 pág. 2, col. 1,2

Data

21-02-1903

Colaborador

Pedro Barros

Text Item Type Metadata

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À meditação dos beneméritos que se têm oposto à restrição do plantio, dos que ainda esperam melhores tempos pela conquista de novos mercados, como se a concorrência não nos estivesse já assoberbando nos outros; dos que devaneiam viticultura no remanso do gabinete — totalmente desinteressados no assunto; — dos poderes públicos, que se têm regalado de caçoar com a tropa (para este caso a — tropa — são os viticultores); e há destes, que pela inacção parece que descendem em linha recta dos sete dormentes, submetemos os trechos seguintes extractados da conferência que Mr. Viala, o sábio professor de viticultura, fez na sede da Société Régionale de Viticulture de Lyon. Diz o ilustre homem de ciência e grande viticultor, de que, a autoridade é indiscutível e indiscutida: «foi então (durante a crise filoxérica) que se criaram estas vinhas da América do Sul, no Chile onde a produção é de cerca de 5.000.000 de hectolitros, cifra superior ao consumo local. (…)
(…) «Há ainda um país que alarga incessantemente as suas vinhas: é a Rússia,»
«As plantações no Cáucaso, na Crimeia, na Bessarábia e no Turquestão, de dia para dia adquirem maior importância.»
«A Austrália que em 1897 produzia 100.000 hectolitros, quatro anos depois tinha elevado a produção a 400.000; o Cabo, outra colónia inglesa, tem trazido ao mercado um contingente de 300.000 hectolitros extensível no futuro.»
«A Turquia e a Grécia, que só produziam uvas secas para consumo em consequência da crise filoxérica, alargaram as suas plantações. As uvas secas não podem entrar em França para serem vinificadas, mas os turcos e os gregos transformaram as suas vinhas para a produção directa do vinho.»
«Devemos reconhecer que os países de que acabo de indicar o nascimento vinícola, são regiões nas quais a cultura da vinha pode alargar-se por uma área imensa; é incontestável que pouco a pouco conseguirão trazer ao mercado do mundo quantidades enormes de vinho e fazer uma concorrência temível aos produtos similares daqueles que eles hão-de produzir, aos vinhos de consumo corrente.»
«O excesso de produção como em 1900-1901, reproduzir-se-á e nós seremos novamente encurralados na mesma situação inelutável, se não procurarmos orientar-nos noutro sentido.» O futuro parece-me sombrio, e creio que se não tomamos a deliberação de nos encaminharmos para outro fim, veremos pouco a pouco em muitas regiões vinícolas da França, produtoras de vinhos comuns, a cultura do vinho perder a sua importância e talvez desaparecer.»
Com a sua extraordinária autoridade e com a sinceridade de verdadeiro patriota que fala ao seu país, Mr. Viala mostra aos seus conterrâneos, como já o haviam feito Prerget. Tallavignes, Ch. Gide e outros, o perigo que vê iminente, indicando-lhes, porém, uma solução de que o maior número não pode aproveitar-se. O ilustre professor diz-lhes:
«É digna de reparo a extensão, aliás justificada, que adquire de ano para ano o consumo dos grandes vinhos do Porto e mesmo do Porto ordinário, na Inglaterra, na Bélgica, nos países do norte da Europa e mesmo em Paris. É o grande vinho da moda, dos “five ó clock”, como vo-lo dizia há pouco, e actualmente todas as grandes mesas timbram em servir Porto.» Depois indica as plantas que produzem o Porto autêntico, como já indicara o solo e o clima que lhes convém — que o ilustre professor estudou durante a sua excursão de Setembro — e aconselha os viticultores franceses que, onde lhes seja possível, procurar imitar esse vinho precioso, que ele considera inimitável.(…)
A. de V. (Do Popular)

Ficheiros

Citação

A. de V, “A crise vinícola . O QUE NOS ESPERA ”. In O Jornal de Cantanhede, n.º 714, pág. 1, col. 4 pág. 2, col. 1,2 , 21-02-1903. Disponibilizado por: Pragas nos Periódicos, acedido 30 de Novembro de 2024, http://fcsh.unl.pt/pragasnosperiodicos/items/show/513.

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